29.9.06

Filmes: Snakes on a Plane

Acabado de chegar do cinema, e ainda mal refeito do choque, não poderia deixar passar a oportunidade de voltar a recomendar vivamente o Snakes On A Plane, que chegou há poucas horas ao nosso país.



Primeiro, o culto antes do filme. Reza a lenda que o actor principal Samuel L. Jackson nem sequer leu o argumento, bastando-lhe passar os olhos pelo título para aceitar participar nesta película. Consta também que os produtores, temendo tornarem-se alvo da chacota da indústria cinematográfica, tentaram mudar o título para Pacific Air Fligh 121. Sam Jackson ameaçou desistir do filme se o mesmo não se chamasse Snakes On A Plane. A comunidade de cinéfilos pela internet fora começou a desenvolver um culto que se tornou numa bola de neve. Sites, T-Shirts, músicas, animações, montagens, tudo foi feito para homenagear um blockbuster antes mesmo de estrear. A expressão Snakes On A Plane passou a ser sinónimo de Shit Happens no léxico urbano Norte-Americano. Novas cenas foram incluídas após a finalização do filme, para não desiludir os internautas. Snakes On A Plane simplesmente não seria o mesmo se não incluísse as frases "Enough is Enough! I have had it with these motherfucking snakes on this motherfucking plane!", criada e fomentada pelo público cibernético!



Segundo, o argumento. Alguém testemunha um homicídio, e esse alguém vê-se obrigado a fugir do assassino. Cabe ao agente do FBI Samuel L. Jackson o dever de acompanhar a testemunha desde o Hawai até Los Angeles, de modo a que o jovem possa testemunhar o crime e colocar o vilão atrás das grades. Para impedir que tal aconteça, o mau da fita resolve encher o avião onde Sam e a testemunha viajam com cerca de 500 cobras e serpentes das mais variadas formas, cores e feitios. 500, para se ser mais preciso. É isto. É idiota. É série-B. É lindo!



Terceiro, o filme. Snakes On A Plane, não é apenas um filme mau, é um filme inacreditavelmente mau! Terrível, mesmo. Os diálogos são insípidos, as cenas estão coladas com cuspo e só o Samuel consegue aguentar a pouca coerência desta película. As cobras foram criadas por computador e estão mesmo muito mal feitas, sem qualquer realismo. As pessoas que se encontram no avião são mordidas e atacadas de todas as formas imaginárias e nos locais do corpo mais improváveis (vejam e comprovem vocês mesmos). As soluções para o combate às serpentes são hilariantes de tão ridículas e descabidas. Nada neste filme escapa! Nada!



Quarto, apreciação global. Snakes On A Plane começa como um filme de Domingo à tarde, ou seja, "simplesmente mau". Gradualmente, evolui para o desejado estatuto de filme "tão mau, tão mau, que se torna bom", especialmente quando as cobras lançam o primeiro ataque. Juro, chorei de tanto rir com a violência disparatada e desnecessária dos ataques, a tal ponto de ter chocado algumas pessoas no cinema com o meu comportamento ("não sei qual é a piada, estão pessoas a morrer no avião, não tem sentimentos?", indagou-me um senhor ao intervalo, alheio ao facto de que serpentes pixelizadas dificilmente fariam maldades a alguém). Queria ver um filme mau e Snakes On A Plane correspondeu e superou plenamente as minhas expectativas. Vejam-no por vossa própria conta e risco. Acompanhados, de preferência.

28.9.06

Uma boa razão para ir hoje ao cinema

Quando, daqui a muitos anos, os vossos filhos/netos/sobrinhos descobrirem que em tempos foi criado um filme intitulado Snakes On A Plane e que esse filme de bom só tinha o nome, poderão encher o peito e dizer: "AHÁ! Eu fui vê-lo ao cinema!" Tão simples como isto.



Snakes On A Plane. O titulo mais honesto de sempre para o blockbuster mais esgroviado do ano. Estreia logo à noite. Ide vê-lo.

27.9.06

Séries: Happy Tree Friends

Sendo eu uma pessoa com um imenso amor para dar, não posso sentir nada senão carinho e compaixão por todas as criaturas que Deus Nosso Senhor colocou à face da terra para serem admiradas em toda a sua graça. Os coelhinhos, os ratinhos, os leõezinhos, as osgazinhas, as formiguinhas, todas levam de mim o amor que brota do meu coração, qual cascata peganhenta de hemoglobina. Uns senhores responsáveis pelo site Mondo Mini Shows partilham comigo esta minha visão pelo mundo, de tal forma que resolveram criar uma série de animação plena de alegria e felicidade, intitulada Happy Tree Friends.



Happy Tree Friends é então um conjunto de episódios realizados em Flash, uma ferramenta que tornou a animação em algo muito mais acessível para o comum dos mortais sem acesso a computadores potentíssimos e programas mais valiosos que o meu ordenado líquido anual, e por conseguinte, que a minha própria vida. Os seus protagonistas são pequenos animais queridos e fofinhos capazes de levar a petizada à loucura tal é a vontade de os apertar até lhes tirar o fôlego. E é mesmo nesse aspecto que a série se distingue das demais. Os animaizinhos são realmente espremidos até ficarem sem fôlego e lhes saltarem os olhinhos das órbitas. E também decapitados, empalados, amputados, espezinhados, queimados e finalmente, assassinados apenas para voltarem sãos e salvos para o episódio seguinte.



Cada episódio começa como se de um livro para crianças se tratasse. As páginas viram-se e as personagens são apresentadas enquanto somos massacrados pela deveras viciante (e a certa altura, irritante) cantiga do genérico. Depois, somos presenteados com violência excessiva e gráfica, de tal forma que desejamos que nenhuma criança tenha o azar de encontrar um destes episódios pela internet, sob risco de ganhar um trauma para a vida. No final, recebemos sempre uma bela moral que serve de lição com o que aprendemos no dito episódio (Lava-te sempre atrás das orelhas, por exemplo).

Nascida na Internet, a série começou a gerar grande burburinho a partir do momento em que começou a ser exibida pela televisão (eu conheci-a no extinto Locomotion), apesar dos episódios nunca excederem os 3 minutos de duração. Vários DVD foram criados compilando as demais temporadas destes amigos peludinhos, e a primeira chegou entretanto a Portugal.



Perguntarão vocês, para quê comprar um DVD de uma série de animação quando todos os episódios se encontram espalhados pela internet? E eu respondo:

1- Que nem todos os episódios estão na net (na verdade, está para estrear uma série de Happy Tree Friends exclusivamente para televisão);

2- Que o DVD vem com mais de duas horas de material, arrumadinho e sem publicidade, ao contrário dos episódios internéticos;

3- Que esta edição contém episódios inéditos e hilariantes comentários audio dos criadores, bem como sketches, desenhos das personagens, storyboards e outras agradáveis surpresas;

4- Que podemos ver os episódios no conforto dos nossos sofás e levá-los para casa daqueles amigos que ainda não têm internet;

5- Que a edição do DVD vem com um peluche de uma das personagens da série à escolha. Eu levei o peluche do Cuddles, o coelhinho da capa, para oferecer à minha sobrinha de 3 anos, que assim que o viu fez má cara e disse "Fuuu, cheira mal" enquanto o atirava pela janela. Cuddles, nascido para sofrer!

Portanto, Happy Tree Friends, o DVD! Para quem gosta de animação e desconhece o significado das palavras "politicamente" e "correcto" juntas na mesma frase! Resistance is futile!

25.9.06

Filmes: Delicatessen

E porque nem só de escolhas duvidosas vive o espaço dedicado ao cinema deste blog, hoje trago-vos um dos meus filmes preferidos, Delicatessen, de 1991.



O cenário é uma qualquer França pós-apocalíptica. O dinheiro deixara de ter valor num mundo sem comida, e a troca directa ganha uma importância medieval. Um senhorio vive à sombra desta desgraça, fornecendo aos seus inquilinos carne humana da melhor qualidade trocando-a no seu talho por produtos hortícolas e favores sexuais. Através de um anúncio num jornal, este talhante obtém as suas vítimas aliciando-as com trabalhos leves de manutenção. Maravilhados com a hipótese de uma vida melhor, as pobres almas que respondem ao anúncio acabarão invariavelmente no prato. A sua mais recente aquisição é um artista circense vegetariano chamado Louison, interpretado por Dominique Pinon, um dos melhores actores cómicos franceses da actualidade.



O grande valor de Delicatessen passa pela riqueza e detalhe nos pormenores e personagens. Desde o senhor que vive numa cave alagada alimentando-se de caracóis e sapos, à eterna suicida falhada que procura a morte através de complicados esquemas que fazem lembrar os desenhos animados do antigamente, à filha do talhante extremamente míope apaixonada pelo palhaço que lhe servirá de sustento, ao próprio palhaço, tudo está extremamente detalhado e pensado ao ínfimo pormenor. A trama muitas vezes prescinde de diálogo para manter o seu ritmo, e as sequências coreografadas tornam-se nos momentos mais memoráveis de Delicatessen. Destaque para a cena de sexo entre o talhante e uma inquilina que acaba por envolver involuntariamente todo o prédio e para o dueto entre um violoncelo e um serrote.



Delicatessen é a primeira longa-metragem de Jean-Pierre Jeunet, o homem responsável pelos aclamados A Cidade das Crianças Perdidas e O Fabuloso Destino de Amelie. Razão mais que suficiente para ver/rever (riscar o que não interessa) esta pequena pérola de genialidade que transforma um acto tão repudiante como o canibalismo num momento de humor roçando a perfeição.

E com isto tudo acabei por não ter espaço para falar da fotografia deste filme. É boa. Muito boa. É linda! Pronto, já falei.

Trailer:

22.9.06

Discos: Interpol - Antics

Numa recente viagem ao Porto, depois de muitas horas de copos e convívio, um amigo meu disse-me o seguinte:

"Ah, e tal, eu gosto bastante do teu blog. Volta e meia visito-o e gosto especialmente das escolhas musicais. Só acho que devias incluir Interpol. Quem visita o teu espaço até pode pensar que tu não gostas de Interpol. Tu gostas de Interpol, não gostas? Tens de meter lá Interpol, senão aquilo não fica completo."

Portanto, como realmente gosto de Interpol e não quero que falte nada aos meus amigos, Ricardo Granja, este post é para ti.



Os Interpol são uma banda rock de Nova-Iorque. Praticantes de um estilo de som que poderia ser catalogado simplesmente de Interpol, este agrupamento musical nascido em 1998 combina música algo introspectiva juntamente com momentos altamente dançantes, tudo na mesma faixa musical. Os Interpol foram tão capazes em criar o seu próprio estilo de som dentro do nicho Indie-Rock que entretanto já nasceram e passaram de validade diversas cópias genéricas desta banda, como de costume quando algo de novo surge no panorama musical.

Entre os dois longa-durações desta banda (vem mais um a caminho), destaco o mais popular e reconhecido Antics.



Editado em 2004, Antics é um sólido e despretensioso album Rock. Mais animado que o antecessor, Turn On The Bright Lights (que ainda assim inclui a minha canção preferida deste grupo, I Love NYC), este disco possui uma aura magnética que atrai o ouvinte, e as letras e a voz encontram-se impregnadas de uma escuridão sarcástica que contrastam com a luminosidade do acompanhamento sonoro. Os riffs de guitarra, embora simples, resultam na perfeição. O mesmo se aplica à bateria e baixo. Simplicidade, ordem e eficiência. Como diria Ricardo Granja, "o verdadeiro Rock"!

Destaques: O single óbvio Evil, a guitarra de Public Pervert e tudo e mais alguma coisa em Cmere e Slow Hands. Não conhecem Interpol? Grave, amigos, muito grave.

21.9.06

Para quem encontrou este blog quando procurava o significado de lentrisca

Lentrisca é entremeada em Leiria.

(e já agora, para quem veio aqui parar à procura de traduções para Alemão, amêijoa é muschel)

Brevemente...

20.9.06

Banda Desenhada: O Amor é um Inferno

Acredito que todas as pessoas entre os 18 e os 40 anos saberão quem é Matt Groening. Fundador da Bongo Comics, criador da série de animação mais famosa e duradoura de todos os tempos (Os Simpsons), e de uma outra não tão apreciada como deveria ter sido (Futurama), Groening possui também uma consistente carreira de cartoonista, graças às tiras de Life In Hell.

A primeira edição de Life In Hell surgiu em 1977, quando Matt Groening trabalhava numa loja de discos. Os exemplares eram fotocopiados e distribuídos gratuitamente. Eventualmente, as tiras tornaram-se um fenómeno de sucesso Underground, e começaram a ser publicadas em jornais, aumentando a sua popularidade. Ouso afirmar que sem Life In Hell não teríamos hoje Simpsons e dificilmente sonharíamos com a possível existência de Family Guy ou South Park.

As tiras de Life In Hell têm sido compiladas por temas ao longo dos anos em bonitas antologias prontas para serem devoradas por toda a petizada além-fronteiras. Por cá, a primeira compilação (Love is Hell, ou em português, O Amor É Um Inferno, editada originalmente em 1986!!!) chegou recentemente às bancas, devidamente traduzida para a língua de Camões.



O Amor É Um inferno é um olhar amargo, duro e insensível sobre o sentimento mais nobre. Não há aqui salvação possível: gays, heteros, homens, mulheres, todos levam por tabela. Os diferentes tipos de relacionamento, a grande questão do casamento, as separações, os 22 passos do desgosto de amor, os prós e contras da procriação, os 9 tipos de namorado e namorada, o amor analisado e dissecado através de cartoons bem-humorados de coelhinhos, tudo num brilhante preto e branco.

Inteligente, divertido, e assustadoramente real, este é um livro que nos consegue provar por A + B que o amor é, na realidade, um inferno, e nem vale a pena voltar a metermo-nos nele. Mas somos todos fracos e voltamos a fazer os mesmos erros uma e outra vez, não é verdade?

18.9.06

Livros: Quando é que Jesus traz as Costoletas?

George Carlin é um dos mais irreverentes, chocantes e agressivos comediantes de stand-up do momento. Na sua natureza céptica e mal-humorada reside o seu talento, que o distingue dos seus pares, tendo sido eleito pela Comedy Central como o segundo maior comediante de stand-up de todos os tempos. Com uma carreira iniciada nos idos anos 60, este senhor conta no seu curriculum variadas edições discográficas, uma pouco respeitável filmografia e ainda a edição de alguns polémicos livros humorísticos. Quando É Que Jesus Traz As Costeletas? é o seu trabalho mais recente.

MARIA: Zé, vamos ter um bebé.

: O quê? Não pode ser. Eu só to esfrego entre as coxas.

MARIA: Pois... não sei. Deve ter havido um imprevisto qualquer.

: Quem disse que estás grávida?

MARIA: Um anjo que me apareceu no quintal.

: Um anjo?

MARIA: Um anjo do Senhor: Chamava-se Gabriel. Tinha uma trombeta e apareceu-me no quintal.

: O quê?

MARIA: Apareceu-me.

: Estava nú?

MARIA: Não. Acho que tinha uma gabardina. Não sei bem. Brilhava muito e não dava para ver bem.

: Maria, tu não andas bem. Porque não tiras uns dias de folga? As contas da loja podem esperar.

MARIA: Estou-te a dizer, Zé. O Anjo Gabriel disse-me que o Senhor quer que eu tenha o filho Dele.

: Pediste para te mandarem um sinal qualquer?

MARIA: Claro que sim. E ele disse-me que amanhã ia começar a ficar enjoada.

: Mas porque é que Deus quer um puto?

MARIA: Bom... o Gabriel disse que, de acordo com o Lucas, tem a ver com o ego. Além disso, parece que prometeu aos judeus mas esteve sempre muito ocupado até agora. Mas agora que finalmente se sente preparado para ter filhos, não quer limitar-se a fazer um de barro ou pó. Quer que haja humanos envolvidos no processo.

: E está a pensar ajudar nas despesas? Deus sabe que não podemos sozinhos. Dava-me jeito uma loja maior e podia arranjar-me uns daqueles contratos para fazer cruzes. Os romanos andam a pregar toda a gente a que deitam as mãos.

MARIA: Querido, o Gabriel disse que não há motivo para preocupações. O miúdo tem a vida feita. Vai ser um excelente orador e ter jeito para milagres.

: Ao menos isso. Olha lá, agora que estás oficialmente grávida, achas que podemos... passar à acção a sério?

MARIA: Desculpa, querido. Deus quer que isto seja um parto de uma mãe virgem.

: Não estou a perceber.

MARIA: É mesmo isso que ouviste, Zé.

: Quer dizer que não posso fazer nada?

MARIA: Ele quer que arranjes um nome para o miúdo.

: Cristo!

MARIA: Boa, Zé. És o maior!



Desaconselhado para quem se possa ofender com humor religioso, Quando É Que Jesus Traz As Costeletas? compila excertos de actuações de George Carlin, bem como novo material. Apesar do titulo, nem só de religião vive este livro. Encontramos por aqui, entre muitos outros variadíssimos assuntos, humor sobre Michael Jackson, alusões ao terrorismo, glorificação da mesquinhez do ser humano, dicas para assassinos em série, piadas sobre certas realidades Americanas que felizmente nos passam ao lado e muita prosa sobre o ódio de Carlin para com a moda dos eufemismos politicamente correctos.

No passado era assim: «O velho morreu... Por isso, o cangalheiro veio buscar o cadáver, levou-o para a capela mortuária e meteu-o num caixão. As pessoas mandaram flores e fizeram um velório. Depois do funeral, puseram o caixão num carro funerário e levaram-no para o cemitério onde acabaram por enterrar o morto numa cova.»

Hoje, nestes dias de sensibilidade acrescida, a mesma série de eventos transformou-se em algo que soa a uma experiência completamente diferente: «O idoso faleceu. Por isso, o agente funerário veio ocupar-se dos restos mortais do falecido, transportou-os para a agência funerária e introduziu-os numa urna. Os enlutados enviaram lembranças florais para serem exibidos numa sala, onde o corpo ficará em câmara ardente. A seguir ao elogio fúnebre, o veículo funerário transporta o falecido para o cemitério onde os seus restos mortais são depositados na morada final.»

Hã? O que foi? Alguém morreu ou quê?


De mau gosto e perverso, Quando É Que Jesus Traz As Costeletas? é um grande livro. Uma peça essencial em qualquer colecção, um título blasfemo que decorará qualquer estante com brilho próprio. Garantam o vosso lugar no Inferno ao lado de George Carlin, procurem-no já!