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20.4.07

Tascas: Feio

No capítulo da venda de comida em roulottes, várias são as que fizeram história. O omnipresente "Psicológico" já foi responsável por centenas de casos de intoxicação alimentar, e a qualidade extrema dos pães com chouriço servidos no Setubalense "Furgão" é já lendária. O acto de "fazer a cama ao estômago" é um automatismo do late-night Português.

Em Leiria, a roulotte que mais se destaca sobre a concorrência dá pela designação de Feio. Num genial golpe de marketing, o proprietário resolveu transformar as suas fraquezas em forças, utilizando o facto de ser um indivíduo nada favorecido pelos padrões actuais da beleza para projectar o seu negócio. Para além desse factor, a qualidade, quantidade e variedade dos seus produtos (nomeadamente a picanha e a bifana grelhada) garantem a estes senhor quantidades avultadas de clientes noite após noite.

Iluminado, este génio da carne com pão lançou recentemente um novo e inovador serviço, tornando-se sem sombra de dúvida no maior Rei da Bifana que a cidade do Liz alguma vez teve!

Quem frequenta roulottes de bifanas às 4 da manhã sabe bem o que custa arrastar-se até casa com um belo naco de carne, pão e molhos sortidos alojados no estômago, especialmente depois de uma noite intensiva de bebidas de teor alcoólico elevado. Não poucas vezes, o bolo alimentar acaba espalmado no passeio, inglórios 5 euros mal gastos para serem regurgitados sem apelo nem agravo.

Atento às necessidades do jovem frequentador de vida nocturna e do estudante que queima as pestanas a jogar Battlefield e Medal of Honor estudar até às tantas, o Feio resolveu criar um novo e revolucionário serviço: o TELEFEIO!!!!!!!!


O flyer está rasurado e sujo de ketchup. Foi o que se pode arranjar.

Exactamente, o Telefeio! A bifana personalizada, sem custos adicionais, entregue ao domicílio em 20 minutos e com os molhos colocados à vista do cliente! Se temos a comida chinesa e a pizza entregue em casa, porque não também a bela da lusitana bifana? Feio, sério candidato a empresário do ano! Quem não gostaria de ter uma telebifana na sua cidade/vila/aldeia/lugar?

31.10.06

Tascas: Calotas

Como Portugueses, três aspectos nos distinguem das demais nações. O primeiro aspecto é a eterna melancolia na qual estamos envolvidos. O fado, a saudade, o saudosismo... Não há por esse mundo fora outro povo que se entregue com alma e coração a estes sentimentos, que os abrace e guarde com tanta ternura como nós. O Segundo, a nossa história. Existimos oficialmente como nação desde 1143, apesar de o nosso território ter sido alvo de imensas conquistas e reconquistas desde há pelo menos 5000 anos. A nossa história é forte, é inegável, é nossa! O Terceiro, a variedade, complexidade e uso abusivo de palavras aumentadas sinteticamente utilizando o sufixo "ões". Palavrões, portanto.

Em Faro, estes 3 aspectos reúnem-se em harmonia no café Bombordo. Situado bem no centro do núcleo histórico da capital algarvia, a Vila Adentro, perto da estátua de D. Afonso III, o rei que tomou o Algarve aos mouros, o Bombordo resiste ao avanço galopante do turismo que invade o sotavento algarvio esgotados que estão os recursos do barlavento. Uma réstia de Portugalidade e tipicidade, lutando ingloriamente contra o seu destino...

Uma esplanada com mesas e cadeiras de plástico, espaço fechado com 4 metros quadrados, especializado em Sagres, Super Bock e Carlsberg, o Bombordo, longe de ser uma taberna como outra qualquer, destaca-se das demais pelo atendimento e serviço prestado pelo seu proprietário, de tal modo que o café em si é conhecido não pelo seu nome de baptismo mas sim por outro bem mais apropriado: o Calotas!




O Calotas é conhecido por tratar todos os seus clientes por igual, não olhando a raça, credo ou sexo. Não interessa se é o Zé das Couves ou o Pedro Miguel Ramos, o Calotas não faz distinção entre clientes. Dali, toda a gente sai insultada! TODA! Recordo aqui com alguma saudade a minha primeira experiência no Calotas, sem qualquer aviso prévio daquilo que me esperava:

- Quero uma cerveja...

- Vai buscar, caralho!

- Vou buscar? Como assim?

- És burro ou comes merda? Vai buscar a puta da cerveja à puta da arca, caralho!

Amor à primeira vista. A partir daí, todas as vezes que visitei o Bombordo, sou insultado de formas cada vez mais originais, o que me faz ter sempre vontade de voltar. Da última vez, o Calotas deu-me uma lição de civismo, misturando regras de etiqueta com ameaças à minha integridade física. Uma experiência extra-sensorial. O Bombordo está sempre cheio, mesmo em noites frias e chuvosas, o que me leva a crer que não seja o único a encarar os mimos distribuídos aleatoriamente pelo Senhor Calotas como elogios gratificantes! Ninguém sai dali magoado, e o próprio comportamento do proprietário é fomentado e encorajado pela sua clientela.

Encarem este post como um aviso ou um convite. "Mija no espaço, consome no espaço!"

30.7.06

Tascas: Vivmar

Amêijoas. Amo amêijoas! Amo-as a todas! Amêijoa de cão, amêijoa de gato, amêijoa boa, amêijoa pé de burro, amêijoólas, amêijoa macha, amêijoa turca. Grada. Média grada. Pequena não, que não gosto de criancinhas. De viveiro. Da ria. Do supermercado. Apanhada à mão. Apanhada de arrasto. Amêijoa crua com limão. Amêijoa cozida em água salgada. Amêijoa na cataplana. Se pudesse, casava-me com uma amêijoa. Depois comia-a e enviuvava. E assim passaria uma eternidade a chorar por mais.

O melhor sítio para comê-las em Portugal é uma pequena taberna em Faro, que também é simultaneamente a Associação dos Viveiristas e Mariscadores da Ria Formosa - Vivmar.



Situada no local onde em tempos funcionara a lota de Faro, a Vivmar é uma associação criada pelos viveiristas e mariscadores que ganham o pão para a boca nos canais e esteiros da Ria Formosa, com o propósito de defender os seus interesses económicos e profissionais, bem como a Ria em si, importante laguna escolhida como maternidade para muitos peixes do Atlântico e local de repouso para as aves migratórias que por ali passam.

A sua sede, o pequeno café situado perto do cais da Porta Nova, mesmo colado ao centro histórico de Faro, é um verdadeiro museu vivo, bem à portuguesa: os diversos apetrechos relacionados com a pesca e o marisqueio estão dispostos anarquicamente pelas paredes da tasca, com uma pequena legenda em cada um. Xalavares, covos, tapa-esteiros, murejonas, um sem número de artes de pesca prestes a serem engolidas pela inevitável expansão turística que transforma o Algarve num colónia inglesa solarenga. Mais importante, a presença dos verdadeiros mariscadores, com os seus tiques e historietas, atesta a singularidade e valor desta instituição.

Adoro os finais de tarde no Verão, quando depois de ter passado o dia inteiro a aturar turistas em vários idiomas, passo pela Vivmar para me deliciar com um prato de amêijoas e uma imperial enquanto o sol enfraquece. Não há nada melhor!

Para quem está a pensar visitar o Algarve nos próximos dias (ou seja, 90 % da população portuguesa), saiba que se encontra a decorrer neste preciso momento (e até dia 7 de Agosto) a XIII Festa da Ria Formosa, organizada precisamente pela Vivmar. Uma excelente oportunidade para atestar a qualidade das amêijoas, assim como o arroz de lingueirão, os camarões e lagostins, as ostras, as conquilhas, os tremoços (?), tudo bem regado com cerveja e vinho ao som da bela da música Pimba!



Uma maravilha de Portugalidade! Assim até dá gosto viver no Algarve!

Porra!!!!!!

26.6.06

Tascas: Piolho

O Piolho, mais que um café/tasca, é um símbolo da cidade do Porto, uma atracção tão forte como a Torre dos Clérigos ou a nova Casa da Música.

Aberto em 1909, o Âncora D'Ouro (nome oficial do Piolho) é um dos mais antigos cafés Portuenses. Notável local de conspirações no tempo do fascismo e ajuntamentos artísticos, foi com os estudantes universitários que este espaço ganhou a alcunha e notoriedade com que conta hoje. No Piolho encontram-se placas de mármore com inscrições dos que por aqui passavam mais tempo do que agarrados aos livros. Existe inclusivamente uma placa de "agradecimento" ao Piolho por parte de antigos estudantes que nunca acabaram o curso, perdendo-se na boémia daquele café.

O Piolho é um café e etc. Servem-se refeições rápidas e petiscos, mas também temos à disposição uma grande variedade de shots e bebidas brancas, e a cerveja bebe-se como água.

Muita da mística do Piolho consistia no seu ar degradado, algo que se perdeu com as recentes obras de recuperação. Mas há esperança. Como referiu o seu proprietário Edgar Gonçalves, "cabe agora às pessoas continuarem a vir cá degradá-lo". E as pessoas continuarão a ir. Desde o estudante ao senhor engenheiro, ao agarrado que crava cerveja e cigarros na esplanada, ao emigrante ilegal, ao turista de pé descalço, ao Tozé da papelaria, ao Anarquista Duval que entra pela tasca adentro gritando de peito aberto. O Piolho é de todos e para todos!



Deixo-vos com a citação de Carlos Magno, um dos responsáveis pelo Porto Capital da Cultura 2001:

Eu sou da geração do Piolho, o célebre Café- Ancoradouro, onde várias gerações passaram no tempo da faculdade. Ainda hoje, sou do grupo do “Piolho”. Posso-lhe dizer que a coisa com que mais me identifico no Porto é um degrau que existe na escada do Café Piolho. O ancoradouro fica dois degraus abaixo do nível do solo e tem- se um degrau logo à porta. Há ali uma coisa única: a gente chega, põe o pé num degrau e olha à volta para ver quem está no Piolho e depois ou entra ou sai. Aquela pedra, que é de granito, tem um buraco feito pelas solas dos sapatos. Eu gastei ali muita sola de sapato, a pisar aquele degrau, umas vezes a entrar outras a voltar para trás. Era o que eu chamava dar uma “oftálmica”. O melhor que o Porto tem é exactamente esse degrau da escada do Piolho. Várias gerações puseram ali o pé para espreitar; entraram ou saíram, mas a sola do sapato ficou ali marcada.

27.12.05

Tascas: Bora Bora

Local de peregrinação, taberna infecta, o café Bora Bora é o tema escolhido para a secção "Outros Cultos" deste mês.



Situado em Peniche, meio escondido nas típicas ruas do bairro de pescadores conhecido vulgarmente por "Peniche de Cima", o Bora Bora era um pequeno café igual a tantos outros, com cadeiras de plástico, matrecos, mesas de snooker e ping-pong, frequentada por senhores no ocaso da vida. Até que, já na segunda metade da década de 90, numa triste altura em que algumas das típicas tabernas fecharam na localidade, alguém (não se sabe bem quem) descobriu que nesta casa se fazia Droguinha, e bem barata por sinal! Subitamente, orfãos do Charlot, do Angola e do Manél das Escadinhas encontraram um novo lar em Peniche de Cima. E assim nasceu o culto à volta deste café.



Quem tenha visitado este estabelecimento no seu início e só agora tiver oportunidade de lá voltar, notará porventura uma diferença abismal. Os velhos continuam a frequentá-lo, claro, mas já não poderá encontrar o tecto de platex com restos de droguinha seca, as mesas de snooker e ping-pong, as inundações urinárias (mijar no caixote do lixo virou moda durante uns tempos) e as cadeiras de plástico... Agora a velha taberna é um café todo fino, com cadeirinhas bonitinhas, luzes com sensor de presença e televisão de ecrã gigante (com Tv Cabo e tudo)! Mas há algo que nunca se alterará: As bebedeiras de caixão à cova! Apesar da inflação nos preços, este continua a ser o local mais barato e aprazível para se sair em Peniche num Sábado à noite. Aprecio especialmente aquelas noites em que já são quase 4 da manhã e ainda lá está um grande grupo, munidos de violas de caixa e completamente perdidos no álcool, cantando e gritando a plenos pulmões enquanto o proprietário os tenta expulsar da tasca.



Recomendo então a bebida local, a supra-citada droguinha (não vou dizer em que consiste, mas posso adiantar que é vendida num jarro a dizer liter) e o traçado (vinho rosé com gasosa). Caso não alinhe muito com vinho, poderá sempre pedir um whiskey, cerveja de litro ou mesmo vodkas e shots! Há de tudo! Bom e barato! O Bora Bora não vem nas brochuras turísticas, portanto, na eventualidade de visitarem Peniche, perguntem a alguém entre os 18 e os 35!

16.6.05

Tascas: Tasca 7

Falando agora de outros tipos de cultos, gostaria de começar por falar um pouco de uma das melhores tascas de Leiria, que infelizmente vai caindo no esquecimento da população, a Tasca 7!



A Tasca 7, no meu tempo de estudante, era um antro onde Doutores e Semi-Doutores de capa e batina conviviam alegremente com trolhas e pedreiros com cimento seco agarrado às calças. Era um ambiente saudável e ameno, que descambava sempre em bebedeiras de caixão à cova!



Esta taberna, situada numa rua transversal entre a Praça Rodrigues Lobo e a Rua Direita, tem como nome original qualquer coisa como "O Retiro do Abade", mas é mais conhecida como Tasca 7 devido ao número que está na porta. A decoração está plena de motivos tauromáquicos, portanto, goste-se ou não de tourada, a conversa vai sempre parar a esse tema nas primeiras visitas ao estabelecimento.

Entrado na Tasca 7, depois de escolhida a mesa, lá vem o Sr. Carlos, sempre de fato e gravata como os taberneiros de antigamente, espetar uma garrafa de tinto na mesa. Depois é escolher o petisco. Aconselho a lentrisca, tiras de entremeada cortada aos pedaçinhos e regada com muito picante, como manda a lei. Fujam dos ossos cozidos. Não ligam muito bem com o vinho.



Gostaria de realçar que o Sr. Carlos não suporta fumadores compulsivos (eu era sempre moralmente obrigado a ir fumar para a porta), mas é uma joia de pessoa. Uma vez, depois de ter bebidos uns litros, esqueci-me do meu relógio na Tasca. Passado duas semanas, quando lá voltei, fui recebido com o meu relógio enfiado no gargalo de uma garrafa de tinto. Não são todos os taberneiros que fazem isto, digo eu que percebo de tascas!