Aberto em 1909, o Âncora D'Ouro (nome oficial do Piolho) é um dos mais antigos cafés Portuenses. Notável local de conspirações no tempo do fascismo e ajuntamentos artísticos, foi com os estudantes universitários que este espaço ganhou a alcunha e notoriedade com que conta hoje. No Piolho encontram-se placas de mármore com inscrições dos que por aqui passavam mais tempo do que agarrados aos livros. Existe inclusivamente uma placa de "agradecimento" ao Piolho por parte de antigos estudantes que nunca acabaram o curso, perdendo-se na boémia daquele café.
O Piolho é um café e etc. Servem-se refeições rápidas e petiscos, mas também temos à disposição uma grande variedade de shots e bebidas brancas, e a cerveja bebe-se como água.
Muita da mística do Piolho consistia no seu ar degradado, algo que se perdeu com as recentes obras de recuperação. Mas há esperança. Como referiu o seu proprietário Edgar Gonçalves, "cabe agora às pessoas continuarem a vir cá degradá-lo". E as pessoas continuarão a ir. Desde o estudante ao senhor engenheiro, ao agarrado que crava cerveja e cigarros na esplanada, ao emigrante ilegal, ao turista de pé descalço, ao Tozé da papelaria, ao Anarquista Duval que entra pela tasca adentro gritando de peito aberto. O Piolho é de todos e para todos!

Deixo-vos com a citação de Carlos Magno, um dos responsáveis pelo Porto Capital da Cultura 2001:
Eu sou da geração do Piolho, o célebre Café- Ancoradouro, onde várias gerações passaram no tempo da faculdade. Ainda hoje, sou do grupo do “Piolho”. Posso-lhe dizer que a coisa com que mais me identifico no Porto é um degrau que existe na escada do Café Piolho. O ancoradouro fica dois degraus abaixo do nível do solo e tem- se um degrau logo à porta. Há ali uma coisa única: a gente chega, põe o pé num degrau e olha à volta para ver quem está no Piolho e depois ou entra ou sai. Aquela pedra, que é de granito, tem um buraco feito pelas solas dos sapatos. Eu gastei ali muita sola de sapato, a pisar aquele degrau, umas vezes a entrar outras a voltar para trás. Era o que eu chamava dar uma “oftálmica”. O melhor que o Porto tem é exactamente esse degrau da escada do Piolho. Várias gerações puseram ali o pé para espreitar; entraram ou saíram, mas a sola do sapato ficou ali marcada.