31.1.11

Smile and the World smiles with you










Broken Blossoms, 1919. Dedicado ao . Raio do moço é difícil de seguir, sempre a apagar blogs e a criar outros novos!

30.1.11

Filmes (e concertos): O Lírio Quebrado

O Lírio Quebrado (Broken Blossoms or The Yellow Man and the Girl, no original) é um filme mudo de 1919 que narra a história de 3 vidas que se cruzam fatalmente:o Asiático que se muda para o Ocidente a fim de ensinar os modos Budistas aos selvagens e apenas para constatar que a civilização Ocidental está para além da salvação, o Pugilista alcoólico e racista, e a sua filha, frágil, submissa e constantemente abusada fisicamente pelo mesmo. Após um espancamento particularmente violento, a rapariga foge de casa, e entra inadvertidamente na vida do Asiático. Um romance inocente nasce deste encontro, mas tolerará o violento pugilista a entrada de um Oriental para a sua família? Um filme com uma qualidade cénica que prova que o bom cinema não tem idade.



O Lírio Quebrado, belíssimo e envolvente, passou em 4 salas de cinema de quatro pontos do País (Coimbra, Leiria, Torres Novas e Torres Vedras), e se a oportunidade de ver uma obra com perto de 100 anos num ecrã gigante não fosse suficientemente cativante, o facto de a mesma ser musicada ao vivo pelo colectivo ARTANE torna o seu visionamento num evento por si só.

Os filmes mudos, na sua época áurea, nunca foram totalmente silenciosos, sempre existiu uma banda animando as cenas, um sonoplasta habilidoso que dava outra dimensão aos gestos silenciosos dos actores. Foi essa experiência que se procurou recriar, por intermédio de teclados, maquinarias e um violoncelo. O colectivo de Santa Maria da Feira criou uma tapeçaria sonora industrial que, apesar da estranheza inicial que causa no espectador, garante ao Lírio Quebrado uma intensidade absorvente, sublinhando o dramatismo nas cenas-chave e tornando a experiência memorável. Estive presente na sessão de Torres Vedras e creio que o maior elogio que posso fazer à prestação dos ARTANE é que muitas vezes dei por mim tão absorvido no filme e som que me esqueci que tudo o que ouvia era feito em directo.

Os meus sinceros parabéns à Associação de Acção Cultural FADE IN pela criação do evento. Venham mais!

27.1.11

Concertos: Joanna Newsom @ CCB

(Foto roubada à Rita Carmo)


No passado dia 26, o centro Cultural de Belém foi a derradeira casa de uma fada mágica que deambulou pelo Porto e Aveiro antes de espalhar o seu pó mágico por Lisboa. Joanna Newsom, resistente daquilo que em tempos se convencionou chamar Freak-Folk, agora artista para gente erudita de bem, desde sempre um monstro de talento!

Foi a minha primeira vez no Grande Auditório do CCB. Gostei do espaço, uma construção robusta tal como o restante edifício, que há-de durar mais que Portugal e um dia servirá de recreio para os peixinhos quando os níveis do Tejo cobrirem a baixa de Lisboa num futuro que se quer longínquo. Lá dentro, muita gente que parecia ter ficado ali a dormir desde o discurso de vitória presidencial de Cavaco Silva (mas que tiveram tempo para manter a sua farpela imaculada), alguns friques semi-disfarçados, uma fatia simpática de senhoras de idade avançada que claramente não sabiam ao que vinham (o CCB tem uma tarifa sénior muito vantajosa para quem pode dela usufruir), e eu com o meu amigo das aventuras a solo, que por pouco não foi para o Centro Cultural de Belém de fato de treino. Atrás de mim, um mentecapto concerteiro (em todos os concertos há um, e está invariavelmente sentado perto de mim), que volta e meia fazia comentários "engraçados" para impressionar a sua acompanhante, recém-namorada ou prestes-a-sê-lo. O que me leva a crer que nesta vida só não se safa quem não quer.

A abrir o concerto esteve o baladeiro Escocês Alasdair Roberts, notoriamente desconhecido para a maioria do público. Sozinho, com a cortina do palco fechada atrás de si, e munido da sua guitarra acústica, Alasdair desfilou algumas das suas cantigas mais recentes, regressando ao passado apenas em 'Waxwing', um tema do seu disco mais reconhecido (pelo menos para mim), The Amber Gatherers. Simpático, fez o que pode para cativar o público, que se mostrou um pouco indiferente, excepção feita a 'The Whole House Was Singing', onde finalmente conseguiu arrancar da audiência um coro tímido, porém ternurento. Gostei do Alasdair, a sua voz traz-me à memória os hobbits do Shire, o bucolismo campestre, a ideia romântica da Escócia verde tradicional.

Meia hora de espera depois do final de Alasdair, heis-que entra Joanna Newson, correndo palco adentro. Delicada, acenando, toda ela sorrisos, agarra-se à harpa e inicia o concerto sozinha em palco, com '81'. E todo o público ganha repentinamente estrelinhas nos olhos, e muitas bocas ficam por fechar, e o concerto está ganho. Impressiona a destreza na harpa, instrumento imponente e maquiavélico de dominar. Impressiona também a voz de Joanna, menos estranha que nos tempos iniciais, igualmente forte. Esta rapariga claramente pode fazer o que quiser com as suas cordas vocais, e é ao vivo que se tem a real percepção disso. Segue-se 'Have One On Me', já com a banda de multi-instrumentistas multi-talentosos. Joanna, sempre simpática, saltita de nuvem em nuvem entre a harpa e o piano. Regressa-se ao passado com a complexa 'Cosmia', a divertida 'Inflamatory Wrist' e a épica 'Emily', mas o prato forte do concerto é o triplo Have One on Me, galardoado como melhor disco de 2010 para várias publicações da especialidade. 'Easy', 'Soft as Chalk', 'No Provenance' e 'Good Intentions Paving Company', esta última com um soberbo solo de trombone, coloriram a noite. Para o final, uma surpresa: a minha canção preferida de todas as minhas canções preferidas de Joanna Newsom, que tem ficado de fora do alinhamento dos concertos mais recentes, 'Clam, Crab, Cockle, Cowrie'. Esta foi mesmo só para mim!

O público foi extremamente respeitador durante todo o concerto, poucos se aventuraram com palminhas. Joanna não deve estar muito habituada a tanto respeito, e bem que, entre canções, foi tentando espicaçar a audiência, que reagiu por fim quando a artista se "enganou" (propositadamente, como mais tarde se viu) e soltou um "muy obrigado", levando a um coro de correcções. "Tuy obrigado? Puy obrigado?", brincava ela enquanto alguns berravam "MUITO"!


Ovação de pé, encore com Baby Birch, nova ovação de pé, satisfação geral. O meu primeiro concerto de 2011 não podia ter sido melhor escolhido.

6.1.11

A corrida para capa do ano já arrancou!

Numa entrevista de 3 páginas para a Flash, o marchand favorito dos Portugueses fala dos seus planos para o futuro. Quando questionado sobre a sua vida após o eventual falecimento da sua querida Betty, José respondeu, ao lado de sua esposa:

"Além de todo o sofrimento que vou ter, e em que nem quero pensar, a forma que tenho de tentar superar é entrar para um convento. Irei para um convento e irei, na realidade, castrar-me. Não me estou a ver num convento de frades. Penso criar uma nova congregação de pessoas convertidas. Vejo-me, numa nova ordem, com a aprovação do Papa, e terei de lutar por isso."



Estamos em Janeiro e eu por mim fechava já a competição para capa do ano! As outras revistas da especialidade vão ter de suar para suplantar esta capa. Quando à notícia, o Zézito se calhar vai ter de cortar o piupiu lá fora, já que o nosso Presidente vetou hoje um documento que simplificaria a mudança de sexo. Mas desejo toda a sorte do Mundo à freira José e seu convento de travecas.

"O meu filho vai ter de conviver com um pai, que foi pai, e depois virou freira."

Feliz dia de Reis, pessoal!