27.12.06

Discos: The Decemberists - The Crane Wife

The Decemberists são uma banda Norte-Americana que me chamou à atenção por terem feito uma belíssima cover da Clementine de Elliott Smith, incluída na compilação To: Elliott From: Portland, o que por si só é justificação de bom gosto.



O nome desta banda deriva da revolta militar falhada de 1825, que procurava depor o Csar Nicolau I do poder na Rússia. Inspirado nesta revolta e também no frio e intimismo geralmente associados ao mês de Dezembro, o som da banda alterna entre o épico e heróico (Rock Progressivo) e o calmo e reservado (Indie Pop). Os Decemberists possuem a honra de serem a primeira banda a distribuir oficialmente um dos seus videos (16 Military Wives) através dos BitTorrents.

O album em destaque dá pelo nome de The Crane Wife e foi editado em 2006.



The Crane Wife é baseado num antigo conto japonês. Nesse conto, um homem pobre encontra um grou magoado e cuida dele. Após soltá-lo, uma belíssima mulher surge na sua vida. Depois de casarem, a mulher propõe tecer roupa de seda para vender no mercado, ajudando assim o seu marido a fugir à pobreza, com a condição do seu esposo nunca a ver na sua tecelagem. À medida que as condições de vida vão melhorando e as roupas se vão vendendo, o marido obriga a esposa a tecer mais e mais seda, ignorando o estado de saúde cada vez mais deteriorado da senhora. Um dia, a curiosidade leva a melhor sobre o homem, que decide espreitar a sua esposa no seu ofício, apenas para descobrir um grou arrancando penas do seu próprio corpo para tecer as roupas. O grou abandona assim o homem, remetendo-o à pobreza pela sua ganância.

O som de The Crane Wife é rico e polido. Há muito orgão e acordeão, levando o ouvinte a sonhar em pegar numa lança e cavalgar pelas planícies alentejanas à procura de moinhos de vento para combater. Existem neste album verdadeiras óperas épicas, com duração superior a 10 minutos (The Island e The Crane Wife 1 & 2). Para os mais habituados a músicas mais curtas e regulares, neste disco também se encontram pérolas como Yankee Bayonet (dueto com Laura Veirs), O Valencia! e a luminosa Sons & Daughters.

Destaque maior para Shankill Butchers, o arrepiante conto de terror disfarçado de canção de embalar, baseado no gang de assassinos protestantes com o mesmo nome, que perseguiam, torturavam e matavam católicos na Irlanda nos anos 70 e 80 com recurso principalmente a cutelos e facas de talho.

A beleza principal de The Crane Wife assenta nas histórias que contém, com um fio condutor que insere um sentimento no peito, mesmo sem se prestar atenção às letras das canções. Cada música contém uma ou mais histórias, muito bem escritas e acompanhadas com música apropriada. Um disco forte e coeso, dos melhores que ouvi ultimamente.

Banda Desenhada: Watchmen

É difícil escrever sobre Alan Moore. Difícil porque é praticamente impossível saber-se por onde se começar, tal a imensidão da sua obra. A sublime revitalização de Swamp Thing e Miracleman, e a criação de Hellblazer, From Hell, V For Vendetta e League of Extraordinary Gentlemen, só para citar as obras que foram adaptadas (sem autorização) ao cinema falam por si. Difícil porque um indivíduo que consegue ser ao mesmo tempo vegetariano, anarquista, mago e adorador do Deus-Serpente Glycon é demasiado fascinante para ser traduzido em metáforas e simbolismos. Difícil por ser genial. Adopte-se a saída mais fácil e deixe-se que a obra fale pelo mestre.



Watchmen, de 1986, é o mais importante trabalho mainstream de Alan Moore. Nos anos 80, a DC havia adquirido os direitos de uma editora obscura de banda desenhada de seu nome Charlton. A editora contacta Moore e Dave Gibbons para dar vida aos heróis dessa defunta companhia, trazendo-os para o universo DC. Moore opta por fazer algo visto na altura como revolucionário: com base nas personagens da Charlton, cria um novo rol de heróis e um universo à parte e, inteligentemente, elabora um livro de banda desenhada com princípio, meio e fim, destruindo qualquer hipótese de sequela ou posterior aproveitamento das personagens e mitologia por parte da DC.



Watchmen é encarado como uma tese sobre o possível impacto da existência de super-heróis no mundo real. No entanto, salvo uma excepção, nenhum destes super-heróis possui poderes especiais, limitando-se a serem pessoas mascaradas. A condição humana destes heróis é amplamente explorada. São os medos, aspirações, desejos, fobias e crenças pessoais que dão profundidade às personagens, não a sua capacidade de combate ao crime. Cada capítulo é relatado por uma personagem diferente, alterando-se a percepção de eventos dependendo do ponto de vista, de forma não linear, plena de simbolismo. Watchmen significa ao mesmo tempo "Relojoeiros" e "Observadores". Tudo neste livro é tão vasto e ao mesmo tempo preciso. Nada acontece por acaso.

Watchmen é um exercício de escrita. Exemplo maior no capítulo 5, em que a primeira página reflecte a última, a segunda reflecte a antepenúltima, e por aí em diante. Por ter criado uma banda desenhada de super-heróis adulta e densa, Alan Moore acumulou variadíssimos prémios, sendo Watchmen a única banda desenhada a ter sido distinguida com o Hugo Award, prémio reservado às melhores obras de ficção científica.

Sendo esta uma BD altamente cinematográfica, e no entanto impossível de ser filmada, a adaptação de Watchmen ao cinema está na calha, devendo estrear em 2007. Moore está mais uma vez contra esta adaptação. Desta vez, os fãs também. Há obras que deveriam ser intocáveis. Enquanto que o universo de Watchmen não fica perpetuamente arruinado por Hollywood, releiam ou descubram a obra, em formato TPB (versão inglesa), nas lojas da especialidade.

Opto por não relevar nada da trama de Watchmen. Não é humanamente possível fazê-lo.

21.12.06

Livros: A Year in the Merde

Os Franceses são chauvinistas. Os Franceses comem baguetes. Os Franceses possuem um sotaque efeminado. Os Franceses dizem "Oh-La-La". Tudo verdade. No entanto, depois de ler A Year in the Merde, passei a considerar os Franceses criaturas adoráveis.



A Year in the Merde narra a história de Paul West, cidadão britânico solteiro e bem-apessoado, que se desloca à capital francesa contratado para planear a abertura de uma cadeia de salões de chá no país da Torre Eiffel. Ao longo de um ano, Paul West descobre uma nação onde a liberdade sexual impera, onde as greves se acumulam de semana para semana, onde toda a gente diz bom dia e boa tarde e se cumprimenta com dois beijinhos (ai que medo, os germes), onde existem feriados e pontes e o país pára nos meses de Verão, onde as prostitutas de rua declamam poesia popular e onde nem toda a gente fala inglês (que horror!). Tudo é escrito num tom bem-humorado, com recurso ao estereótipo e a uma sucessão de azares e mal-entendidos.

A Year in the Merde é uma leitura leve e bem-conseguida. O grande problema (ou ponto de interesse) deste livro é a sua tendenciosidade. Paul West (ou melhor, Stephen Clarke, o autor de A Year in the Merde) é um inglês com ares e manias de cavalheiro superior, ridicularizando para isso os Franceses por terem uma cultura diferente da sua. O simples facto das tomadas de electricidade serem diferentes é motivo de chacota. Os Franceses que tentarem falar Inglês sem dominarem a língua são rebaixados, quando a própria personagem não consegue articular duas palavras seguidas de Francês. Dei por mim a fazer o impensável: Defender os Franceses e torcer para que este indivíduo sufoque com um croissant mal mastigado.

A Year in the Merde mostra ao leitor que os Ingleses não só não entendem os Franceses (e os países latinos de um modo geral), como também estão demasiado maravilhados com o seu próprio umbigo para repararem no adubo que os cãezinhos largam nos passeios dos nossos países e assim partirem as suas perninhas e bracinhos. Das centenas de pessoas que são hospitalizadas todos os anos na França por escorregarem em bosta de cão, mais de 80% são turistas, e uma larga parte desses mesmos turistas são provenientes de países Anglo-Saxónicos. Depois deste livro, não tenho pena nenhuma deles.

28.11.06

Do you feel like swimming?




I know a way to swim all the way down town...

Morphine - Like Swimming

24.11.06

Playontape e o movimento verdadeiramente Indie dos 90's

O triângulo Lisboa-Caldas da Rainha-Castelo Branco efervescia. Os Pinhead Society eram tidos como os líderes do movimento Indie nacional. A revista Raia oferecia compilações de novos valores da Beira Interior. A Bee Keeper distribuía cassetes coloridas e o mundo era simples e feliz. Era assim Portugal nos anos 90.

O final da minha adolescência foi afortunado. Vivia em Peniche (menos de meia hora das Caldas da Rainha, e relativamente próximo de Lisboa) e possuía amigos em Castelo Branco. Assim, encontrava-me por dentro de uma revolução contracultural a acontecer bem à minha porta. Jovens como eu (15/16 anos) criavam música cheia de boas intenções. Vivia-se no espírito "do-it-yourself". Ouvia-se Teenage Fanclub, Built to Spill e Pavement, na praia ou à beira da piscina. Trocavam-se e perdiam-se cassetes. Faziam-se excursões só para se poderem ver as bandas da nossa preferência. Viajava-se de autocarro e defendiam-se as consolas da altura (Sega Megadrive nas Caldas da Rainha, Super Nintendo em Castelo Branco) como se só isso importasse na vida. Sorria-se muito e acreditava-se que estávamos a fazer parte de um movimento muito importante em Portugal.

Depois o tempo (o maldito tempo) avançou, e a vida meteu-se pelo meio. Deixaram de se ouvir cassetes. Foi-se estudar e/ou trabalhar. As amizades antigas foram sendo substituídas por novas. Os Pinhead Society acabaram sem se dar muito por isso, e o movimento morre com o falecimento da Elsa, responsável pela Bee Keeper. Poucos foram os que conseguiram singrar no mundo da música. Das Caldas da Rainha, o Manel dos Plasticine juntou-se ao Paulo dos Orange e agora formam a parte criativa do projecto Gomo. De Castelo Branco, os Bubbles deram lugar aos Oscilating Fan, que por sua vez deram lugar aos Norton.

Serve este post para louvar o esforço do blog PlayOnTape. Neste local, encontra-se um retrato de muitas das maquetes (entretanto convertidas para MP3) que marcaram uma época que já não voltará. Bandas que já deixaram de existir à muito, desde o Indie-Pop ao Punk e Metal. Uma fantástica cápsula do tempo, que me fez recordar com saudade outros tempos. Para recordar ou descobrir. Visitem o PlayOnTape hoje mesmo!

Recomendações toldadas por razões sentimentais (ou por outras palavras, bandas que me diziam muito na altura, e curiosidades):

Little - I Like It If You Feel Lucky

A primeira demotape editada pela Bee Keeper! Indie-Pop lo-fi DIY, pela própria Elsa.





Sabiam que o Carlos Matos teve uma banda Industrial nos anos 80? Eu não. E também não sabia que este senhor continua a fazer música hoje em dia! Verdadeiro homem do renascimento! Como é que ele arranja tempo?





Indie Made in Caldas. Pergunta inocente de 1998: Como é que se conseguem fazer cassetes em plasticina?





Indie Made in CB. Esta cassete andou durante muito tempo dentro do meu Walkman, até a perder. Nunca os consegui ver ao vivo, e penitencio-me até hoje por isso.

23.11.06

Filmes: The Bikini Bandits Experience

Assumo-me como fã das Bikini Bandits. Porquê? Não sei bem. Gosto do conceito. Míudas giras envergando diminutos bikinis e armas potentes é uma combinação ganhadora. O tal Girl Power que as Spice Girls tanto apregoaram para venderem mais uns disquitos. Só que esse Girl Power aplicado às Bikini Bandits transforma-se em machismo disfarçado de feminismo. Ou será que é ao contrário? Não me consigo decidir. As Bikini Bandits confundem-me.



As Bikini Bandits são na sua essência uma homenagem aos filmes de exploitation dos anos 70 e aos grupos de heroínas do estilo Anjos de Charlie. Consistem num bando de mulheres de pouca roupa e boas curvas (strippers de profissão, na vida real) que praticam o bem e a justiça de forma distorcida, lutando contra a G-Mart Corporation. As suas curtas-metragens obtiveram um culto considerável na internet, ganhando ainda mais notoriedade depois de serem as estrelas no videoclip de A Perfect Circle, The Outsider.

O relativo sucesso deste videoclip despertou a curiosidade (chamemos-lhe assim) de muitos, e as Bikini Bandits começaram a aventurar-se nas longas-metragens. A primeira foi baptizada de Bikini Bandits Experience.



O que dizer de Bikini Bandits Experience? A capa categoriza-o de "Pointlessly Depraved" e "A B-Movie Epic". É tudo verdade.

Não tem sentido. Tentar encontrar um sentido em tudo o que nos é mostrado à velocidade de uma rajada de metralhadora neste filme é um exercício herculeano. Imagens das Bandits a lavar carros com o seu próprio corpo são substituídas por excertos animados, que por sua vez são substituídas por conversas entre os produtores do filme, que por sua vez são substituídas por anúncios de produtos da G-Mart, que por sua vez são substituídos por imagens das Bandits a disparar contra a polícia. No meio disto tudo, temos uma espécie de enredo. Mas já lá chegaremos.

É depravado. Tudo neste filme transpira depravação. Anjos excitados, amor lesbiano, vilões que disparam raios laser do pénis, sexo com débeis mentais, um herói chamado Dirty Sanchez. E no entanto, de erotismo este filme tem muito pouco.

É um épico. Um épico amoral, mas ainda assim, um épico. O filme começa com um acidente de automóvel. As Bikini Bandits são enviadas para o inferno, onde o próprio diabo (Maynard James Keenan!), lhes faz uma proposta: Desvirginar a Virgem Maria (e assim prevenir o nascimento de Jesus), ou enfrentar uma eternidade de frigidez. As Bandits aceitam a missão, mas no momento em que estão prestes a desencaminhar Maria, são abordadas pelo Papa Ramone (Dee Dee Ramone!!), e decidem enfrentar o Diabo e todo o seu séquito. Salvando-se do seu destino, as Bikini Bandits estão livres para seguirem o seu estilo de vida, ajudando um grupo de ninjas (liderado por Corey Feldman!!!) a desmantelar uma rede de tráfico de débeis mentais que eram utilizados em filmes pornográficos (presidida por Jello Biafra!!!!)


É um filme de Série-B. Violência, depravação, bikinis, estrelas Rock, mau gosto, actores que não o são nem o sabem ser. Não sendo um bom filme, tem os seus momentos de magia. Se vale a pena ver ou não, isso depende do gosto (ou da falta de gosto) de cada um.


Trailer:

17.11.06

O melhor site de poesia brasileiro incluído num portal para escritores amadores

E já que andamos numa onda de enunciar os melhores do ano à la Hollywood, partilho hoje uma descoberta que me fez muito feliz.

Há uns meses atrás tive o privilégio de trabalhar com um indivíduo de 2 metros meio desajeitado de seu nome David (a malta chamava-lhe Dáviiiii) Quartieri. O David, além de ser uma jóia de moço, era também uma pessoa com uma cultura músical e bedéfila bem acima da média, e de fácil trato. Facilmente nos tornamos amigos. Depois, o David desapareceu e nunca mais se soube nada dele.

Até que nos entretantos recebo um e-mail, no qual descubro que não só o David está vivo e de saúde, como resolveu partilhar comigo uma das suas facetas que desconhecia: o David escreve (e bem, na minha opinião)! Assim, porque gosto do rapaz e da sua escrita, resolvi partilhá-la com todos vocês. O link é este.


Hoje pela manhã,
minha poesia me assassinou.
Não houve projéteis ou facas
motivos ou avisos.
Simplesmente me assassinou

Minha poesia me assassinou.
E já não encontro razões
pra navegar à deriva
comemomorar os meus dias,
ou refazer-me da dor.

Minha poesia me assassinou.
Sem cúmplices ou testemunhas;
seu crime perfeito me prostra
meu sangue é a sua resposta
em uma carta que ela criou.



David Quartieri ganhou sem margem para dúvidas o prémio de "Melhor Nova Amizade 2006". E, afinal, é isso que realmente conta.

16.11.06

Os melhores blogues 2006?

Descubro hoje que decorre uma votação para a eleição de "Melhor Blogue" de 2006, destinado a todos os blogues de Portugueses para Portugueses, promovido pelo Geração Rasca.

Pessoalmente, a minha opinião em relação a esta eleição está dividida. Por um lado, considerar-se um blogue o melhor é um terreno perigoso e subjectivo. Creio que um blogue é o espelho de uma personalidade. Se for feio ou bonito, lixo ou luxo, para todos ou só para alguns, um blogue é sempre um pedaço da alma de quem o mantém, requer sempre algum empenho, nem que seja mínimo. Considerar um blogue melhor ou pior em detrimento de outros é ferir um ego.

Porém, como disse o camarada Papo-Seco e muito bem, esta é uma excelente maneira de conhecer outros blogues que de outra maneira passariam despercebidos. Assim, elaborei a seguinte lista, tendo em conta os seguintes factores dois pontos parágrafo travessão:

- Blogues que me agradam;
- Blogues que visito regularmente;
- Blogues onde me sinta bem e sem constrangimentos;
- Blogues que me tenham marcado de alguma maneira em 2006;
- Blogues aos quais me linko.


Encarem esta lista não como os "melhores blogues", mas sim como mais uma série de recomendações...

"Melhor Blog" Individual Feminino: Insustentavel Leveza e Escrita, pela honestidade, simplicidade e boa onda.

"Melhor Blog" Individual Masculino: Por aqui tenho vários. O Ironia do Destino e o Abrupto Sexual conseguem sempre colocar-me um sorriso na cara, o 9-9 é uma bela fonte de informação musical, e o Contra Cultura é um blogue como o meu só que em bom. Incluo nesta categoria também o Dias Úteis. Apesar de ser um blogue de uma figura pública, transmite-me muita serenidade e paz de espírito, levando-me a crer que o Pedro Ribeiro é um tipo porreiro. Agora reparo que não me linko a ele. Vou já tratar disso.

"Melhor Blog" Colectivo: Desconfio de blogues colectivos. Demasiados egos à mistura. Um blogue colectivo do qual gostava era o BlogCafé. Estava a ir no bom caminho, até começarem todos à bulha e aquilo implodir. Mas mesmo a implosão teve a sua pinta.

"Melhor Blog" Temático: O TóColante (postais de propaganda do antigamente) e o E Deus Criou a Mulher (meninas bonitas). Já não sei muito bem se o Cromo dos Cromos (cromos de futebol) é um blogue ou um site, mas pelo sim pelo não, incluo-o à mesma nesta categoria.

"Melhor Blog": Não é segredo para ninguém. O meu blogue favorito é o Uma Sandes de Atum. Por não ter pontuação, por não ter preconceitos, e principalmente, por não ter pretensões.

"Melhor Blogger": W., por ser o blogger mais porreiro que conheço pessoalmente!



Edit: Reparo agora que me esqueci de muitos outros blogues dos quais gosto e por onde passo momentos agradáveis, mas agora também não vou alterar nada. Desculpem qualquer coisinha...

14.11.06

Discos: Gogol Bordello - Gypsy Punks Underdog World Strike

De pé, oh vítimas da Pop! De pé, famélicos da música! Está para estalar mais uma revolução! Chegam ao Contraculturalmente os Gogol Bordello!



Gogol Bordello é uma banda Punk de New York, que se distingue das demais pelo ecletismo dos seus instrumentistas e pela extravagância do seu front-man, o inenarrável Eugene Hütz. Por aqui pontuam um baterista, um baixista e uma bailarina Norte-Americanos, um acordeonista e um violinista Russos, uma outra bailarina Tailandesa, um guitarrista Israelita e um vocalista Ucraniano, compondo um caldeirão musical que junta a fúria do Punk versão The Clash e da música cigana Balcânica ao dub Jamaicano, passando pelos ritmos latinos. Longe de serem indigestos, os Gogol Bordello são antes uma força da natureza tanto em estúdio como ao vivo, muito por culpa do violinista, das bailarinas/performers e do Che Guevara de Chernobyl, Sr. Hütz, o que se pode comprovar numa breve saltada ao Youtube.

Album mais recente, recomendação óbvia, Gypsy Punks Underdog World Strike, de 2005.



Gypsy Punks Underdog World Strike é um album insano, pleno de humor e boa disposição, visível em títulos como Think Locally, Fuck Globally e Start Wearing Purple. O vocalista, no seu carregado sotaque de Leste, diverte-se apelidando todas as mulheres de "Sally" nas letras de Gogol Bordello, num misto de Ucraniano, Árabe, Espanhol e Inglês. Por detrás de toda a festa e alegria, existe também em Gypsy Punks Underdog World Strike um lado de consciência política que poderá escapar numa primeira audição. A música Immigrant Punk destaca-se pela critica ao tratamento recebido pelos emigrantes nos Estados Unidos (e no mundo, já agora). Um pouco à maneira de Manu Chao, mas, e eu como fã de Manu Chao e Mano Negra nunca pensei em dizer isto, ainda mais festivo e forte, um grande circo misturado com casamento cigano, festarola de aldeia e Punk cosmopolita. Uma ode à vida! Legalize Gogol Bordello!

9.11.06

Banda Desenhada: Superman Vs Muhammad Ali

Possuo um ódio de morte pelo Super-Homem. Poderia justificar esse meu ódio recorrendo ao velho ensinamento que meu pai me transmitiu um dia (homem que veste cuecas vermelhas por cima das calças nunca poderá ser super), mas não o vou fazer. O meu ódio é muito mais profundo e justificável. Citando directamente o genérico da série de animação subordinada à personagem, Superman, um ser perfeito, inquebrável e invencível, luta pela verdade, justiça e o "American Way". Ora, tendo em conta os eventos do passado mais recente envolvendo a política externa dos Estados Unidos, juntar "American Way" às palavras justiça e verdade não cola. A primeira aparição de Superman, aliás, foi na forma de um vilão superpoderoso com pretensões à conquista mundial. Que positivo para nós que Superman tenha sido posteriormente convertido à causa americana...

Posto isto, adoro quando o grande herói Americano de Krypton leva uma bela sova. Especialmente quando essa sova é aplicada pelo autodenominado "maior lutador de todos os tempos", o grande, o inimitável, o artista anteriormente conhecido por Cassius Clay, Muhammad Ali!



Superman vs Muhammad Ali é apenas um dos muitos livros de banda desenhada nos quais celebridades de carne e osso se unem a personagens da 9ª arte, um género muito em voga nos anos 70. E se a ideia de se juntar o maior pugilista de todos os tempos ao maior canastrão desenhado de todos os tempos vos parece ridícula (porque é), o certo é que este livro vendeu como ginjas nos idos de 1978.

A história começa com uma invasão extra-terrestre. Os aliens, sedentos de sangue, propõem à humanidade que eleja o seu melhor lutador para defrontar o campeão inter-galáctico num combate de boxe. Se o campeão terrestre vencer, os invasores partirão em paz. Caso contrário, espera-nos milénios de escravidão, dor e sofrimento.

Dois lutadores assumem a responsabilidade. Superman (que devia ter sido desclassificado logo à partida por não ser terrestre) e Muhammad Ali. Ambos têm de lutar para se decidir qual será o representante do planeta azul na maior batalha de todo o cosmos (segundo os entendidos).

Superman vs Muhammad Ali é um livro de banda desenhada datado, que reflecte o mundo nos anos 70. Muitos dos extra-terrestres são claramente inspirados no Star Wars, que havia estreado poucos meses antes, Muhammad Ali havia perdido o título de campeão mas continuava a ser o maior, Sony Bono ainda tinha a cabeça em cima dos ombros (se olharem bem para capa, poderão ver a sua cabeça sobre o ombro do Batman) e Superman, apesar de canastrão, era simpático e divertido, à imagem dos heróis de BD mainstream da época. A arte deste livro, hoje em dia muito retro, ganha pontos especialmente por isso mesmo, e este livro é constitui bonita uma curiosidade para todos os amantes de banda desenhada.

E, caso estejam interessados no resultado do combate...



Superman levou tautau! Muhammad salva a terra! Obrigado, salvador Ali! Na verdade o Superhomem que leva tautau do senhor Ali era um impostor e o verdadeiro Superhomem disfarça-se de Clark Kent para poder fugir ao combate e salva assim o mundo, o que não deixa de ser uma cobardia da parte do "homem de aço"...





Comprovem a canastriçe machista de Superman em Superdickery.com.

4.11.06

Livros: Sr Bentley o Enraba-Passarinhos

Senhor Bentley, o Passarinheiro, o Passarão, O Enraba-Passarinhos. O Lambe-Lambe, o paneleiro corno-de-merda, peneirento, o caga-lume, o apaga-lume, o arrebita-a-nabiça, ai arrebita-arrebita!; Senhor Bentley, o Visitador de Cemitérios. Ó.



Tenho por hábito visitar várias livrarias semanalmente especialmente para saber as novidades em termos de livros técnicos. Passo sempre um bom bocado a folhear livros de ornitologia (a minha actual profissão centra-se essencialmente na observação e identificação de aves), espremendo-os até perderem completamente o interesse. Depois, agarro num romance e levo-o para casa, deixando os livros de passarinhos para outra altura.

Numa visita recente a uma dessas livrarias, encontro, entalado entre títulos como "Onde Observar Aves no Sul de Portugal" e "Collins Bird Guide", algo que me chamou a atenção. Um pequeno livro rosa-choque, perdido naquela secção mas completamente desavergonhado, de seu nome Sr. Bentley O Enraba Passarinhos, escrito por uma tal Ágata Ramos Simões. Compro-o só pela subversidade e coragem do título. E ainda bem que o fiz.

Descubro que Ágata Ramos Simões é uma jovem operadora de Call-Center que alterna a sua profissão com a paixão da escrita, sendo Sr. Bentley o Enraba Passarinhos já o seu terceiro livro. Escrito algures entre 2003 e 2004, e tendo sido recusado por 17 (dezassete!) editoras até conseguir chegar à tipografia graças à Saída de Emergência já em Janeiro de 2006, Sr. Bentley é um belo livro sobre um homenzinho sádico, crápula e mau de indumentária vitoriana que se diverte a enganar, manipular e ridicularizar todos os que o rodeiam. Completamente non-sense e agressivo, fruto de uma relação improvável entre Boris Vian e Happy Noodle Boy, mas com um toque muito seu, Virgílio Bentley é simplesmente hilariante! As visitas a campas desconhecidas no cemitério, os chazinhos com a enfadonha Miss Joyce, as conversas com o próprio diabo, as idas às casas de putas, as conversões aos tele-evangelistas, tudo é escrito com um refinado sentido de humor, que nos aperta o estômago e nos faz verter uma ou outra lágrima de tanto rir! Verdadeira pedrada no charco!


Sigam o trabalho de Ágata Ramos Simões no seu blog, escrita.blogspot.com.

Leiam a entrevista à autora, cortesia Bad Books don't E-Zine.

E passem os olhos pelo primeiro capítulo de Sr. Bentley O Enraba Passarinhos, aqui.

1.11.06

Troca de Galhardetes

Hoje, o meu contador de estatísticas revelou-me uma agradável surpresa: descobri que tenho (mais) um irmão!

O Contra Cultura (contraculto.blogspot.com) é um blog de estética similar ao Contraculturalmente. Nesse cantinho da blogosfera, analisam-se filmes, livros, jogos de computador, BD e muita música, destacando-se pelo bom gosto que falta quase sempre aqui pelo meu espaço. O primor e empenho que Bruno Taborda imprime aos seus textos transpira amor e dedicação, e apesar de as postagens não serem muito frequentes, vale toda a pena visitá-lo. Memorizem então a morada, e acolham-no.

31.10.06

Tascas: Calotas

Como Portugueses, três aspectos nos distinguem das demais nações. O primeiro aspecto é a eterna melancolia na qual estamos envolvidos. O fado, a saudade, o saudosismo... Não há por esse mundo fora outro povo que se entregue com alma e coração a estes sentimentos, que os abrace e guarde com tanta ternura como nós. O Segundo, a nossa história. Existimos oficialmente como nação desde 1143, apesar de o nosso território ter sido alvo de imensas conquistas e reconquistas desde há pelo menos 5000 anos. A nossa história é forte, é inegável, é nossa! O Terceiro, a variedade, complexidade e uso abusivo de palavras aumentadas sinteticamente utilizando o sufixo "ões". Palavrões, portanto.

Em Faro, estes 3 aspectos reúnem-se em harmonia no café Bombordo. Situado bem no centro do núcleo histórico da capital algarvia, a Vila Adentro, perto da estátua de D. Afonso III, o rei que tomou o Algarve aos mouros, o Bombordo resiste ao avanço galopante do turismo que invade o sotavento algarvio esgotados que estão os recursos do barlavento. Uma réstia de Portugalidade e tipicidade, lutando ingloriamente contra o seu destino...

Uma esplanada com mesas e cadeiras de plástico, espaço fechado com 4 metros quadrados, especializado em Sagres, Super Bock e Carlsberg, o Bombordo, longe de ser uma taberna como outra qualquer, destaca-se das demais pelo atendimento e serviço prestado pelo seu proprietário, de tal modo que o café em si é conhecido não pelo seu nome de baptismo mas sim por outro bem mais apropriado: o Calotas!




O Calotas é conhecido por tratar todos os seus clientes por igual, não olhando a raça, credo ou sexo. Não interessa se é o Zé das Couves ou o Pedro Miguel Ramos, o Calotas não faz distinção entre clientes. Dali, toda a gente sai insultada! TODA! Recordo aqui com alguma saudade a minha primeira experiência no Calotas, sem qualquer aviso prévio daquilo que me esperava:

- Quero uma cerveja...

- Vai buscar, caralho!

- Vou buscar? Como assim?

- És burro ou comes merda? Vai buscar a puta da cerveja à puta da arca, caralho!

Amor à primeira vista. A partir daí, todas as vezes que visitei o Bombordo, sou insultado de formas cada vez mais originais, o que me faz ter sempre vontade de voltar. Da última vez, o Calotas deu-me uma lição de civismo, misturando regras de etiqueta com ameaças à minha integridade física. Uma experiência extra-sensorial. O Bombordo está sempre cheio, mesmo em noites frias e chuvosas, o que me leva a crer que não seja o único a encarar os mimos distribuídos aleatoriamente pelo Senhor Calotas como elogios gratificantes! Ninguém sai dali magoado, e o próprio comportamento do proprietário é fomentado e encorajado pela sua clientela.

Encarem este post como um aviso ou um convite. "Mija no espaço, consome no espaço!"

27.10.06

Filmes: Ataque dos Tomates Assassinos

Attaaaaaaaack of the killer tomatoes!
Attaaaaaaaack of the killer tomatoes!
They'll beat you, bash you,
Squish you, mash you,
Chew you up for brunch,
And finish you off, for dinner and lunch!

O Ataque dos Tomates Assassinos (Attack of The Killer Tomatoes, no original) é um clássico de série-B de 1978. Quando se fala de filmes terrivelmente maus, muitos são os que o usam como referência. Porém, quantos de vós viram realmente este filme? Eu próprio, que me assumo como tarado por filmes de baixa qualidade e orçamento nulo só mesmo muito recentemente tive a oportunidade de analisar as complexidades filosóficas desta obra. Segue-se resumo breve e sucinto da minha experiência com os Tomates Assassinos:



Objecto de estudo: Attack of the Killer Tomatoes (2 Disc Special Collectors Edition)

Tentativa #1

Dia: Quarta-Feira à tarde

Estado: Ressacado

Análise: Muito barulho, muito tomate, muita histeria, muita música de fundo, muita cantoria, muito sono, pouca paciência para tomates.

Veredicto: Sofá 1 Tomates Assassinos 0



Tentativa #2

Dia: Terça-Feira à noite

Estado: Cansado, mas desperto

Análise: O mundo vê-se a braços com um ataque planeado por tomates, que atacam indiscriminadamente toda a raça humana. Um grupo de cientistas altamente qualificados é designado para estudar a melhor maneira para erradicar o problema, e concluem que a solução passa por destruir os tomates a tiros de caçadeira. Mas como evitar uma hecatombe quando até o próprio sumo de tomate se revela letal? Nada melhor do que juntar uma task force de profissionais! Incluídos nesta equipa temos um mergulhador, um paraquedista, uma atleta que come cereais chamados "Steroids" ao pequeno almoço, e um mestre do disfarce com a missão de se vestir de tomate e infiltrar-se no acampamento inimigo. Tudo se revela infrutífero, até se descobrir que a única forma de dominar os tomates é através de uma canção ("Puberty Love" é o seu nome) verdadeiramente insuportável, tanto para fruta com pretensões a vegetal como para seres humanos (e espectadores).



O Ataque dos Tomates Assassinos está carregado de um amadorismo enternecedor. Os actores não têm noção de timing, alguns diálogos são (mal) dobrados, e os ataques que dão nome ao filme são inacreditáveis. No início da película, os tomates são vulgares, iguais aos que comemos na salada. Simplesmente rebolam para perto das vítimas, resmungando. A vítima grita, o tomate resmunga, a vítima cai para o chão, o tomate sobe para cima da vítima. Ataque consumado! Mais tarde, os seres maléficos evoluem, e tornam-se bolas vermelhas de papel celofane, resmungando ainda mais alto e rebolando mais rapidamente (graças a um complicado sistema de rodinhas e fios de nylon)! Em alguns dos ataques, é perfeitamente visível que os tomates estão a ser atirados para cima dos actores. Metade do orçamento deste filme foi gasto na mercearia. O restante foi utilizado para pagar o helicóptero emprestado que se despenha logo no início do filme, quase matando o actor principal e a equipa técnica.

A edição especial vem carregada de extras bem interessantes. Encontra-se nesta secção uma curta metragem de 8 milímetros que deu origem ao filme, uma visão sobre o que aconteceu aos actores passados quase 30 anos da sua estreia (o chefe da task force é agora dono de uma suinicultura, e Matt Cameron, que canta a inacreditavelmente irritante "Puberty Love", tornou-se no baterista dos Pearl Jam) e um peculiar documentário baseado na tentativa de impedir a criação deste filme por parte do governo dos Estados Unidos, bem antes de se começarem a produzir alimentos alterados geneticamente, entre muitas outras guloseimas.

Veredicto: Ataque dos Tomates Assassinos não se limita a ser estúpido. Ataque dos Tomates Assassinos eleva a estupidez a um patamar nunca antes alcançado! A estupidez de Ataque dos Tomates Assassinos chega a ser insultuosa! O Ataque dos Tomates Assassinos é o teste cooper da estupidez! Assistir aos 83 minutos de Ataque dos Tomates Assassinos pode tornar-se numa experiência transcendente, onde os limites da estupidez lutam constantemente com os da paciência. Ladrões de mercearias tornam-se budistas após o visionamento do Ataque aos Tomates Assassinos. O Ataque dos Tomates Assassinos deveria ser mostrado nos ciclos preparatórios em campanhas de prevenção contra a violência escolar.

É mau, e no entanto, hipnotizante e magnético. Filme obrigatório!

Excerto:

25.10.06

Discos: Damien Jurado - Rehearsals For Departure & On My Way To Absence

A beleza de se ter um blog é que podemos planear o que queremos fazer dele, quando queremos. Escolhemos um tema, arrumamos as ideias na cabeça, definimos o que queremos escrever, e quando finalmente temos algum tempo para meter mãos à obra, acabamos por não fazer nada daquilo que pensámos fazer. De que vale estar um mês a planear um post quando, no dia que definimos para o redigir, acordamos com vontade de escrever algo completamente diferente?

Tudo isto para dizer que hoje era para estar aqui um post relacionado com outra banda. Acontece que acordei com a música de Damien Jurado na cabeça, de modo que não vejo outro remédio senão libertá-la aqui...



Damien Jurado é um contador de histórias mascarado de singer-songwriter. Originário da chuvosa Seattle, Jurado imprime às suas criações o cinzentismo próprio do ambiente em que vive, com alguns (poucos) rasgos de luminosidade aqui e ali, predominando a guitarra acústica tocada com cuidado e primor. A sua peculiar voz e estilo musical valem-lhe a comparação ao grande Nick Drake, cuja influência Damien não nega, ao colocar recentemente na internet uma soberba versão do clássico de Drake, Pink Moon.

Damien Jurado possui de momento 8 albuns no seu curriculum, sendo o mais recente And Now That I'm In Your Shadow, editado este mês. Destaco da sua discografia duas obras, por razões distintas:



Rehearsals For Departure, de 1999, é um album sobre relações humanas. Sobre as pessoas com quem vivemos, com quem crescemos, com quem nos cruzamos na rua, com quem criámos laços de amizade e amor. E sobre a fragilidade desses laços, de como tendem a partir-se. Um album acústico, simples, um tanto ou quanto amador, mas muito bonito, especialmente a nível lírico. O disco perfeito para reler cartas de amor antigas e rever fotografias de outros tempos em que tudo o que fazia sentido na altura deixou entretanto de o fazer. Destaque natural para Ohio, a primeira faixa, sobre uma jovem adulta que havia sido raptada pelo pai em pequena e deseja regressar para casa da sua mãe, no longínquo estado de Ohio.

Aprecio Rehearsals For Departure pela carga emocional que carrega na minha vida. Este foi o primeiro disco de Damien Jurado que me foi dado a ouvir, emprestado por uma pessoa com quem partilhei uma forte amizade mas que neste momento já não se encontra no meu restrito círculo de amigos. Lá está, laços partidos...

Por ser extremamente difícil de adquirir (só agora finalmente o encontrei, após anos de busca, graças à maravilhosa Alquimia), recomendo também o seu album de 2005:



On My way To Absence aponta para uma mudança no rumo musical para Damien Jurado, sem no entanto comprometer as suas raízes folk. Por aqui ouvem-se mais guitarras eléctricas e até laivos de electrónica, e liricamente, o desespero vai dando lugar à esperança. Um disco muito relaxante, melancólico sem ser depressivo, tido como o seu melhor até à data. Destaque para Fuel (gosto de músicas simples em viola de caixa), e a agridoce Simple Hello.

Damien Jurado é um artista que no vai ofertando pequenos tesouros quase envergonhados, quando a consistente qualidade do seu trabalho teima em não ser reconhecida. Creio no entanto que se Damien Jurado procura algo na vida, não será com toda a certeza reconhecimento.

20.10.06

Banda Desenhada: The Tick

Pergunta-me um amigo há uns tempos, no meio de uma conversa ultra-geek sobre banda-desenhada:

- Se pudesses ser um super-herói, quem serias?

Ao que eu respondi, alto e com convicção:

- The Tick!



- The Tick? O que é isso?

- The Tick era um super-herói que atingiu notoriedade nos anos 90, na altura do boom dos comics norte-americanos. The Tick, que em português significa "o carraça", funcionava como uma paródia a todo esse frenesim de livros de banda desenhada, ao mesmo tempo que prestava homenagem aos grandes ícones da BD, satirizando-os. A personagem ganhou algum culto em seu redor quando as suas aventuras foram transpostas para a uma série de animação e, mais recentemente, para uma outra série com personagens de carne e osso.

- Mas em que é que assentava esse comic?

- Basicamente, The Tick era um tipo vestido com um fato azul de carraça que combatia o crime, juntamente com Arthur, um contabilista envergando um traje de traça. No entanto, combater o crime revelava-se uma tarefa bastante difícil, uma vez que o mundo já se encontrava completamente lotado de super-heróis, que lutavam entre si pela captura dos vilões. Entre eles, existia por exemplo o The Caped Wonder (uma paródia ao Super-Homem, que perdia os poderes se lhe partissem os óculos), The Visible Man (um homem invisível, só que ao contrário), Wonder Maid (a Criada-Maravilha, baseada na Mulher-Maravilha) e The Running Guy (mais rápidos que dez homens rápidos).

A verdadeira força deste livro baseava-se na toada completamente surrealista e disparatada das desventuras deste personagem. Um dos poderes de The Tick era algo chamado "Drama Power", que lhe permitia ganhar um incremento de força à medida que as situações por ele vividas ficavam mais dramáticas. Os seus dentes eram à prova de bala e o herói tornava-se completamente invulnerável à noite, além de possuir um disfarce completamente original que lhe permitia passar despercebido entre a multidão.



- E isso encontra-se por aí?

- Dificilmente. A série original foi publicada originalmente em 1988, e é praticamente impossível de encontrar hoje em dia. No entanto, volta e meia surgem no mercado de importação algumas mini-séries, como por exemplo, a excelente The Tick: Days of Drama, editado pela New England Comics. A primeira temporada da série de animação saiu também recentemente em DVD.

- Hum, tudo isto me parece muito estúpido...

- Ah sim? Então e que Super-herói é que gostavas de ser?

- O Homem-Aranha.

- Então e qual é a diferença entre um homem com poderes de aranha e um com poderes de carraça?

- ...







Na verdade, a conversa decorreu mais ou menos assim:

- Se fosses um super-heróis, quem serias?
- The Tick. Um gajo vestido de carraça tem o seu charme com as meninas. E tu?
- O Homem-Aranha.
-Que falta de originalidade! Bora beber minis...

19.10.06

Publicidade Descarada ao Cromo dos Cromos

Cada vez maior e mais afamado, O Cromo dos Cromos deu mais um passo na sua evolução natural e agora está mais bonito e organizado que nunca. Com novo grafismo, novas funcionalidades, maior aprumo, e os cromos de sempre.



Vale bem a pena visitá-lo, pois, através de www.cromodoscromos.pt.vu

16.10.06

Livros: Film Posters - Exploitation

O livro que vos apresento hoje dificilmente entra para a categoria de literatura, uma vez que apresenta mais imagens que texto. Ainda assim, não posso deixar de incluí-lo no meu espaço. Encontra-se à venda na Fnac uma belíssima colecção de livros dedicados à fina arte dos posters de cinema. Divididos por décadas, que vão desde os anos 30 aos 70, existem também uns poucos mais específicos, retratando géneros cinematográficos como a ficção científica e o terror. Apesar do preço convidativo (9 euros e 90, uma pechincha), decidi-me por apenas um volume, dedicado à Exploitation.



Film Posters Exploitation é, como o próprio nome indica, uma colecção de posters relacionados com filmes, muitos deles felizmente já esquecidos, que utilizam temas chocantes e alarmistas como carburador, originalmente indo contra os valores morais e tabus da época em que eram criados, até se tornarem num género cinematográfico com mérito próprio nos anos 70. Sexo, delinquência, drogas várias, pedofilia, transformismo e minorias étnicas, eis alguns dos temas mais explorados por tantos realizadores ao longo da história do cinema, prontamente esquecidos na sua grande maioria, tal a falta de qualidade das suas obras. Porém, muitos dos cartazes destes filmes apresentam uma qualidade e uma originalidade largamente superiores aos filmes em si.



O Exploitation, como género, destaca-se dos demais pela quantidade de temas que cada categoria pode albergar. A título de exemplo, dentro da categoria "Sexo" encontramos a tara por seios grandes de Russ Meyer (o tal de Faster, Pussycat, Kill Kill, de 1966), o latex em Slaves in Bondage, de 1937, a esterelização em Tomorrow's Children, de 1934, o clássico transformista de Ed Wood Glen or Glenda, de 1953, as doenças venéreas em Damaged Goods, de 1937, e por aí fora...

Film Posters Exploitation traça a história de todo um género, combatido e censurado desde a sua génese até aos dias de hoje, enquadrando as películas no contexto social em que foram originalmente lançadas, efectivamente e sem moralizar. Alternando entre o belo e o ridículo, pleno em detalhes e pormenores interessantes, (Marijuana, de 1952, protagonizado por... John Wayne?) esta é uma compra enriquecedora para aficionados e curiosos.

29.9.06

Filmes: Snakes on a Plane

Acabado de chegar do cinema, e ainda mal refeito do choque, não poderia deixar passar a oportunidade de voltar a recomendar vivamente o Snakes On A Plane, que chegou há poucas horas ao nosso país.



Primeiro, o culto antes do filme. Reza a lenda que o actor principal Samuel L. Jackson nem sequer leu o argumento, bastando-lhe passar os olhos pelo título para aceitar participar nesta película. Consta também que os produtores, temendo tornarem-se alvo da chacota da indústria cinematográfica, tentaram mudar o título para Pacific Air Fligh 121. Sam Jackson ameaçou desistir do filme se o mesmo não se chamasse Snakes On A Plane. A comunidade de cinéfilos pela internet fora começou a desenvolver um culto que se tornou numa bola de neve. Sites, T-Shirts, músicas, animações, montagens, tudo foi feito para homenagear um blockbuster antes mesmo de estrear. A expressão Snakes On A Plane passou a ser sinónimo de Shit Happens no léxico urbano Norte-Americano. Novas cenas foram incluídas após a finalização do filme, para não desiludir os internautas. Snakes On A Plane simplesmente não seria o mesmo se não incluísse as frases "Enough is Enough! I have had it with these motherfucking snakes on this motherfucking plane!", criada e fomentada pelo público cibernético!



Segundo, o argumento. Alguém testemunha um homicídio, e esse alguém vê-se obrigado a fugir do assassino. Cabe ao agente do FBI Samuel L. Jackson o dever de acompanhar a testemunha desde o Hawai até Los Angeles, de modo a que o jovem possa testemunhar o crime e colocar o vilão atrás das grades. Para impedir que tal aconteça, o mau da fita resolve encher o avião onde Sam e a testemunha viajam com cerca de 500 cobras e serpentes das mais variadas formas, cores e feitios. 500, para se ser mais preciso. É isto. É idiota. É série-B. É lindo!



Terceiro, o filme. Snakes On A Plane, não é apenas um filme mau, é um filme inacreditavelmente mau! Terrível, mesmo. Os diálogos são insípidos, as cenas estão coladas com cuspo e só o Samuel consegue aguentar a pouca coerência desta película. As cobras foram criadas por computador e estão mesmo muito mal feitas, sem qualquer realismo. As pessoas que se encontram no avião são mordidas e atacadas de todas as formas imaginárias e nos locais do corpo mais improváveis (vejam e comprovem vocês mesmos). As soluções para o combate às serpentes são hilariantes de tão ridículas e descabidas. Nada neste filme escapa! Nada!



Quarto, apreciação global. Snakes On A Plane começa como um filme de Domingo à tarde, ou seja, "simplesmente mau". Gradualmente, evolui para o desejado estatuto de filme "tão mau, tão mau, que se torna bom", especialmente quando as cobras lançam o primeiro ataque. Juro, chorei de tanto rir com a violência disparatada e desnecessária dos ataques, a tal ponto de ter chocado algumas pessoas no cinema com o meu comportamento ("não sei qual é a piada, estão pessoas a morrer no avião, não tem sentimentos?", indagou-me um senhor ao intervalo, alheio ao facto de que serpentes pixelizadas dificilmente fariam maldades a alguém). Queria ver um filme mau e Snakes On A Plane correspondeu e superou plenamente as minhas expectativas. Vejam-no por vossa própria conta e risco. Acompanhados, de preferência.

28.9.06

Uma boa razão para ir hoje ao cinema

Quando, daqui a muitos anos, os vossos filhos/netos/sobrinhos descobrirem que em tempos foi criado um filme intitulado Snakes On A Plane e que esse filme de bom só tinha o nome, poderão encher o peito e dizer: "AHÁ! Eu fui vê-lo ao cinema!" Tão simples como isto.



Snakes On A Plane. O titulo mais honesto de sempre para o blockbuster mais esgroviado do ano. Estreia logo à noite. Ide vê-lo.

27.9.06

Séries: Happy Tree Friends

Sendo eu uma pessoa com um imenso amor para dar, não posso sentir nada senão carinho e compaixão por todas as criaturas que Deus Nosso Senhor colocou à face da terra para serem admiradas em toda a sua graça. Os coelhinhos, os ratinhos, os leõezinhos, as osgazinhas, as formiguinhas, todas levam de mim o amor que brota do meu coração, qual cascata peganhenta de hemoglobina. Uns senhores responsáveis pelo site Mondo Mini Shows partilham comigo esta minha visão pelo mundo, de tal forma que resolveram criar uma série de animação plena de alegria e felicidade, intitulada Happy Tree Friends.



Happy Tree Friends é então um conjunto de episódios realizados em Flash, uma ferramenta que tornou a animação em algo muito mais acessível para o comum dos mortais sem acesso a computadores potentíssimos e programas mais valiosos que o meu ordenado líquido anual, e por conseguinte, que a minha própria vida. Os seus protagonistas são pequenos animais queridos e fofinhos capazes de levar a petizada à loucura tal é a vontade de os apertar até lhes tirar o fôlego. E é mesmo nesse aspecto que a série se distingue das demais. Os animaizinhos são realmente espremidos até ficarem sem fôlego e lhes saltarem os olhinhos das órbitas. E também decapitados, empalados, amputados, espezinhados, queimados e finalmente, assassinados apenas para voltarem sãos e salvos para o episódio seguinte.



Cada episódio começa como se de um livro para crianças se tratasse. As páginas viram-se e as personagens são apresentadas enquanto somos massacrados pela deveras viciante (e a certa altura, irritante) cantiga do genérico. Depois, somos presenteados com violência excessiva e gráfica, de tal forma que desejamos que nenhuma criança tenha o azar de encontrar um destes episódios pela internet, sob risco de ganhar um trauma para a vida. No final, recebemos sempre uma bela moral que serve de lição com o que aprendemos no dito episódio (Lava-te sempre atrás das orelhas, por exemplo).

Nascida na Internet, a série começou a gerar grande burburinho a partir do momento em que começou a ser exibida pela televisão (eu conheci-a no extinto Locomotion), apesar dos episódios nunca excederem os 3 minutos de duração. Vários DVD foram criados compilando as demais temporadas destes amigos peludinhos, e a primeira chegou entretanto a Portugal.



Perguntarão vocês, para quê comprar um DVD de uma série de animação quando todos os episódios se encontram espalhados pela internet? E eu respondo:

1- Que nem todos os episódios estão na net (na verdade, está para estrear uma série de Happy Tree Friends exclusivamente para televisão);

2- Que o DVD vem com mais de duas horas de material, arrumadinho e sem publicidade, ao contrário dos episódios internéticos;

3- Que esta edição contém episódios inéditos e hilariantes comentários audio dos criadores, bem como sketches, desenhos das personagens, storyboards e outras agradáveis surpresas;

4- Que podemos ver os episódios no conforto dos nossos sofás e levá-los para casa daqueles amigos que ainda não têm internet;

5- Que a edição do DVD vem com um peluche de uma das personagens da série à escolha. Eu levei o peluche do Cuddles, o coelhinho da capa, para oferecer à minha sobrinha de 3 anos, que assim que o viu fez má cara e disse "Fuuu, cheira mal" enquanto o atirava pela janela. Cuddles, nascido para sofrer!

Portanto, Happy Tree Friends, o DVD! Para quem gosta de animação e desconhece o significado das palavras "politicamente" e "correcto" juntas na mesma frase! Resistance is futile!

25.9.06

Filmes: Delicatessen

E porque nem só de escolhas duvidosas vive o espaço dedicado ao cinema deste blog, hoje trago-vos um dos meus filmes preferidos, Delicatessen, de 1991.



O cenário é uma qualquer França pós-apocalíptica. O dinheiro deixara de ter valor num mundo sem comida, e a troca directa ganha uma importância medieval. Um senhorio vive à sombra desta desgraça, fornecendo aos seus inquilinos carne humana da melhor qualidade trocando-a no seu talho por produtos hortícolas e favores sexuais. Através de um anúncio num jornal, este talhante obtém as suas vítimas aliciando-as com trabalhos leves de manutenção. Maravilhados com a hipótese de uma vida melhor, as pobres almas que respondem ao anúncio acabarão invariavelmente no prato. A sua mais recente aquisição é um artista circense vegetariano chamado Louison, interpretado por Dominique Pinon, um dos melhores actores cómicos franceses da actualidade.



O grande valor de Delicatessen passa pela riqueza e detalhe nos pormenores e personagens. Desde o senhor que vive numa cave alagada alimentando-se de caracóis e sapos, à eterna suicida falhada que procura a morte através de complicados esquemas que fazem lembrar os desenhos animados do antigamente, à filha do talhante extremamente míope apaixonada pelo palhaço que lhe servirá de sustento, ao próprio palhaço, tudo está extremamente detalhado e pensado ao ínfimo pormenor. A trama muitas vezes prescinde de diálogo para manter o seu ritmo, e as sequências coreografadas tornam-se nos momentos mais memoráveis de Delicatessen. Destaque para a cena de sexo entre o talhante e uma inquilina que acaba por envolver involuntariamente todo o prédio e para o dueto entre um violoncelo e um serrote.



Delicatessen é a primeira longa-metragem de Jean-Pierre Jeunet, o homem responsável pelos aclamados A Cidade das Crianças Perdidas e O Fabuloso Destino de Amelie. Razão mais que suficiente para ver/rever (riscar o que não interessa) esta pequena pérola de genialidade que transforma um acto tão repudiante como o canibalismo num momento de humor roçando a perfeição.

E com isto tudo acabei por não ter espaço para falar da fotografia deste filme. É boa. Muito boa. É linda! Pronto, já falei.

Trailer:

22.9.06

Discos: Interpol - Antics

Numa recente viagem ao Porto, depois de muitas horas de copos e convívio, um amigo meu disse-me o seguinte:

"Ah, e tal, eu gosto bastante do teu blog. Volta e meia visito-o e gosto especialmente das escolhas musicais. Só acho que devias incluir Interpol. Quem visita o teu espaço até pode pensar que tu não gostas de Interpol. Tu gostas de Interpol, não gostas? Tens de meter lá Interpol, senão aquilo não fica completo."

Portanto, como realmente gosto de Interpol e não quero que falte nada aos meus amigos, Ricardo Granja, este post é para ti.



Os Interpol são uma banda rock de Nova-Iorque. Praticantes de um estilo de som que poderia ser catalogado simplesmente de Interpol, este agrupamento musical nascido em 1998 combina música algo introspectiva juntamente com momentos altamente dançantes, tudo na mesma faixa musical. Os Interpol foram tão capazes em criar o seu próprio estilo de som dentro do nicho Indie-Rock que entretanto já nasceram e passaram de validade diversas cópias genéricas desta banda, como de costume quando algo de novo surge no panorama musical.

Entre os dois longa-durações desta banda (vem mais um a caminho), destaco o mais popular e reconhecido Antics.



Editado em 2004, Antics é um sólido e despretensioso album Rock. Mais animado que o antecessor, Turn On The Bright Lights (que ainda assim inclui a minha canção preferida deste grupo, I Love NYC), este disco possui uma aura magnética que atrai o ouvinte, e as letras e a voz encontram-se impregnadas de uma escuridão sarcástica que contrastam com a luminosidade do acompanhamento sonoro. Os riffs de guitarra, embora simples, resultam na perfeição. O mesmo se aplica à bateria e baixo. Simplicidade, ordem e eficiência. Como diria Ricardo Granja, "o verdadeiro Rock"!

Destaques: O single óbvio Evil, a guitarra de Public Pervert e tudo e mais alguma coisa em Cmere e Slow Hands. Não conhecem Interpol? Grave, amigos, muito grave.

21.9.06

Para quem encontrou este blog quando procurava o significado de lentrisca

Lentrisca é entremeada em Leiria.

(e já agora, para quem veio aqui parar à procura de traduções para Alemão, amêijoa é muschel)

Brevemente...

20.9.06

Banda Desenhada: O Amor é um Inferno

Acredito que todas as pessoas entre os 18 e os 40 anos saberão quem é Matt Groening. Fundador da Bongo Comics, criador da série de animação mais famosa e duradoura de todos os tempos (Os Simpsons), e de uma outra não tão apreciada como deveria ter sido (Futurama), Groening possui também uma consistente carreira de cartoonista, graças às tiras de Life In Hell.

A primeira edição de Life In Hell surgiu em 1977, quando Matt Groening trabalhava numa loja de discos. Os exemplares eram fotocopiados e distribuídos gratuitamente. Eventualmente, as tiras tornaram-se um fenómeno de sucesso Underground, e começaram a ser publicadas em jornais, aumentando a sua popularidade. Ouso afirmar que sem Life In Hell não teríamos hoje Simpsons e dificilmente sonharíamos com a possível existência de Family Guy ou South Park.

As tiras de Life In Hell têm sido compiladas por temas ao longo dos anos em bonitas antologias prontas para serem devoradas por toda a petizada além-fronteiras. Por cá, a primeira compilação (Love is Hell, ou em português, O Amor É Um Inferno, editada originalmente em 1986!!!) chegou recentemente às bancas, devidamente traduzida para a língua de Camões.



O Amor É Um inferno é um olhar amargo, duro e insensível sobre o sentimento mais nobre. Não há aqui salvação possível: gays, heteros, homens, mulheres, todos levam por tabela. Os diferentes tipos de relacionamento, a grande questão do casamento, as separações, os 22 passos do desgosto de amor, os prós e contras da procriação, os 9 tipos de namorado e namorada, o amor analisado e dissecado através de cartoons bem-humorados de coelhinhos, tudo num brilhante preto e branco.

Inteligente, divertido, e assustadoramente real, este é um livro que nos consegue provar por A + B que o amor é, na realidade, um inferno, e nem vale a pena voltar a metermo-nos nele. Mas somos todos fracos e voltamos a fazer os mesmos erros uma e outra vez, não é verdade?