O Verão começa hoje, e é sempre uma ocasião para celebrar! Praia, calor, gelados, emigrantes e bailaricos! E cerveja, que é exactamente igual à do resto do ano mas sabe bem melhor durante o Verão. Para celebrar a chegada da estação preferida do Tuga, aqui ficam cinco cantigas relacionadas com o Verão de uma maneira ou de outra. Disfrutai.
Verão é... Decotes!
Verão é... Deitar na relva e olhar para as nuvens!
Verão é... Brincar (aos passeios, aos amigos,aos festivais)!
Verão é... Sol (mesmo quando chove)!
Verão é... MAGIA!!!!!!
Contraculturalmente
Contra a Cultura, marchar marchar
10.6.11
Primavera Sound 2011, Parte 4 de 4
(Todas as fotos que aparecem nos meus posts relacionados com o Primavera Sound provém do site Polaco Popupmusic.pl.)
(Para melhor usufruto desta Post, deixo-vos uma compilação com as bandas que vi no dia 28.)
28/5 - Parc Del Fòrum
(Para melhor usufruto desta Post, deixo-vos uma compilação com as bandas que vi no dia 28.)
28/5 - Parc Del Fòrum
O Primavera Sound testa a resistência física de quem corre por amor à música, e, mesmo muito preparado que estivesse para a estafa, após quase uma semana de abusos alcoólicos, caminhadas gigantescas e horas a fio em pé ou aos saltos, finalmente quebrei. Atribuo a quebra não a estes factores, no entanto. Tudo isto se aguenta bem depois de umas horas de sono de qualidade. Acontece que na manhã de 28, dormi mesmo muito pouco. Tenho o sono levíssimo e qualquer movimento que os meus companheiros de quarto no hostel fizessem era o suficiente para ficar 15 minutos de olhos abertos. Fica o ensinamento, quem se propor a cumprir um festival da envergadura do Primavera Sound nunca pode descurar o sono. Dormir o dormir é tão importante como comer o comer.
Felizmente tenho um bom amigo na pessoa do Renato, que me arrastou literalmente para o Parc del Fòrum, a tempo de um dos concertos que mais queria ver e que perderia de outra forma (obrigado cumpanhêrre), The Tallest Man on Earth. O baladeiro Sueco era precisamente aquilo que necessitava para o início de festa, com a sua guitarra acústica a tiracolo perfeitamente suficiente para encher o palco. Kristian Mattson é dono de uma voz peculiar, que pode custar a escutar de inicio, mas com uma qualidade inegável. Sem estabelecer um paralelismo de timbre, faz lembrar as primeiras vezes que se escuta Dylan. A sua postura em palco bebe também muito da inspiração do mestre Norte-Americano. Inesperadamente (para mim), o senhor mais alto do mundo que afinal nem é assim tão alto trouxe banda para secundá-lo num par de temas que fazem parte do novo EP, mas foram as canções de The Wild Hunt que deliciaram os presentes. King of Spain, como não poderia deixar de ser, resultou muito bem, Love is All aqueceu-me a alma recentemente dorida e em You're Going Back, duas meninas beijavam-se ternamente mesmo à minha frente, enquanto bolinhas de sabão sobrevoavam sobre nossas cabeças. Balsâmico.
Seguidamente, palco Pitchfork, para um cheirinho da actuação dos Cloud Nothings. Praticantes de um Rock lo-fi que ao vivo trouxe à memória a atitude duns Arctic Monkeys dos primórdios, este foi mais um concerto muito bom, com a populaça a aderir energicamente à urgência das guitarras. Infelizmente, o vento que se fazia sentir na altura levou parte da música para o Mediterrâneo, pelo que algures no mar estão neste momento sereias e tritões a dançar alegremente ao som dos Cloud Nothings numa festa de garagem sub-aquática.
Antecipava o concerto dos Papas Fritas, o primeiro da sua segunda vida (na verdade o segundo, pois horas antes haviam tocado de graça no Parque Central de Poblenou). Pessoalmente, foram a grande desilusão do Primavera. A culpa até pode nem ter sido deles, eu apenas tive uma brutal quebra de energia (a última do dia, felizmente) e não me consegui mexer durante parte da sua actuação. Em abono da verdade, os Papas Fritas nem estavam a dar muito de si no concerto, e o som não estava mesmo nada bom, pelo que achei prudente abandonar o palco Ray Ban a meio da actuação e procurar algo mais estimulante ao vivo. Adeus Papas Fritas, vemo-nos nos discos.
Encontrei então o estímulo que procurava na actuação de tUnE-yArDs, nome de guerra do projecto da Inglesa Merrill Garbus, dona de um visual andrógeno e voz masculina, que me fez duvidar do seu género até chegar ao palco. Foi mais uma agradável surpresa do festival. A intrigante sonoridade estimulou-me a curiosidade para descobrir mais. Socorrendo-se de gravações vocais em loop, feitas na hora, Merrill soube construir tapeçarias sonoras riquíssimas. Experimental, Freak Folk, vibrante, novo e excitante, a ter em conta no futuro! Aproveitem a dica e procurem já o disco mais recente, w h o k i l l, que é divinal.
No palco
Entretanto já decorria o concerto dos The Album Leaf, prodígio electrónico ambiental guiado por Jimmy LaValle, colaborador ocasional de gente como os Sigur Rós. Muito bonito e etéreo, relaxou os espíritos de quem fez do palco ATP sua guarida por alguns minutos. O único senão do concerto foi o volume sonoro das cordas, que teriam tido maior impacto se fossem ouvidas um nadinha mais alto. De resto, mais um belíssimo momento musical, de tantos que já se vivera. E ainda estavam mais para chegar!
Einstürzende Neubauten. Post-Industrial Alemão, conduzido pela mão de Blixa Bargeld, antigo Bad Seed, senhor de um sentido de humor caustico (Good evening, non-football fans, dizia ele, enquanto que uma boa parte da audiência perdia tempo a olhar para o ecrã gigante de outro palco para ver uma final qualquer do jogo da bola entre a equipa local e outra de Inglaterra). Apesar desta banda me ser recomendada várias vezes, nunca me tinha predisposto a escutá-la, pelo que aproveitei a oportunidade para ver o que andava a perder. Imenso, aparentemente. Um concerto muito intenso, cheio de parafernália, com discos riscados, berbequins, tubos enormes e um sem-número de artigos de bricolage aproveitados sonoramente para criar um cenário de caos alucinante! Nota positiva para a atitude da banda, que produzia bootlegs do concerto a preço convidativo, para os fãs da banda. Auto-piratas.
Novamente com o coração apertado por ter de abandonar a excelente actuação dos Einstürzende Neubauten, mas os Gang Gang Dance eram daqueles que não iria perder por nada, não depois de ter escutado com tanta atenção o recente Eye Contact. Com o regulador de acidez no vermelho, a actuação do colectivo Avant-garde foi uma grande experiência de psicadelismo primal. Quem a esta banda se deixou entregar, esqueceu as fronteiras corporais e mentais, nada interessa, o vizinho do lado não existe, só tu e a música. As vocalizações são surreais, humanamente impossíveis, lindas. Para ajudar à festa, quem por acaso estivesse a curtir um LSD, além da música ainda levava com dois performers de bónus, um ninjer cambalhoteiro e um senhor Asiático cuja função era passar o concerto a andar de um lado para o outro com um pau que tinha um saco plástico preto na ponta. Loucura! Depois de grandes momentos como Glass Jar ou Adult Goth, só ficou mesmo a faltar o soberbo e muito aguardado single, Mindkilla, pelo que da próxima vez que os vir terei de dançar essa música com duas vezes mais afinco.
Um oceano de cabeças acumulava-se no palco principal do Primavera Sound, a fim de ver a actuação de PJ Harvey. Muita antecipação no ar. Já tinha visto o webcast da actuação de Polly Jean no festival Coachella, pelo que sabia o que esperar: um alinhamento baseado no recente Let England Shake, album que tanto tem canções excelentes (Let England Shake, The Words That Maketh Murder, The Last Living Rose) como outras tantas francamente más (Written in the Forehead,The Glorious Land). Assim, o concerto resultou algo desequilibrado, e a falta de entrega (ou arranjos desadequados) em canções mais antigas como C'mon Billy, Down By The Water ou The Sky Lit Up não ajudou. A fase actual de PJ Harvey não será a mais interessante da sua carreira, mas ainda assim poder vê-la ao vivo nunca é algo que se enjeite.
A seguir, mais dois concertos excelentes à mesma hora, o que significou nova divisão do grupo. Fui com o Renato a Mogwai, enquanto que o Cristiano foi a Swans, e isto é o que ele tem a dizer sobre o assunto:
"Ouvia falar dos Swans há já quase 20 anos mas nunca lhes prestei atenção. Duas faixas após me sentar na bancada do Ray-Ban já não conseguia deixar de olhar hipnotizado para aquele palco no qual eram debitados sons com uma potência arrasadora. Fosse devido a Michael Gira com a sua voz por vezes animalesca e a potência com que dedilhava a sua guitarra, ou pelos dois percussionistas/bateristas, que atacavam os seus instrumentos como se aquela fosse a última noite da Terra, com um sentido de ritmo perfeito até à exaustão. Assim como os outros membros da banda entre baixo, guitarra e teclados, que destinavam a este ser um dos concertos mais falados do cartaz. Este concerto foi para mim o momento mais duro (elogio) e intenso do festival. A música parecia saída de um túnel na minha direcção a uma velocidade vertiginosa, sem que eu tivesse uma qualquer saída (nem queria). No final fiquei com a sensação que os Swans em palco soam como algo impossível de repetir em disco. Arrasadores!"
Quanto a mim, nem pintado perderia a actuação dos Mogwai (ou a banda dos carecas, carinhosamente apelidados assim pelo Renato). E num festival com tanto sumo é idiota procurar eleger a melhor actuação. Digamos que algumas actuações tiveram em mim efeitos mais fortes que outras, e que a dos Escoceses deixou uma impressão e pêras! Talvez por estar situado praticamente na fila da frente. Talvez porque uma luz amarela apontava permanentemente para os meus olhos, que mantive fechados durante quase todo o concerto para apurar melhor a minha audição. Talvez pelas novas composições de Hardcore Will Never Die, But You Will, definitivamente por malhas antigas como Auto Rock e Travel is Dangerous. Tudo excelente, tudo perfeito. E depois, Mogwai Fear Satan e eu tornei-me no petiz mais afortunado do Mundo, por estar ali, a sentir o vento dos amplificadores, a viver o momento, fisicamente ligado à música, degustando o meu hino Post-Rock. Obrigado Mogwai, obrigado Primavera Sound, são momentos deste calibre que fazem com que valha a pena andar pelo Mundo...
A encerrar o palco principal, uma simpática moldura humana esperava os Animal Collective, criadores de autênticas frigideiras sonoras que me meteram o cérebro a escorrer pelo nariz. Os celebrados Freak-Folkers/Psicadélicos/What-the-fuck-is-that-music conseguiram a proeza de meter toda TODA toda a gente a dançar, mesmo com um alinhamento praticamente desconhecido. Deakin, que tirara umas férias do colectivo animalesco precisamente na altura de maior sucesso com o disco Merryweather Post Pavillion, regressou, trazendo novas ideias, e, como habitual, a banda pensa tanto à frente que apresentou ao vivo praticamente só canções novas, sem título, sem referência, para quem as quiser apanhar. Os regressos ao passado deram-se muito pontualmente. Did You See The Words? no início, Brothersport a meter tudo aos saltos a meio. Tivessem trocado duas canções novas menos empolgantes por 2 antigas e o concerto teria sido muito melhor. Assim, apesar de muito bom espectáculo, ficou aquém do potencial que o público merecia. Prova disso foi o arrasador final, com We Tigers a servir de alucinogéno natural (tigertigertigertigertigertigertigertigertigertiger) e logo a seguir Summertime Clothes e já ninguém é dono de seus corpos. O público ficou a desejar e a merecer um encore que não chegou, pelo que o meu Primavera Sound terminou com nota altíssima mas a saber a pouco (incrível, não é?).
Apesar do meu festival ter terminado, ainda havia muita festa a decorrer. A restante crónica está a cargo do Cristiano, que, juntamente com o Renato, representaram-me no resto do certame.
"Tinha decidido que os The Black Angels seriam a última banda desta última noite no Parc Del Fòrum. E assim foi. Já ouvia o seu mais recente disco há já alguns dias e desde a primeira escuta fiquei com vontade do que seriam capazes estes senhores em palco. Dei conta que tinham sido a única banda nova a "fazerem Rock à antiga" nesta edição do festival. Por ali andaram os Led Zeppelin (sem as roupas pirosas de outros tempos), os Doors e o Jim Morrisson (mais sóbrio que o costume), juntamente com os Black Keys ou os Black Rebel Motorcycle Club. Apesar destas referências os Black Angels mostraram ainda assim que, entre o passado, o presente e o futuro, já têm o seu próprio som, o som de uma verdadeira banda de Rock'n'Roll."
29/5 - Poble Espanyol e Apolo
"O Primavera estava quase no fim, e não podia faltar provavelmente à única oportunidade de assistir ao concerto dos Mercury Rev, no qual o "Deserter's Song" seria tocado na íntegra, tornando a despedida do “melhor festival do mundo” (tal como disse o vocalista Jonathan Donahue), menos dolorosa. Com algumas e excitantes novas roupagens, os Mercury Rev foram apresentando cada tema do álbum com a graciosidade e a força que podemos escutar naquela rodela obrigatória nas discografias de alguns, talvez o álbum mais importante na carreira da banda. Foram obviamente bastante aplaudidos, regressando ao palco para nos brindarem com um pequeno encore, finalizando com a magnífica “The Dark Is Rissing”.
Esta noite já tinha decidido ir embora após o concerto dos Mercury Rev, mas a festa de encerramento na Sala Apolo apenas a umas poucas paragens de metro, era a excelente oportunidade de ver os Black Angels mais uma vez mas agora numa sala fechada. Por isso perninhas ao caminho.
Fila enorme para entrar nesta sala mítica de Barcelona, que rápido se dissipou após abertura de portas. Com aspecto de teatro antigo, iluminada essencialmente por luzes vermelhas, com uma pista principal rodeada de mesas e cadeiras bem “coladas” nas laterais, todo o espaço rapidamente encheu. Após uma pequena vista de olhos pelos 2 pisos, onde diferentes djs escolhiam temas bem recebidos pelos presentes, dá-se início ao concerto. Som perfeito, atitude perfeita, público ao rubro. As referências que eram evidentes na noite anterior foram-se dissipando e naquele momento os Black Angels soavam completamente a si próprios e agora sim, no espaço ideal com um público completamente rendido ao espírito rock’n’roll, mostraram muito bem do que são capazes e fizeram com que eu procurasse nos próximos dias o resto da discografia da banda.
Os Simian Mobile Disco de certeza incendiariam mais tarde a pista da Apolo, mas para mim ficava por ali a 11.º edição do Primavera Sound. (n.r. já para o Renato estava longe de terminar, ainda papou os Simian e os DJs de ambas as salas. Sempre até à última, este garoto) Jurei a mim mesmo que para no próximo ano o regresso a casa será um dia mais tarde..."
Primavera Sound 2011, considerações finais
Apesar do fiasco vergonhoso do Portal, este foi um festival quase demasiado bom para ser verdade, e não apenas pela absurda quantidade e qualidade das bandas presentes. No metro, ainda extasiado pelos concertos magníficos do dia em questão, conversava com um amigo ocasional Inglês, que resumiu o espírito do Primavera na perfeição. O cartaz é de sonho, mas muito específico sonoramente, e atrai uma quantidade de pessoas que geralmente se vêem sozinhas entre os seus amigos ou pares por não encontrarem muitos pontos musicais em comum. Quando a oportunidade de ver praticamente tudo o que gostam surge, toda esta gente quer aproveitá-la ao máximo, desfrutar, agarrar o momento, e guardar esses sentimentos consigo até à próxima edição. É por isso que toda a gente conversa entre si, todos brincam uns com os outros, todos dançam com todos, desconhecidos abraçam-se a meio de concertos, cheios de felicidade que pode e deve ser partilhada com o vizinho, Espanhóis, Sul-Americanos, Norte-Americanos, Portugueses, Holandeses, Italianos, Britânicos. Tudo irmão, tudo boa onda, tudo amigo, tudo ali pela música e apenas a música. É esse o feeling do Primavera Sound, e é o que certamente me fará voltar sempre que puder a partir de agora. Um grande agradecimento aos meus companheiros de aventura, Renato e Cristiano, não poderia ter escolhido melhor companhia nem num milhão de anos! Em 2012 há mais!
8.6.11
Primavera Sound 2011, Parte 3 de 4
(A primeira foto que aparece neste post é de Flavia_FF, a segunda provém do site Polaco Popupmusic.pl.)
(Para melhor usufruto desta Post, deixo-vos uma compilação com as bandas que vi neste dia.)
(Para melhor usufruto desta Post, deixo-vos uma compilação com as bandas que vi neste dia.)
27/5 - Parc Del Fòrum
Voltemos a falar do sistema do Portal. Esta inovadora forma de lixar a vida aos festivaleiros não serviu apenas para arrastar a compra de bebidas até ao limite da paciência. Não senhores. O sistema do Portal, pessoalmente, fez amor comigo de forma mais grave. Sufjan Stevens deu dois concertos no Auditório. Para poder ver os concertos de Sufjan, o festivaleiro tinha de se registar no Portal, depois carregar dinheiro no cartão, depois concorrer a 2 bilhetes para cada actuação. E depois, confiar na sorte, e ser um dos contemplados com um bilhete num sorteio. Perdi um dos concertos que mais antecipava na lotaria. Portal imbecil, estúpido, retrógrado, injusto. Os génios que inventaram o sistema do Portal bem que o podem enfiar no seu cagueiro colectivo. Bestas.
Mas não vale a pena chorar pelo leite derramado, sobretudo quando a restante oferta é tão sumarenta. Enquanto podia estar a ver Sufjan Stevens, tive de me contentar com Avi Buffalo, banda que vai buscar a inspiração de sua nomenclatura ao vocalista, Avigdor Zahner-Isenberg. Os Avi Buffalo andam pelo Indie Pop e pelos terrenos da Sunshine Pop, ou Twee. O búfalo principal, Avi, é bem novinho, mas a sua voz está bem definida, e a distorção entusiasma de bem executada, fazendo a banda balançar entre as guitarras mais rasgadas de Built to Spill e os momentos mais luminosos de The Shins. A ter em conta no futuro.
Seguiram-se The Fiery Furnaces, uma banda insana que toca uma música estranha, cheia de variações de ritmo, entre o Pop Psicadélico e a música experimental. As cantigas eram bastante dançantes mas as alterações chegavam de forma tão abrupta e inesperada que se tornou divertido ver a populaça a tentar curtir este concerto. Vi muito rim a ficar em pudim.
Next, M. Ward, respeitável singer-songwritter com uma extensa carteira de colaborações, sendo a mais celebrada o duo She & Him, com a actriz Zooey Deschannel, a Katy Perry do Indie. O singer-songwritter trouxe o seu mais recente Hold Time, meio Folk meio Alt-Country, e ainda tocou uma canção do seu Super-Grupo Monsters of Folk. Foi um concerto engraçado mas não muito empolgante, e como entretanto actuaria um dos chamarizes do Festival, partimos para outras paragens.
Estava um mar de gente no palco Llevant para ver a actuação dos The National, que brindaram o público com um bonito espectáculo, carregado de temas dos dois excelentes discos mais recentes, High Violet e The Boxer. Tivemos direito a tudo, desde Bloodbuzz Ohio a Fake Empire, de Squalor Victoria a Start a War, de Sorrow a Mistaken For Strangers. E, se a montanha não vai a Sufjan, Sufjan vem à montanha. O próprio Sufjan Stevens, o desejado, faz uma perninha em Afraid of Everyone e Terrible Love. All delighted people, raise their hands! Para a história deste concerto fica também o convite para dançar mais insólito que tive até à data, o de uma rapariga que me mandou duas marradas por trás e, ao ver que não demonstrara interesse, me cravou os dentes nas costas! Resultou, guardei as danças de Appartment Story e England para ela! Quem diz que o melhor do Mundo são as crianças claramente nunca foi a um festival.
Um dos meus grupos favoritos, os Belle & Sebastian, foram os senhores que se seguiram, com a sua Twee Pop carregada de muito Soul. Com disco novo no bolso, o concerto ainda assim passou em revista praticamente toda a carreira dos Escoceses. A novos clássicos instantâneos como I Didn't See It Coming e I Want the World To Stop juntaram-se favoritos pessoais tais como Le Pastie de la Bourgeoisie, Step Into My Office Baby, If You're Feeling Sinister, Sleep The Clock Around e Legal Man, com direito a um excerto de Common People dos Pulp, que actuariam naquele palco a seguir. Stuart Murdoch estava muito simpático e até deixou que uma garota da fila da frente lhe colocasse rimel nos olhos. Fiz mais amizades nesta actuação, um grupo de raparigas de Manchester, impressionadas com a minha Mastro Dance. Esta dança foi criada pelo meu amigo Mastro, e consiste em mover os braços sensualmente na latitude ao mesmo tempo que se imprime uma sensual dança longitudinal de pernas, e destina-se a atrair as fêmeas em redor do bailarino, sempre com taxas de sucesso avultadas, diga-se de passagem. Em abono da verdade, a Mastro Dance que fiz servia para mostrar aos meus amigos que onde eu estava havia espaço para ver o concerto, mas o efeito nas Inglesas foi devastador. Subitamente, ganhei companhia com quem dançar e cantar as letras todas durante o concerto, e nunca mais escutarei Judy and the Dream of Horses da mesma maneira. Melhorámos a nossa experiência B&S a 200%! Obrigado garotas de Manchester, cujos nomes nem me dei ao trabalho de ouvir!
A seguir, uma decisão horrível: Deerhunter ou Explosions in the Sky? Os Deerhunter vão a Paredes de Coura em Agosto, além do concerto deles ser no longínquo Palco Llevant, e os Explosions in the Sky eram já ali ao lado e o novo disco deles, Take Care, Take Care, Take Care, tem-me acompanhado no leitor de MP3, pelo que a decisão foi tomada facilmente, mas não de ânimo leve. É criminoso não se poder ver as duas bandas, mas com tanta coisa boa, sorte tive eu de não apanhar mais sobreposições de concertos. Os Explosions trouxeram o seu Post-Rock instrumental, num concerto intenso, hipnotizador e emocionante, daqueles em que as pessoas olham umas para as outras com sorrisos na cara como quem diz "estás a ver o mesmo que eu, não estás? Isto está mesmo a ser espectacular, não está?". Tocaram 6 canções, todas enormes, todas completas, todas arrebatadoras, num dos melhores concertos do Primavera Sound. Para os interessados, 1-The Only Moment We Were Alone, 2-Last Known Surroundings, 3-Catastrophe and the Cure, 4-Postcard From 1952, 5-The Birth and Death of the Day, 6-Let me Back In. Basta-me ouvir dois acordes de Explosions in The Sky para ser levado de volta para o palco Ray Ban. Mágico.
Sabendo que, não sendo especialmente fã dos Pulp, nunca faria justiça ao primeiro concerto da sua segunda vida, passo a palavra ao Cristiano, que esteve coladinho na fila da frente:
"O regresso dos Pulp era aguardado com grande expectativa pelo imenso público presente. Através de uma espécie de cortina transparente, frases e palavras de "provocação" eram projectadas e faziam crescer a ansiedade em todos. As letras garrafais em néon colorido com o nome da banda deram o mote para uma actuação praticamente perfeita. E os motivos eram muitos. Foram tocados os temas que todos queriam ouvir, uma playlist recheada de temas cantados por um público evidentemente rendido ao colectivo. Um Jarvis Cocker sempre com a sua habitual dose de charme, observações mundanas ou perguntas frequentes entre músicas, nas quais faz uma dedicatória especial, cantando "Common People" para os tantos "indignados" com a situação de violência vivida dias atrás na Plaza de Catalunya. A banda perfeita em palco (a genuína). Um público que vibrava em cada instante e todos obrigatoriamente padrinhos por uns minutos, de um pedido de casamento entre um casal na assistência. Momento ideal para se ouvir “Underwear” também esta de “Different Class” o álbum mais famoso destes senhores. Os Pulp estão de regresso e recomendam-se, porque a pop inteligente faz-se assim, cheia de pequenos ingredientes que misturados em dose certa com o público ideal, resulta num cozinhado extremamente saboroso, que apetece repetir vezes sem conta."
Perto do final da actuação de Pulp, resolvi investigar aleatoriamente um dos outros palcos. Estava a gostar, mas quando temos aquela sensação de que se calhar está a tocar uma banda se calhar mais adequada aos nossos gostos, mais vale partir. Acabei por ir parar à actuação dos Del Rey. E o que tenho a dizer é UAU! Conhecia zero sobre esta banda, nunca pensei que fossem Americanos, nem tampouco Post-Rock, nem que tivessem duas baterias siamesas no meio do palco, viradas uma para a outra! Nem que fosse tão bom! Do caralho, mesmo! Fãs de Mogwai e Explosions in the Sky, investigai!
Mas o melhor da noite foi o concerto de Battles. O conhecimento marginal que tinha sobre esta banda, agora reduzida a trio, nunca me prepararia para isto. Sabia que o baterista era dos Helmet, e só. Começamos o concerto sentados, e, aos poucos, um por um, demos por nós a dançar cada vez mais embrenhados com o resto do público. Ritmo muito estranho, Math-Rock com Post-Rock, experimental até ao ponto da dor, vocalizações pré-gravadas em vídeos surreais, desafio dos sentidos, guitarras em loop, ambiente desconfortável quando parados, ambiente libertador quando dançando sem restrições. Não existem palavras capazes de fazer justiça ao momento vivido pelos presentes. Quem não dançou neste concerto ainda hoje se deve estar a arrepender. Se não está, devia estar.
A encerrar a noite, tivemos os Carte Blanche. Já só apanhámos a cauda da actuação, ainda boquiabertos com os Battles, pelo que tratámos de aproveitar a dupla de DJs ao máximo e continuar a mover o esqueleto vigorosamente ao som de brita da boa! Momento final de paz e união com Ebony & Ivory de mestres Wonder e McCartney, e ala para casa que o dia já nasce e daqui a pouco há mais!
Voltemos a falar do sistema do Portal. Esta inovadora forma de lixar a vida aos festivaleiros não serviu apenas para arrastar a compra de bebidas até ao limite da paciência. Não senhores. O sistema do Portal, pessoalmente, fez amor comigo de forma mais grave. Sufjan Stevens deu dois concertos no Auditório. Para poder ver os concertos de Sufjan, o festivaleiro tinha de se registar no Portal, depois carregar dinheiro no cartão, depois concorrer a 2 bilhetes para cada actuação. E depois, confiar na sorte, e ser um dos contemplados com um bilhete num sorteio. Perdi um dos concertos que mais antecipava na lotaria. Portal imbecil, estúpido, retrógrado, injusto. Os génios que inventaram o sistema do Portal bem que o podem enfiar no seu cagueiro colectivo. Bestas.
Mas não vale a pena chorar pelo leite derramado, sobretudo quando a restante oferta é tão sumarenta. Enquanto podia estar a ver Sufjan Stevens, tive de me contentar com Avi Buffalo, banda que vai buscar a inspiração de sua nomenclatura ao vocalista, Avigdor Zahner-Isenberg. Os Avi Buffalo andam pelo Indie Pop e pelos terrenos da Sunshine Pop, ou Twee. O búfalo principal, Avi, é bem novinho, mas a sua voz está bem definida, e a distorção entusiasma de bem executada, fazendo a banda balançar entre as guitarras mais rasgadas de Built to Spill e os momentos mais luminosos de The Shins. A ter em conta no futuro.
Seguiram-se The Fiery Furnaces, uma banda insana que toca uma música estranha, cheia de variações de ritmo, entre o Pop Psicadélico e a música experimental. As cantigas eram bastante dançantes mas as alterações chegavam de forma tão abrupta e inesperada que se tornou divertido ver a populaça a tentar curtir este concerto. Vi muito rim a ficar em pudim.
Next, M. Ward, respeitável singer-songwritter com uma extensa carteira de colaborações, sendo a mais celebrada o duo She & Him, com a actriz Zooey Deschannel, a Katy Perry do Indie. O singer-songwritter trouxe o seu mais recente Hold Time, meio Folk meio Alt-Country, e ainda tocou uma canção do seu Super-Grupo Monsters of Folk. Foi um concerto engraçado mas não muito empolgante, e como entretanto actuaria um dos chamarizes do Festival, partimos para outras paragens.
Estava um mar de gente no palco Llevant para ver a actuação dos The National, que brindaram o público com um bonito espectáculo, carregado de temas dos dois excelentes discos mais recentes, High Violet e The Boxer. Tivemos direito a tudo, desde Bloodbuzz Ohio a Fake Empire, de Squalor Victoria a Start a War, de Sorrow a Mistaken For Strangers. E, se a montanha não vai a Sufjan, Sufjan vem à montanha. O próprio Sufjan Stevens, o desejado, faz uma perninha em Afraid of Everyone e Terrible Love. All delighted people, raise their hands! Para a história deste concerto fica também o convite para dançar mais insólito que tive até à data, o de uma rapariga que me mandou duas marradas por trás e, ao ver que não demonstrara interesse, me cravou os dentes nas costas! Resultou, guardei as danças de Appartment Story e England para ela! Quem diz que o melhor do Mundo são as crianças claramente nunca foi a um festival.
Um dos meus grupos favoritos, os Belle & Sebastian, foram os senhores que se seguiram, com a sua Twee Pop carregada de muito Soul. Com disco novo no bolso, o concerto ainda assim passou em revista praticamente toda a carreira dos Escoceses. A novos clássicos instantâneos como I Didn't See It Coming e I Want the World To Stop juntaram-se favoritos pessoais tais como Le Pastie de la Bourgeoisie, Step Into My Office Baby, If You're Feeling Sinister, Sleep The Clock Around e Legal Man, com direito a um excerto de Common People dos Pulp, que actuariam naquele palco a seguir. Stuart Murdoch estava muito simpático e até deixou que uma garota da fila da frente lhe colocasse rimel nos olhos. Fiz mais amizades nesta actuação, um grupo de raparigas de Manchester, impressionadas com a minha Mastro Dance. Esta dança foi criada pelo meu amigo Mastro, e consiste em mover os braços sensualmente na latitude ao mesmo tempo que se imprime uma sensual dança longitudinal de pernas, e destina-se a atrair as fêmeas em redor do bailarino, sempre com taxas de sucesso avultadas, diga-se de passagem. Em abono da verdade, a Mastro Dance que fiz servia para mostrar aos meus amigos que onde eu estava havia espaço para ver o concerto, mas o efeito nas Inglesas foi devastador. Subitamente, ganhei companhia com quem dançar e cantar as letras todas durante o concerto, e nunca mais escutarei Judy and the Dream of Horses da mesma maneira. Melhorámos a nossa experiência B&S a 200%! Obrigado garotas de Manchester, cujos nomes nem me dei ao trabalho de ouvir!
A seguir, uma decisão horrível: Deerhunter ou Explosions in the Sky? Os Deerhunter vão a Paredes de Coura em Agosto, além do concerto deles ser no longínquo Palco Llevant, e os Explosions in the Sky eram já ali ao lado e o novo disco deles, Take Care, Take Care, Take Care, tem-me acompanhado no leitor de MP3, pelo que a decisão foi tomada facilmente, mas não de ânimo leve. É criminoso não se poder ver as duas bandas, mas com tanta coisa boa, sorte tive eu de não apanhar mais sobreposições de concertos. Os Explosions trouxeram o seu Post-Rock instrumental, num concerto intenso, hipnotizador e emocionante, daqueles em que as pessoas olham umas para as outras com sorrisos na cara como quem diz "estás a ver o mesmo que eu, não estás? Isto está mesmo a ser espectacular, não está?". Tocaram 6 canções, todas enormes, todas completas, todas arrebatadoras, num dos melhores concertos do Primavera Sound. Para os interessados, 1-The Only Moment We Were Alone, 2-Last Known Surroundings, 3-Catastrophe and the Cure, 4-Postcard From 1952, 5-The Birth and Death of the Day, 6-Let me Back In. Basta-me ouvir dois acordes de Explosions in The Sky para ser levado de volta para o palco Ray Ban. Mágico.
Sabendo que, não sendo especialmente fã dos Pulp, nunca faria justiça ao primeiro concerto da sua segunda vida, passo a palavra ao Cristiano, que esteve coladinho na fila da frente:
"O regresso dos Pulp era aguardado com grande expectativa pelo imenso público presente. Através de uma espécie de cortina transparente, frases e palavras de "provocação" eram projectadas e faziam crescer a ansiedade em todos. As letras garrafais em néon colorido com o nome da banda deram o mote para uma actuação praticamente perfeita. E os motivos eram muitos. Foram tocados os temas que todos queriam ouvir, uma playlist recheada de temas cantados por um público evidentemente rendido ao colectivo. Um Jarvis Cocker sempre com a sua habitual dose de charme, observações mundanas ou perguntas frequentes entre músicas, nas quais faz uma dedicatória especial, cantando "Common People" para os tantos "indignados" com a situação de violência vivida dias atrás na Plaza de Catalunya. A banda perfeita em palco (a genuína). Um público que vibrava em cada instante e todos obrigatoriamente padrinhos por uns minutos, de um pedido de casamento entre um casal na assistência. Momento ideal para se ouvir “Underwear” também esta de “Different Class” o álbum mais famoso destes senhores. Os Pulp estão de regresso e recomendam-se, porque a pop inteligente faz-se assim, cheia de pequenos ingredientes que misturados em dose certa com o público ideal, resulta num cozinhado extremamente saboroso, que apetece repetir vezes sem conta."
Perto do final da actuação de Pulp, resolvi investigar aleatoriamente um dos outros palcos. Estava a gostar, mas quando temos aquela sensação de que se calhar está a tocar uma banda se calhar mais adequada aos nossos gostos, mais vale partir. Acabei por ir parar à actuação dos Del Rey. E o que tenho a dizer é UAU! Conhecia zero sobre esta banda, nunca pensei que fossem Americanos, nem tampouco Post-Rock, nem que tivessem duas baterias siamesas no meio do palco, viradas uma para a outra! Nem que fosse tão bom! Do caralho, mesmo! Fãs de Mogwai e Explosions in the Sky, investigai!
Mas o melhor da noite foi o concerto de Battles. O conhecimento marginal que tinha sobre esta banda, agora reduzida a trio, nunca me prepararia para isto. Sabia que o baterista era dos Helmet, e só. Começamos o concerto sentados, e, aos poucos, um por um, demos por nós a dançar cada vez mais embrenhados com o resto do público. Ritmo muito estranho, Math-Rock com Post-Rock, experimental até ao ponto da dor, vocalizações pré-gravadas em vídeos surreais, desafio dos sentidos, guitarras em loop, ambiente desconfortável quando parados, ambiente libertador quando dançando sem restrições. Não existem palavras capazes de fazer justiça ao momento vivido pelos presentes. Quem não dançou neste concerto ainda hoje se deve estar a arrepender. Se não está, devia estar.
A encerrar a noite, tivemos os Carte Blanche. Já só apanhámos a cauda da actuação, ainda boquiabertos com os Battles, pelo que tratámos de aproveitar a dupla de DJs ao máximo e continuar a mover o esqueleto vigorosamente ao som de brita da boa! Momento final de paz e união com Ebony & Ivory de mestres Wonder e McCartney, e ala para casa que o dia já nasce e daqui a pouco há mais!
6.6.11
Primavera Sound 2011, Parte 2 de 4
(Todas as fotos que aparecem nos meus posts relacionados com o Primavera Sound provém do site Polaco Popupmusic.pl.)
(Para melhor usufruto desta Post, deixo-vos uma compilação com as bandas que vi neste dia.)
Após este concerto, separei-me do Cristiano, que viu os seguintes grupos sozinho, até nos reencontramos em Girl Talk.
"Foi no palco Ray-Ban que tive a oportunidade de assistir aos Suicide a apresentarem na íntegra o seu primeiro LP. Soaram corrosivos como há muitos anos atrás. Em contraste com a apresentação física do duo (já lá vão 34 anos da primeira edição), a vitalidade sonora desta obra ainda soa completamente actual. Os momentos electrizantes, acompanhados pela voz maquinal e madura do vocalista dos Suicide transportava-nos facilmente para um qualquer club Nova Iorquino fumarento e escuro, lutado por um público bastante agitado e já bem aditivado. Uma surpresa para os curiosos e a satisfação de milhares de fãs presentes, incluindo Nick Cave que se encontrava no meio do público acompanhado de um dos membros da locomotiva infernal Grinderman.
Sigo em direcção ao ATP para assistir aos Salem. A curiosidade era muita após um álbum deliciosamente assombroso. Quando cheguei, ainda me deparei com uma multidão no mesmo espaço que dançava e repetia a palavra "Sun" vezes sem conta, como já tinha acontecido na noite anterior no Poble Espanyol. Era o fim da actuação dos Caribou.
Os Salem acabariam por ser uma decepção. Apesar do instrumental bastante fiel ao disco de estreia, a voz delicada e ao mesmo tempo sombria da senhora era abafada pela electrónica do grupo, tornando o concerto demasiado frio e aborrecido. Pior ainda quando um dos membros dos Salem debitava um rap enfadonho e algo deslocado, afectando aquilo que poderia ter sido uma boa revelação no Primavera Sound.
Foi a desculpa perfeita para assistir ao início do concerto dos Suuns. A banda vagueia por uma electrónica repetitiva, simples e eficaz, à mistura com o que poderiam ser os Clinic se continuassem a fazer álbuns da qualidade do "Internal Wrangler". A voz um pouco arrastada e o rock "indie" e sintetizado dos Suuns vão conquistando faixa após faixa e deixando a sensação que são um colectivo para seguir com bastante atenção. Infelizmente o final da prestação teve de ser antecipado, Girl Talk estava prestes a começar."
Voltando atrás no tempo, até ao momento em que o Cristiano tomou um rumo diferente do meu. Interpol, portanto. Perdi-os o ano passado, por causa de um emprego que acabei também por perder mais tarde. Aproveitei a oportunidade como chance de me redimir. O concerto teve momentos muito bem conseguidos no regresso a temas do passado (incontornáveis como Evil, Not Even Jail, The Heinrich Maneuver, Slow Hands, Obstacle 1), mas no geral, tirando a Summer Well, os temas do disco mais recente não me entusiasmam profundamente, pelo que vi este concerto com curiosidade, mas sem me entregar. Bons tempos estes, em que posso afirmar que um concerto de Interpol foi mais ou menos, quando tenho base de comparação tão forte e variada! A vida é boa!
Seguiu-se a principal razão da minha viagem a Barcelona, a melhor banda ao vivo de todos os tempos, os fabulosos The Flaming Lips! Fabulosos! Fabulosos fabulosos fabulosos fabulosos! Imbatíveis! Depois do concerto do ano passado no Sudoeste, as expectativas estavam altas e não foram goradas. Menos aparato visual do que em 2010 (compreensível, visto que a banda voou de propósito dos Estados Unidos para este concerto), ainda assim deu para comer confettis durante um bom bocado, e delirar com os novos efeitos visuais, e com o público presente no palco, vestidos como personagens do Feiticeiro de Oz. Musicalmente, o alinhamento foi irrepreensível. De Embryonic só se ouviu Worm Mountain e See The Leaves, De Yoshimi escutámos Yoshimi Battles the Pink Robots pt 1, levámos com She Don't Use Jelly e The Yeah Yeah Yeah Song logo de início e ainda tivemos direito a uma nova canção, Is David Bowie Dying??. No final, o público ficou prestes a entrar em ebulição com What is the Light?, e, já no encore, foi impressionante ver as milhares de almas a saltar e a entoar a guitarra da explosiva Race For the Prize, obrigando a banda a regressar para mais um encore e tocar a música oficial da cidade de Oklahoma, Do you Realize??, para gáudio dos presentes, muitos deles em estado de choque. Dei por mim em histeria completa, rodeado de papelinhos, mais uma vez a mostrar todos os dentes da minha boca, saltando, fila da frente, perto do Kevin Barnes dos of Montreal, fora de mim, completo. Flaming Lips, já lá vão 2 concertos. Próximo passo, ir vê-los de propósito aos Estados Unidos.
(Para melhor usufruto desta Post, deixo-vos uma compilação com as bandas que vi neste dia.)
26/5 - Parc Del Fòrum
Finalmente, o dia do evento principal, o arranque oficial do Primavera Sound 2011! Situado perto do mar, o recinto está muito bem pensado, pois a brisa marinha contraria a força dos 30 graus que se faziam sentir em Barcelona. A área do festival é enorme, com zonas de descanso, interessantes lojas de música e merchandising e nada mais nada menos que 11 (onze) palcos, dois de dimensão grande (o principal San Miguel e o secundário Llevant, o mais bonito mas muito longe de tudo o resto), um de dimensão média (Ray-Ban, pertinho do San Miguel e nunca concorrendo directamente com ele), quatro pequenos (Pitchfork, Jagermeister Vice, Adidas Originals e ATP, com propostas alternativas e bandas tão desconhecidas que nem os próprios integrantes sabem que tocam nelas) e três micro-palcos, nem por isso menos interessantes (Ray-Ban Unplugged, onde não cabem mais de 30 pessoas apertadinhas mas ainda assim já recebeu gente como Stephen Malkus numa edição anterior, Myspace Smint onde tocam os novos valores vencedores de concursos, e Minimúsica, o palco para os bebés e os papás dos bebés, educando novas gerações para a música desde o berço), e um Auditório de grandes dimensões mas lotação muito limitada. A oferta de alimentação é variada, com a melhor opção vegetariana de todos os festivais (sandes de seitan deliciosa). O Primavera não é de todo um festival amigo das pernas, entre os dois palcos mais afastados distam cerca de 2 quilómetros, e com tanta coisa boa a acontecer ao mesmo tempo, essa distância é feita imensas vezes (para o ano levo um pedómetro). Também não é um festival muito amigo das meninas xixizeiras, mas esse é um problema recorrente em todos. E a cerveja é San Miguel e custa 4 euros, o equivalente a sermos violados à bruta e depois termos de fazer conchinha e dizer coisas fofinhas ao violador. Não fossem as técnicas de contrabandear álcool lá para dentro e teria passado um festival muito menos regado.
Com tanto palco e banda, muitas pessoas tiveram experiências festivaleiras radicalmente distintas, e tenho apanhado pessoas na Internet que não viram nada do que eu vi. O meu Primavera Sound arrancou ao som dos Madrilenhos Toundra, praticantes de Post-Rock instrumental que proporcionou a quem se predispôs a vê-los uma bonita sessão de head-banging. Com uma formação clássica guitarra-baixo-bateria, a banda acolheu no palco 2 músicos convidados num par de temas mais complexos, uma violoncelista e um senhor de barba que tocou guitarra acústica. A banda é muito competente, com um dos guitarristas muito simpático e claramente muito feliz por ali estar, gritando palavras para o público, mesmo sem microfone. Destaque para a fabulosa Bizâncio, a encerrar uma actuação plenamente satisfatória.
Seguiram-se os Emeralds com a sua música ambiente minimalista, antítese do que acabara de presenciar. Às tantas, cansado que estava dos dias anteriores e face ao meu desinteresse pela sonoridade desta banda, senti literalmente a minha energia a ser sugada do meu corpo, e não tive outra opção senão procurar ser feliz no palco Ray-Ban Unplugged, onde escutei alguns temas acústicos dos Mexicanos El Mató a un Polícia Motorizado. Foram simpáticos, mas optei por me reservar para a actuação eléctrica deles, que ocorreria noutro palco, algumas horas mais tarde, e fui ver os Moon Duo. Muito bons, mas algo repetitivos, a fazerem lembrar os Joy Division tanto nas vocalizações como no ambiente criado pelas suas músicas.
Seguiram-se os Cults no cardápio, hype criado à sua volta com apenas um single na sua discografia à data do concerto (album de estreia entretanto saiu). O concerto do duo, com formação ampliada, foi divertido com músicas Indie Pop a fazer lembrar o cancioneiro Norte-Americano dos 50's e 60's. Foi um concerto alegre e muito lalala, e a audiência estava compostinha, com alguma gente que ali estava para, se e quando os Cults ficarem conhecidos, poderem gabar-se de os ter visto antes de lançarem o primeiro disco.
Os of Montreal iniciaram uma série de concertos imbatíveis até ao final do dia. Kevin Barnes, com a sua magnífica voz e folclórica troupe, tomou de assalto o palco principal para um show de luz, cor e magia. A temas mais antigos como Groenlandic Edit, Cato as a Pun e Suffer for Fashion juntaram-se novidades bem conseguidas como Coquet Coquette e Sex Karma. E além do delírio visual provocado pela Pop Psicadélica feita de raios de luz e pelas berrantes vestes envergadas pela banda, tivemos direito à primeira chuva de confettis do dia (e nem uma nuvem no céu), truques com balões, e roadies vestidos de luchadores Mexicanos, sempre com roupas cada vez mais espampanantes (até Wolverines com mamas apareceram), encenando divertidos combates de luta livre entre si durante as partes instrumentais.
Um grande espectáculo dos derradeiros sobreviventes do colectivo Elephant 6. Teria certamente sido ampliado se houvesse cerveja para beber. Ou mesmo água... Ou qualquer líquido! A principal falha do Primavera Sound deu pelo nome de PORTAL. Este sistema foi-nos vendido como uma tentativa de inovar e facilitar a compra de bebidas no festival, quando na verdade não passava de uma medida para evitar que os bartenders metessem dinheiro ao bolso. O utilizador do festival teria de registar-se online, carregar o seu Portal com dinheiro, e depois utilizar um cartão para comprar bebidas com o seu saldo. Parece bem mas é mal. Chegando ao dia do festival, muita gente não sabia da existência deste sistema, pelo que foi ver gente nas filas para criar uma conta e carregar o dinheiro no cartão, passando depois para a fila das bebidas, que obviamente se tornaram enormes. Nos bares, havia uma pessoa a receber os pedidos do cartão, e 3 pessoas de braços cruzados sem fazer nada, à espera de pedidos que não podiam atender porque o sistema demorava eternidades a processar qualquer bebida. Para ajudar à festa, o sistema implodiu em cerca de 90% dos bares, pelo que só se podia pedir bebidas em 2 ou 3, o resto do staff estava de braços cruzados a olhar para o ar. Resultado óbvio: o sistema do Portal foi dissolvido, o dinheiro reembolsado, e os bares funcionaram como sempre o fizeram, com dinheiro vivo, caótico mas muito mais prático. Os bartenders sem escrúpulos continuaram a meter ao bolso, e gastaram-se milhares em tecnologia, iPads e formacão para nada. Bem jogado, Primavera Sound!
Seguimos com uma Fanta de limão adquirida a custo (misturável com a sagrada e preciosa Vodka) para a actuação de Cameron Mesirow, a menina Californiana conhecida como Glasser. Praticante de uma sonoridade que se encaixa num estilo musical emergente chamado Witch House (ou brita do demónio, como eu gosto de lhe chamar), uma espécie de Electrónica Experimental com um ambiente carregado, este concerto foi uma surpresa a todos os níveis. Pela hipnotizante presença em palco, pela qualidade da voz, comparada à de Bjork e Fever Ray mas com muito de seu, pelo enorme potencial que carrega. Glasser tem uma carreira muito recente, apenas um EP, mas também tem uma margem de crescimento abismal e um potencial para se tornar no mínimo artista de culto e devoção. Assistimos ao nascimento de uma estrela.
A seguir a Glasser veio Nick Cave e a sua aventura Rockeira, os Grinderman, banda totalmente constituída por elementos dos Bad Seeds mas criada para fugir ao peso desse nome, como uma oportunidade de tocar unicamente temas frescos. Nunca tinha visto Nick Cave ao vivo, pelo que devo dizer que me surpreendeu. O Australiano já não é um senhor na flor da idade, ninguém na banda o é, mas a sua postura em palco envergonha qualquer Rockeiro experiente. Cada milímetro debaixo dos seus pés pertence-lhe. Dança, canta, interage com o público, sobe para os ombros dos fãs, olha-os nos olhos enquanto lhes grita palavras de ordem, celebra as suas canções junto dos que delas fazem bandeira. Este homem é a definição de espectáculo, e os músicos que o secundam transpiram carisma, especialmente o barbudo guitarrista com ar de assassino dos bosques. Foi um concerto que passou em revista os dois discos da banda, intenso e electrizante. Mais!
A caminho do concerto de Interpol, parámos um pouco na actuação eléctrica de El Mató a un Polícia Motorizado. Muito melhor do que em acústico, a banda pratica um Rock que nada fica a dever a gente como os Sonic Youth. Os músicos, talentosos, possuem garra e entrega, e o público presente estava muito empenhado em desfrutar o concerto, cantando as letras (em Castelhano) e aplaudindo fervorosamente. Gostei muito do que vi, e fiquei com pena por ter de abandonar este palco para outro concerto, sentimento que nos acompanha várias vezes ao longo dos dias, com tantos concertos interessantes ao mesmo tempo.
Com tanto palco e banda, muitas pessoas tiveram experiências festivaleiras radicalmente distintas, e tenho apanhado pessoas na Internet que não viram nada do que eu vi. O meu Primavera Sound arrancou ao som dos Madrilenhos Toundra, praticantes de Post-Rock instrumental que proporcionou a quem se predispôs a vê-los uma bonita sessão de head-banging. Com uma formação clássica guitarra-baixo-bateria, a banda acolheu no palco 2 músicos convidados num par de temas mais complexos, uma violoncelista e um senhor de barba que tocou guitarra acústica. A banda é muito competente, com um dos guitarristas muito simpático e claramente muito feliz por ali estar, gritando palavras para o público, mesmo sem microfone. Destaque para a fabulosa Bizâncio, a encerrar uma actuação plenamente satisfatória.
Seguiram-se os Emeralds com a sua música ambiente minimalista, antítese do que acabara de presenciar. Às tantas, cansado que estava dos dias anteriores e face ao meu desinteresse pela sonoridade desta banda, senti literalmente a minha energia a ser sugada do meu corpo, e não tive outra opção senão procurar ser feliz no palco Ray-Ban Unplugged, onde escutei alguns temas acústicos dos Mexicanos El Mató a un Polícia Motorizado. Foram simpáticos, mas optei por me reservar para a actuação eléctrica deles, que ocorreria noutro palco, algumas horas mais tarde, e fui ver os Moon Duo. Muito bons, mas algo repetitivos, a fazerem lembrar os Joy Division tanto nas vocalizações como no ambiente criado pelas suas músicas.
Seguiram-se os Cults no cardápio, hype criado à sua volta com apenas um single na sua discografia à data do concerto (album de estreia entretanto saiu). O concerto do duo, com formação ampliada, foi divertido com músicas Indie Pop a fazer lembrar o cancioneiro Norte-Americano dos 50's e 60's. Foi um concerto alegre e muito lalala, e a audiência estava compostinha, com alguma gente que ali estava para, se e quando os Cults ficarem conhecidos, poderem gabar-se de os ter visto antes de lançarem o primeiro disco.
Os of Montreal iniciaram uma série de concertos imbatíveis até ao final do dia. Kevin Barnes, com a sua magnífica voz e folclórica troupe, tomou de assalto o palco principal para um show de luz, cor e magia. A temas mais antigos como Groenlandic Edit, Cato as a Pun e Suffer for Fashion juntaram-se novidades bem conseguidas como Coquet Coquette e Sex Karma. E além do delírio visual provocado pela Pop Psicadélica feita de raios de luz e pelas berrantes vestes envergadas pela banda, tivemos direito à primeira chuva de confettis do dia (e nem uma nuvem no céu), truques com balões, e roadies vestidos de luchadores Mexicanos, sempre com roupas cada vez mais espampanantes (até Wolverines com mamas apareceram), encenando divertidos combates de luta livre entre si durante as partes instrumentais.
Um grande espectáculo dos derradeiros sobreviventes do colectivo Elephant 6. Teria certamente sido ampliado se houvesse cerveja para beber. Ou mesmo água... Ou qualquer líquido! A principal falha do Primavera Sound deu pelo nome de PORTAL. Este sistema foi-nos vendido como uma tentativa de inovar e facilitar a compra de bebidas no festival, quando na verdade não passava de uma medida para evitar que os bartenders metessem dinheiro ao bolso. O utilizador do festival teria de registar-se online, carregar o seu Portal com dinheiro, e depois utilizar um cartão para comprar bebidas com o seu saldo. Parece bem mas é mal. Chegando ao dia do festival, muita gente não sabia da existência deste sistema, pelo que foi ver gente nas filas para criar uma conta e carregar o dinheiro no cartão, passando depois para a fila das bebidas, que obviamente se tornaram enormes. Nos bares, havia uma pessoa a receber os pedidos do cartão, e 3 pessoas de braços cruzados sem fazer nada, à espera de pedidos que não podiam atender porque o sistema demorava eternidades a processar qualquer bebida. Para ajudar à festa, o sistema implodiu em cerca de 90% dos bares, pelo que só se podia pedir bebidas em 2 ou 3, o resto do staff estava de braços cruzados a olhar para o ar. Resultado óbvio: o sistema do Portal foi dissolvido, o dinheiro reembolsado, e os bares funcionaram como sempre o fizeram, com dinheiro vivo, caótico mas muito mais prático. Os bartenders sem escrúpulos continuaram a meter ao bolso, e gastaram-se milhares em tecnologia, iPads e formacão para nada. Bem jogado, Primavera Sound!
Seguimos com uma Fanta de limão adquirida a custo (misturável com a sagrada e preciosa Vodka) para a actuação de Cameron Mesirow, a menina Californiana conhecida como Glasser. Praticante de uma sonoridade que se encaixa num estilo musical emergente chamado Witch House (ou brita do demónio, como eu gosto de lhe chamar), uma espécie de Electrónica Experimental com um ambiente carregado, este concerto foi uma surpresa a todos os níveis. Pela hipnotizante presença em palco, pela qualidade da voz, comparada à de Bjork e Fever Ray mas com muito de seu, pelo enorme potencial que carrega. Glasser tem uma carreira muito recente, apenas um EP, mas também tem uma margem de crescimento abismal e um potencial para se tornar no mínimo artista de culto e devoção. Assistimos ao nascimento de uma estrela.
A seguir a Glasser veio Nick Cave e a sua aventura Rockeira, os Grinderman, banda totalmente constituída por elementos dos Bad Seeds mas criada para fugir ao peso desse nome, como uma oportunidade de tocar unicamente temas frescos. Nunca tinha visto Nick Cave ao vivo, pelo que devo dizer que me surpreendeu. O Australiano já não é um senhor na flor da idade, ninguém na banda o é, mas a sua postura em palco envergonha qualquer Rockeiro experiente. Cada milímetro debaixo dos seus pés pertence-lhe. Dança, canta, interage com o público, sobe para os ombros dos fãs, olha-os nos olhos enquanto lhes grita palavras de ordem, celebra as suas canções junto dos que delas fazem bandeira. Este homem é a definição de espectáculo, e os músicos que o secundam transpiram carisma, especialmente o barbudo guitarrista com ar de assassino dos bosques. Foi um concerto que passou em revista os dois discos da banda, intenso e electrizante. Mais!
A caminho do concerto de Interpol, parámos um pouco na actuação eléctrica de El Mató a un Polícia Motorizado. Muito melhor do que em acústico, a banda pratica um Rock que nada fica a dever a gente como os Sonic Youth. Os músicos, talentosos, possuem garra e entrega, e o público presente estava muito empenhado em desfrutar o concerto, cantando as letras (em Castelhano) e aplaudindo fervorosamente. Gostei muito do que vi, e fiquei com pena por ter de abandonar este palco para outro concerto, sentimento que nos acompanha várias vezes ao longo dos dias, com tantos concertos interessantes ao mesmo tempo.
Após este concerto, separei-me do Cristiano, que viu os seguintes grupos sozinho, até nos reencontramos em Girl Talk.
"Foi no palco Ray-Ban que tive a oportunidade de assistir aos Suicide a apresentarem na íntegra o seu primeiro LP. Soaram corrosivos como há muitos anos atrás. Em contraste com a apresentação física do duo (já lá vão 34 anos da primeira edição), a vitalidade sonora desta obra ainda soa completamente actual. Os momentos electrizantes, acompanhados pela voz maquinal e madura do vocalista dos Suicide transportava-nos facilmente para um qualquer club Nova Iorquino fumarento e escuro, lutado por um público bastante agitado e já bem aditivado. Uma surpresa para os curiosos e a satisfação de milhares de fãs presentes, incluindo Nick Cave que se encontrava no meio do público acompanhado de um dos membros da locomotiva infernal Grinderman.
Sigo em direcção ao ATP para assistir aos Salem. A curiosidade era muita após um álbum deliciosamente assombroso. Quando cheguei, ainda me deparei com uma multidão no mesmo espaço que dançava e repetia a palavra "Sun" vezes sem conta, como já tinha acontecido na noite anterior no Poble Espanyol. Era o fim da actuação dos Caribou.
Os Salem acabariam por ser uma decepção. Apesar do instrumental bastante fiel ao disco de estreia, a voz delicada e ao mesmo tempo sombria da senhora era abafada pela electrónica do grupo, tornando o concerto demasiado frio e aborrecido. Pior ainda quando um dos membros dos Salem debitava um rap enfadonho e algo deslocado, afectando aquilo que poderia ter sido uma boa revelação no Primavera Sound.
Foi a desculpa perfeita para assistir ao início do concerto dos Suuns. A banda vagueia por uma electrónica repetitiva, simples e eficaz, à mistura com o que poderiam ser os Clinic se continuassem a fazer álbuns da qualidade do "Internal Wrangler". A voz um pouco arrastada e o rock "indie" e sintetizado dos Suuns vão conquistando faixa após faixa e deixando a sensação que são um colectivo para seguir com bastante atenção. Infelizmente o final da prestação teve de ser antecipado, Girl Talk estava prestes a começar."
Voltando atrás no tempo, até ao momento em que o Cristiano tomou um rumo diferente do meu. Interpol, portanto. Perdi-os o ano passado, por causa de um emprego que acabei também por perder mais tarde. Aproveitei a oportunidade como chance de me redimir. O concerto teve momentos muito bem conseguidos no regresso a temas do passado (incontornáveis como Evil, Not Even Jail, The Heinrich Maneuver, Slow Hands, Obstacle 1), mas no geral, tirando a Summer Well, os temas do disco mais recente não me entusiasmam profundamente, pelo que vi este concerto com curiosidade, mas sem me entregar. Bons tempos estes, em que posso afirmar que um concerto de Interpol foi mais ou menos, quando tenho base de comparação tão forte e variada! A vida é boa!
Seguiu-se a principal razão da minha viagem a Barcelona, a melhor banda ao vivo de todos os tempos, os fabulosos The Flaming Lips! Fabulosos! Fabulosos fabulosos fabulosos fabulosos! Imbatíveis! Depois do concerto do ano passado no Sudoeste, as expectativas estavam altas e não foram goradas. Menos aparato visual do que em 2010 (compreensível, visto que a banda voou de propósito dos Estados Unidos para este concerto), ainda assim deu para comer confettis durante um bom bocado, e delirar com os novos efeitos visuais, e com o público presente no palco, vestidos como personagens do Feiticeiro de Oz. Musicalmente, o alinhamento foi irrepreensível. De Embryonic só se ouviu Worm Mountain e See The Leaves, De Yoshimi escutámos Yoshimi Battles the Pink Robots pt 1, levámos com She Don't Use Jelly e The Yeah Yeah Yeah Song logo de início e ainda tivemos direito a uma nova canção, Is David Bowie Dying??. No final, o público ficou prestes a entrar em ebulição com What is the Light?, e, já no encore, foi impressionante ver as milhares de almas a saltar e a entoar a guitarra da explosiva Race For the Prize, obrigando a banda a regressar para mais um encore e tocar a música oficial da cidade de Oklahoma, Do you Realize??, para gáudio dos presentes, muitos deles em estado de choque. Dei por mim em histeria completa, rodeado de papelinhos, mais uma vez a mostrar todos os dentes da minha boca, saltando, fila da frente, perto do Kevin Barnes dos of Montreal, fora de mim, completo. Flaming Lips, já lá vão 2 concertos. Próximo passo, ir vê-los de propósito aos Estados Unidos.
Finalizando a noite, a romaria seguiu entoando continuamente Race For The Prize até chegar ao palco Llevant, onde Girl Talk já estava preparado para arrancar. O engenheiro biomédico Gregg Gillis está na fila da frente no que diz respeito ao mash-up, arte de cortar e colar músicas de outras pessoas para fazer uma totalmente nova. Girl Talk é tão bom no que faz que cada uma das suas músicas chega a ter samples de 40 outras tantas! A actuação meteu todos os corpos no recinto a dançar e a saltar, com o público a levar com Hip-Hop e depois Radiohead e depois Nirvana e depois Beck e depois Daft Punk e depois Devo e depois Prince e depois Kelly Clarkson e SINCE YOU'VE BEEN GOOOOONE I CAN BREATHE FOR THE FIIIRST TIME! 5 e meia da manhã, recinto cheio, Rei da festa, primeiro dia, festival ganho. All hail Girl Talk!
E a caminho do hostel, metro adentro, ainda se cantava a Race For The Prize...
3.6.11
Primavera Sound 2011, Parte 1 de 4
(Todas as fotos que aparecem nos meus posts relacionados com o Primavera Sound provém do site Polaco Popupmusic.pl.)
Antes de tudo, e só para tirar isto do meu sistema: O Primavera Sound, mesmo com as suas muitas e graves falhas, é o melhor Festival que tive oportunidade de usufruir. Chego mesmo a poder afirmar, convictamente e sem os exageros que me caracterizam, que o Primavera Sound 2011 valeu mais que todos os Festivais por onde passei e onde fui também muito feliz, juntos. Ao longo de 4 palavrosos posts, tentarei explicar o porquê, com as minhas palavras mas também com dedo alheio. Éramos 3 pessoas juntas no Festival, eu, o meu velho amigo Renato e o meu novo amigo Cristiano, que me dará uma ajuda fazendo a crónica de concertos que viu enquanto eu estava noutro palco e enriquecendo esta aventura por terras Catalãs. Vamos lá a isto!
24/5 - Apolo
O Primavera Sound é sem dúvida o maior e mais envolvente evento musical que pude presenciar, e é muito fácil ficar-se perdido face a quantidade abismal de oferta. Bem antes do arranque oficial do Festival, há concertos pelos bares e no metro, durante o Festival propriamente dito temos bandas a tocar em autocarros e no jardim, e por todo o lado há warm-up parties ou after-parties, fazendo com que a música toque por quase 24 horas, pelo que é muito fácil tropeçar em concertos meio sem querer.
Chegados a Barcelona, e depois de adquiridas as entradas a preço reduzido no mercado paralelo (com direito a cervejas pagas pelo vendedor, o que reduziu ainda mais o preço), descobrimos que o mesmo bilhete poderia ser trocado por pulseira logo naquele dia, na sala de espectáculos Apolo. Chegados ao Apolo, reparamos que estavam já a decorrer concertos nas duas salas do edifício, uma inesperada e agradável surpresa. Aleatoriamente, escolhemos ir para a sala principal, a tempo de apanhar a actuação de Eli "Paperboy" Reed, um cantor com muita Soul na voz, convidado para tocar as suas canções predilectas. Numa actuação forçosamente diferente do que estava planeado devido a problemas técnicos com o piano de serviço, Eli desfilou sozinho à guitarra não só composições suas mas também alguns temas especialmente Blues, com uma passagem por Bob Dylan. O final da actuação foi secundado pelos Pepper Pots, banda que actuara anteriormente e que fiquei sem saber se pertencia a Paperboy ou se Eli apenas era o seu produtor. Foi um concerto divertido.
Finalizada a actuação, tempo para admirar a beleza da sala Apolo, local de ambiente escuro, com luz vermelha, a dar um toque de calor e proximidade. Com uma excelente acústica, pena que a cerveja fosse apenas San Miguel (os bartenders bem que pediam desculpa, mas era o patrocínio do Festival, nada havia a fazer).
O segundo e último concerto que apanhámos no Apolo foi da banda Brasileira Garotas Suecas. Um concerto de Pop-Rock escorreito, que não entusiasmou muito mas deu para abanar a anca, e em português. Destaque para o guitarrista que cantou uma canção, com uma presença em palco bem mais merecedora de atenção que outros membros da banda com maior destaque, ou pelo menos foi essa a sensação que transpareceu. Gostei quando a primeira intervenção do vocalista em Inglês foi recebida com um sonoro "vá tomar no cú" por parte do público.
Após esta actuação, o Apolo fechou portas, pelo que não tive outro remédio senão pegar no Renato e irmos passear para os antros de perdição das Ramblas e do Bairro Gótico, com contrabandos vários, chamussas de batata, bares onde a única música provinha de headphones e prostitutas de rua tão chatas que nem com chapadas de mão aberta no rabo descolam! Barcelona, gente boa!
25/5 - Poble Espanyol
O nosso segundo dia de Festival também não contava para o arranque oficial, sendo exclusivo para os compradores do passe de 3 dias. Ou seja, quem comprasse o passe de 3 dias tinha direito a 5, 3 no Parc del Fòrum e 2 no Poble Espanyol, a abrir e a fechar. Bom negócio. O local em si é extremamente pitoresco, uma espécie de Espanha dos Pequeninos mas com edifícios de tamanho natural (Espanha dos Grandes?), onde todo o País se encontra arquitectónicamente representado. A praça central do Poble Espanyol serviu de palco para as primeiras edições do Primavera Sound, pelo que esta oportunidade representou um regresso às origens para muita gente.
Jà com o Cristiano a fechar o trio de ataque, hei-que outro trio abre as hostilidades musicais do dia, as Japonesas Nisennenmondai. Praticantes de Noise instrumental, estas pessoas de pequena estatura providenciaram um concerto musicalmente interessante, com um baixo pulsante, guitarra em permanente distorção e uma baterista com uma técnica invejável. Nunca vi alterações rítmicas tão doentias como aquelas. Gostei da banda, muito melhores ao vivo do que em disco (ou, por outra, audíveis ao vivo e não em disco), mas fiquei com a sensação que teriam sido mais felizes se tivessem tocado mais tarde no alinhamento.
Seguiram-se Las Robertas, outro trio, provenientes da Costa Rica e que deram concertos praticamente em todas as actividades do Primavera Sound. As duas meninas e o garoto da bateria que não devia ter mais de 16 anos tocaram Garage Rock, a fazer lembrar as bandas Portuguesas Indie dos anos 90, dos tempos da Bee Keeper. Musicalmente agradável, a banda vive muito de harmonias vocais que ao vivo ficam longe de funcionar, tal o grau de desafinação ou descoordenação vocal das garotas. Não me parece que se importassem muito com o facto.
E só para me estragar a brincadeira dos trios, o palco é tomado pelo septeto Comet Gain. Comparados amiúde com os Dexy's Midnight Runners, os Comet Gain não são tão divertidos, chegando mesmo a ser entediantes no geral. Salvaram-se 2 ou 3 músicas mais mexidas e inventivas, porque o resto do concerto constituiu uma boa desculpa para meter a conversa em dia e praticar um dos meus desportos favoritos durante o Primavera, elaborar teorias que provassem de uma vez por todas que a San Miguel era mijo disfarçado de cerveja.
Seguidamente, um clássico para todos os petizes góticos dos finais dos anos 80, Echo & The Bunnymen. Praticantes de Post-Punk (e o Primavera Sound foi muito Post-coisas), a banda veio ao Poble Espanyol na crista de uma onda de nostalgia, tocando os seus 2 primeiros albuns na íntegra, Crocodiles e Heaven Up There. Impressionou a qualidade instrumentista da banda e, sobretudo, a qualidade vocal de Ian McCulloch ao fim de tantos anos a cantar e a abusar. Echo & The Bunnymen em pleno pico de forma. No entanto, dois discos seguidos foi claro exagero. O Crocodiles ao vivo caiu-me bem e deixou-me satisfeito, o Heaven Up There, que considero inferior, aborreceu-me um pouco.
A fechar a noite, o primeiro dos muitos grandes concertos do Primavera Sound 2011, Caribou. Daniel Snaith y sus muchachos brindaram o público ávido de dança com um espectáculo baseado fortemente no recente Swim, pelo que a Electrónica foi a tónica dominante, regressando ao passado psicadélico apenas na já clássica Melody Day, recebida com muito menos calor do que esperaria ou desejaria. Com a banda a ocupar compactamente o centro do palco e um desfile de strobes e luzes psicadélicas, este foi um concerto intenso, que elevou a bitola para o que se seguiria nos dias seguintes. Toda a gente (até o staff dos bares) dançou com Odessa e o final do concerto deixou o público em histeria bailarina colectiva, com a excelente Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun SUN SUN SUN!!!!!
Antes de tudo, e só para tirar isto do meu sistema: O Primavera Sound, mesmo com as suas muitas e graves falhas, é o melhor Festival que tive oportunidade de usufruir. Chego mesmo a poder afirmar, convictamente e sem os exageros que me caracterizam, que o Primavera Sound 2011 valeu mais que todos os Festivais por onde passei e onde fui também muito feliz, juntos. Ao longo de 4 palavrosos posts, tentarei explicar o porquê, com as minhas palavras mas também com dedo alheio. Éramos 3 pessoas juntas no Festival, eu, o meu velho amigo Renato e o meu novo amigo Cristiano, que me dará uma ajuda fazendo a crónica de concertos que viu enquanto eu estava noutro palco e enriquecendo esta aventura por terras Catalãs. Vamos lá a isto!
24/5 - Apolo
O Primavera Sound é sem dúvida o maior e mais envolvente evento musical que pude presenciar, e é muito fácil ficar-se perdido face a quantidade abismal de oferta. Bem antes do arranque oficial do Festival, há concertos pelos bares e no metro, durante o Festival propriamente dito temos bandas a tocar em autocarros e no jardim, e por todo o lado há warm-up parties ou after-parties, fazendo com que a música toque por quase 24 horas, pelo que é muito fácil tropeçar em concertos meio sem querer.
Chegados a Barcelona, e depois de adquiridas as entradas a preço reduzido no mercado paralelo (com direito a cervejas pagas pelo vendedor, o que reduziu ainda mais o preço), descobrimos que o mesmo bilhete poderia ser trocado por pulseira logo naquele dia, na sala de espectáculos Apolo. Chegados ao Apolo, reparamos que estavam já a decorrer concertos nas duas salas do edifício, uma inesperada e agradável surpresa. Aleatoriamente, escolhemos ir para a sala principal, a tempo de apanhar a actuação de Eli "Paperboy" Reed, um cantor com muita Soul na voz, convidado para tocar as suas canções predilectas. Numa actuação forçosamente diferente do que estava planeado devido a problemas técnicos com o piano de serviço, Eli desfilou sozinho à guitarra não só composições suas mas também alguns temas especialmente Blues, com uma passagem por Bob Dylan. O final da actuação foi secundado pelos Pepper Pots, banda que actuara anteriormente e que fiquei sem saber se pertencia a Paperboy ou se Eli apenas era o seu produtor. Foi um concerto divertido.
Finalizada a actuação, tempo para admirar a beleza da sala Apolo, local de ambiente escuro, com luz vermelha, a dar um toque de calor e proximidade. Com uma excelente acústica, pena que a cerveja fosse apenas San Miguel (os bartenders bem que pediam desculpa, mas era o patrocínio do Festival, nada havia a fazer).
O segundo e último concerto que apanhámos no Apolo foi da banda Brasileira Garotas Suecas. Um concerto de Pop-Rock escorreito, que não entusiasmou muito mas deu para abanar a anca, e em português. Destaque para o guitarrista que cantou uma canção, com uma presença em palco bem mais merecedora de atenção que outros membros da banda com maior destaque, ou pelo menos foi essa a sensação que transpareceu. Gostei quando a primeira intervenção do vocalista em Inglês foi recebida com um sonoro "vá tomar no cú" por parte do público.
Após esta actuação, o Apolo fechou portas, pelo que não tive outro remédio senão pegar no Renato e irmos passear para os antros de perdição das Ramblas e do Bairro Gótico, com contrabandos vários, chamussas de batata, bares onde a única música provinha de headphones e prostitutas de rua tão chatas que nem com chapadas de mão aberta no rabo descolam! Barcelona, gente boa!
25/5 - Poble Espanyol
O nosso segundo dia de Festival também não contava para o arranque oficial, sendo exclusivo para os compradores do passe de 3 dias. Ou seja, quem comprasse o passe de 3 dias tinha direito a 5, 3 no Parc del Fòrum e 2 no Poble Espanyol, a abrir e a fechar. Bom negócio. O local em si é extremamente pitoresco, uma espécie de Espanha dos Pequeninos mas com edifícios de tamanho natural (Espanha dos Grandes?), onde todo o País se encontra arquitectónicamente representado. A praça central do Poble Espanyol serviu de palco para as primeiras edições do Primavera Sound, pelo que esta oportunidade representou um regresso às origens para muita gente.
Jà com o Cristiano a fechar o trio de ataque, hei-que outro trio abre as hostilidades musicais do dia, as Japonesas Nisennenmondai. Praticantes de Noise instrumental, estas pessoas de pequena estatura providenciaram um concerto musicalmente interessante, com um baixo pulsante, guitarra em permanente distorção e uma baterista com uma técnica invejável. Nunca vi alterações rítmicas tão doentias como aquelas. Gostei da banda, muito melhores ao vivo do que em disco (ou, por outra, audíveis ao vivo e não em disco), mas fiquei com a sensação que teriam sido mais felizes se tivessem tocado mais tarde no alinhamento.
Seguiram-se Las Robertas, outro trio, provenientes da Costa Rica e que deram concertos praticamente em todas as actividades do Primavera Sound. As duas meninas e o garoto da bateria que não devia ter mais de 16 anos tocaram Garage Rock, a fazer lembrar as bandas Portuguesas Indie dos anos 90, dos tempos da Bee Keeper. Musicalmente agradável, a banda vive muito de harmonias vocais que ao vivo ficam longe de funcionar, tal o grau de desafinação ou descoordenação vocal das garotas. Não me parece que se importassem muito com o facto.
E só para me estragar a brincadeira dos trios, o palco é tomado pelo septeto Comet Gain. Comparados amiúde com os Dexy's Midnight Runners, os Comet Gain não são tão divertidos, chegando mesmo a ser entediantes no geral. Salvaram-se 2 ou 3 músicas mais mexidas e inventivas, porque o resto do concerto constituiu uma boa desculpa para meter a conversa em dia e praticar um dos meus desportos favoritos durante o Primavera, elaborar teorias que provassem de uma vez por todas que a San Miguel era mijo disfarçado de cerveja.
Seguidamente, um clássico para todos os petizes góticos dos finais dos anos 80, Echo & The Bunnymen. Praticantes de Post-Punk (e o Primavera Sound foi muito Post-coisas), a banda veio ao Poble Espanyol na crista de uma onda de nostalgia, tocando os seus 2 primeiros albuns na íntegra, Crocodiles e Heaven Up There. Impressionou a qualidade instrumentista da banda e, sobretudo, a qualidade vocal de Ian McCulloch ao fim de tantos anos a cantar e a abusar. Echo & The Bunnymen em pleno pico de forma. No entanto, dois discos seguidos foi claro exagero. O Crocodiles ao vivo caiu-me bem e deixou-me satisfeito, o Heaven Up There, que considero inferior, aborreceu-me um pouco.
A fechar a noite, o primeiro dos muitos grandes concertos do Primavera Sound 2011, Caribou. Daniel Snaith y sus muchachos brindaram o público ávido de dança com um espectáculo baseado fortemente no recente Swim, pelo que a Electrónica foi a tónica dominante, regressando ao passado psicadélico apenas na já clássica Melody Day, recebida com muito menos calor do que esperaria ou desejaria. Com a banda a ocupar compactamente o centro do palco e um desfile de strobes e luzes psicadélicas, este foi um concerto intenso, que elevou a bitola para o que se seguiria nos dias seguintes. Toda a gente (até o staff dos bares) dançou com Odessa e o final do concerto deixou o público em histeria bailarina colectiva, com a excelente Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun Sun SUN SUN SUN!!!!!
24.5.11
Discos: Norton - Layers of Love United
Falemos agora do último disco que comprei. O mais recente dos 3 terços Albicastrenses-1 terço Caldenses Norton, baptizado Layers of Love United.
Gosto muito dos Norton, sempre gostei, por uma característica que faz deles muito especiais: a sua persistência. A banda já passou por muitas provas de fogo, desde mudanças de alinhamento e vocalista a alterações na sonoridade, não esquecendo o trágico e infeliz falecimento do talentoso guitarrista Carlos Nunes. E no entanto, voltam sempre, frescos, felizes, com vontade de agarrar o futuro que se deseja brilhante.
Layers of Love United, o terceiro album, nada para fora das praias electrónicas dos discos anteriores (mas sem perder totalmente o pé) e aproxima-se do terreno da Pop independente, construída à volta de guitarras luminosas e canções reconfortantes, que impelem a dançar, sozinhos no quarto com a nossa guitarra imaginária ou com queridos amigos sempre que apeteça, não interessa onde. São nove faixas, e todas elas nos fazem desejar que o Verão dos Norton nunca termine. É-me muito difícil destacar alguma canção, tal a coesão resultante do trabalho. As minhas preferidas são Into The Lights pela beleza dos arranjos de guitarra, e Layers, faixa que encerra o disco com um refrão que nos fica na cabeça e só desaparece até fazermos o gosto ao dedo e pressionarmos PLAY de novo, voltando ao inicio, o single de apresentação Two Points, que anda colado nas rádios nacionais (aqui em versão acústica).
Layers é um disco curto, mas bonito, um salto para a frente em relação aos seus antecessores. Se gostam de Two Points, comprem este disco, não ficarão desiludidos! A menina da capa aparece mais vezes no booklet, e vai ficar triste se não lhe ligarem nenhuma.
Gosto muito dos Norton, sempre gostei, por uma característica que faz deles muito especiais: a sua persistência. A banda já passou por muitas provas de fogo, desde mudanças de alinhamento e vocalista a alterações na sonoridade, não esquecendo o trágico e infeliz falecimento do talentoso guitarrista Carlos Nunes. E no entanto, voltam sempre, frescos, felizes, com vontade de agarrar o futuro que se deseja brilhante.
Layers of Love United, o terceiro album, nada para fora das praias electrónicas dos discos anteriores (mas sem perder totalmente o pé) e aproxima-se do terreno da Pop independente, construída à volta de guitarras luminosas e canções reconfortantes, que impelem a dançar, sozinhos no quarto com a nossa guitarra imaginária ou com queridos amigos sempre que apeteça, não interessa onde. São nove faixas, e todas elas nos fazem desejar que o Verão dos Norton nunca termine. É-me muito difícil destacar alguma canção, tal a coesão resultante do trabalho. As minhas preferidas são Into The Lights pela beleza dos arranjos de guitarra, e Layers, faixa que encerra o disco com um refrão que nos fica na cabeça e só desaparece até fazermos o gosto ao dedo e pressionarmos PLAY de novo, voltando ao inicio, o single de apresentação Two Points, que anda colado nas rádios nacionais (aqui em versão acústica).
Layers é um disco curto, mas bonito, um salto para a frente em relação aos seus antecessores. Se gostam de Two Points, comprem este disco, não ficarão desiludidos! A menina da capa aparece mais vezes no booklet, e vai ficar triste se não lhe ligarem nenhuma.
23.5.11
Discos: Toundra - (II)
Só um postzito para não deixar o blog a definhar ad eternum com um post lamechas. Gostam de música de inspiração oriental? Gostam de Post-Rock? Gostam de misturar azeite no leite? Então vão adorar os Toundra!
Os Toundra são Espanhóis, de Madrid, e parte dos seus executantes já se conheciam de uma outra banda, os finados Nacen de las Cenizas. Como banda Espanhola que é, possui à partida uma enorme virtude: os seus elementos não cantam, a música é totalmente instrumental.
Sonoramente, os Toundra estão perto de uns Mogwai, mas mais pesados, algures entre o Post-Rock e o Post-Metal. As músicas são densas e de execução perfeita, com especial destaque para o talento que se senta no banco da bateria. Algumas músicas do segundo disco, (II), são de forte inspiração Arábica/Norte-Africana, como nos primeiros instantes da faixa de abertura do disco, Tchod, e em Völand, que não destoaria numa compilação de World Music ao lado de uns Tinariwen ou de Ali-Farka Touré. Mas são as composições densas, saturadas de guitarra, que mais entusiasmam. Duas faixas em particular, por sinal as maiores do disco, que o Post-Rock quer-se longo para dar tempo para se soltarem os cordelinhos que nos atam a garganta. Os 11 minutos de Mangreb agarram-nos, mas são os 8 minutos de Bizancio a finalizar o disco que elevam (II) e consequentemente os Toundra à categoria de banda-a-não-perder já daqui por uns dias, no Primavera Sound.
Sonoramente, os Toundra estão perto de uns Mogwai, mas mais pesados, algures entre o Post-Rock e o Post-Metal. As músicas são densas e de execução perfeita, com especial destaque para o talento que se senta no banco da bateria. Algumas músicas do segundo disco, (II), são de forte inspiração Arábica/Norte-Africana, como nos primeiros instantes da faixa de abertura do disco, Tchod, e em Völand, que não destoaria numa compilação de World Music ao lado de uns Tinariwen ou de Ali-Farka Touré. Mas são as composições densas, saturadas de guitarra, que mais entusiasmam. Duas faixas em particular, por sinal as maiores do disco, que o Post-Rock quer-se longo para dar tempo para se soltarem os cordelinhos que nos atam a garganta. Os 11 minutos de Mangreb agarram-nos, mas são os 8 minutos de Bizancio a finalizar o disco que elevam (II) e consequentemente os Toundra à categoria de banda-a-não-perder já daqui por uns dias, no Primavera Sound.
Este disco e o de estreia estão por aí na net. Procurem que o exercício só vos faz bem. O nome da banda e a palavra mediafire no campo de procura do Google fazem maravilhas. Este blog é de um pirata, mas não é de pirataria.
22.5.11
Olá
O blog está parado há tempos. Não que não tenha o que escrever, mas a motivação tem-me faltado. A mudança na condição humana é uma constante, dizem, mas na minha vida, a mudança enfastia de tão rotineira e frequente.
O blog há-de ser reerguido, mas não agora. Na próxima semana há Primavera Sound, depois de Barcelona há um paquidérmico ponto de interrogação. Planeio relatar a experiência, que se espera alucinante, com bandas desde o meio dia às 6 da manhã, mas nestas coisas de blogs nunca se sabe. Vamos esperar e ver. Para já, deixo-vos com o meu mantra, See The Leaves, dos Flaming Lips.
See the Sun, it's trying again...
It's trying again...
Trying again...
Again...
Again...
O blog há-de ser reerguido, mas não agora. Na próxima semana há Primavera Sound, depois de Barcelona há um paquidérmico ponto de interrogação. Planeio relatar a experiência, que se espera alucinante, com bandas desde o meio dia às 6 da manhã, mas nestas coisas de blogs nunca se sabe. Vamos esperar e ver. Para já, deixo-vos com o meu mantra, See The Leaves, dos Flaming Lips.
2009 Flaming Lips - See The Leaves
See the Sun, it's trying again...
It's trying again...
Trying again...
Again...
Again...
31.1.11
Smile and the World smiles with you
Broken Blossoms, 1919. Dedicado ao Zé. Raio do moço é difícil de seguir, sempre a apagar blogs e a criar outros novos!
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