30.12.10

2010 em revista, parte terceira: tudo o que cabe entre 'música' e 'badalhocas'

Porque cabe muita coisa entre música e badalhocas, deixo-vos com aquilo que estive mesmo mesmo mesmo quase a colocar no blog mas que não coloquei porque tinha que jogar computador/ver as Tardes da Júlia/não fazer nada... Aproveito para desejar um feliz 2011 a todos os meus clientes e amigos, não me olvidando de mencionar que o bacalhau hoje está com 15% de desconto e se encontra no corredor 9.



Seriado viral de 2010: Na casa D'Este Senhor



Veículo promocional para a cerveja Tagus, a série Na casa D'Este Senhor é um produto que poderia estar perfeitamente num canal por cabo. Valores de produção cuidados, um argumento surreal e um humor muito peculiar, capaz de arrancar gargalhadas de incredulidade a qualquer um. Seguimos ao longo dos episódios a vida na casa d'Este Senhor, anteriormente conhecido como Bondage nos tempos das Noites Marcianas. Coabitando consigo temos Adolfo o jardineiro, Sam The Kid o produtor musical, Maniche o gato e Tuxa a musa.

"Eu acho que a palavra musa vem do Latim. E a palavra foi constituída 'MUSA', pronto, porque, 'eles' exigem muito um M. Porque pronto, 'eles' têm... Usava-se muito há uns anos, 1920, 1925, musa. O M vem de Maria, o U vem de Umbelina, o S de Simone e o A vem por exemplo de Antónia, ou de António, e foi por isso que 'eles' definiram em latim, 'MUSA'."

Os episódios podem ser seguidos aqui. E, para os fãs mais acérrimos, aconselho vivamente o blog do Maniche, onde podemos ver também pérolas extra como o karaoke da Tuxa ou a história da Victoria Bacon, vocalista das Super Géreles. É bom demais.


Filme de 2010: How to Train Your Dragon



Este ano não vi muitos filmes de 2010, ainda ando a ver os bons de 2008 e a consumir todos os do Woody Allen, pelo que ainda não me actualizei devidamente com o que foi saindo. How To Train Your Dragon ganha por ter sido o único filme que vi no cinema este ano, e o meu primeiro em 3D. A história não é nova, um jovem tem problemas de aceitação na sociedade em que se insere, mas através da persistência consegue salvar o dia e provar aos outros que temos direito a sermos diferentes. Só que com Vikings e Dragões. No entanto, as cenas de voo, em 3D, estão fabulosas. É mesmo como se fossemos nós a conduzir o dragão pelos ares, tal a sensação de imersão que o efeito nos dá. Brilhante.

E sim, ainda não vi o Machette nem o Scott Pilgrim (a BD anda a sair traduzida em Português, já agora). Talvez lá para 2012.


Esquema para sacar dinheiro de 2010: Pulseiras Power Balance



De vez em quando lá surge um esquema para roubar dinheiro a quem se deixa iludir por marketings e modas. Lembro-me das pulseiras para o reumático que o meu tio usava era eu um catraio, lembro-me de ver toda a gente a andar com Crocs, a peça de calçado mais horrível alguma vez criada "porque assim o pé respira", e dentro de uns anos irei certamente recordar com carinho dos 30 euros que muitas pessoas que conheço deram para comprar uma pulseira, porque subitamente todos passámos a precisar de algo que nos equilibre, sem auxílio a um bocado de plástico com um adesivo colado estávamos o tempo a cair no chão, lembram-se?

O marketing é uma ferramenta do demónio, realmente. Criam-se necessidades virtuais nas cabeças das pessoas, e quando o embuste é descoberto já estão os responsáveis bem longe, a acender charutos com notas de 100€, banhando-se em banheiras de hidromassagem, na companhia de senhoras que não se fazem baratas. Os Espanhóis, sendo Espanhóis, ainda os multaram em 15 000€, mas o ser humano gosta mesmo de ser enganado, e daqui por uns tempos surgirá mais um artista a inventar uma nova necessidade nas mentes da carneirada. O Mundo é dos espertos.


Banda Desenhada de 2010: Axe Cop




Axe Cop é a colaboração de Ethan, um autor de banda desenhada de 29 anos, e Malachai, o seu irmão de 6 anos. Ethan desenha, Malachai escreve. Todos nós já tivemos 6 anos e certamente teremos uma vaga ideia de como a nossa imaginação corria livremente antes de nos serem impostos conceitos e preconceitos. É essa a essência de Axe Cop, a pureza da imaginação sem qualquer filtro. Obviamente, Axe Cop é só estupidez atrás de estupidez, e é isso que torna a série tão deliciosa. Estamos perante um polícia que enverga um machado mágico que utiliza para decapitar todos os maus, e uma paleta de personagens secundárias alucinante, incluíndo o seu parceiro Flute Cop que evolui naturalmente primeiro para dinossáurio, depois para abacate e finalmente para fantasma, Sockarang com as suas meias boomerang, Baby Man e a sua baby family, e o meu favorito, Vampire Man Baby Kid, que é meio vampiro adulto, meio vampiro bebé e meio vampiro criança no meio. Uma delícia!

A morada desta loucura é axecop.com. Se se vão meter nisto, recomendo que comecem pelo primeiro episódio (aqui), ou que adquiram sem leitura prévia o livro editado muito recentemente pela Dark Horse, contendo uma aventura de proporções tão gigantescas que nem sequer coube no site.


Vieira, o eterno candidato



Mais uma vez, a corrida de Vieira ao poder ficou adiada. Desta vez eram as presidenciais. Das 7500 assinaturas necessárias, foram entregues 7700, mas dessas somente 3300 estavam válidas. Ou seja, só 3300 assinaturas passaram pelas respectivas Juntas de Freguesia a fim de serem autenticadas. Muito pouco, para o apoio e carinho que os seus fãs dispensam ou dizem dispensar às aventuras políticas de Manuel João. A bem da verdade, não foi sentido desta vez um grande empenho da parte do Candidato em motivar os seus discípulos. Lembro-me da grande campanha de 2000, onde Vieira passeou pelo seu Portugal Alcatifado, fazendo comícios, participando em programas televisivos, mobilizando as massas. Desta vez também tivemos comícios, mas a uma escala mais pequena. Culpamos também os Portugueses de 2010 que são diferentes de 2000, quando agora basta fazer um "like" no Facebook para se "aderir" a uma causa. As pessoas desejam mudança mas nada fazem para a obter, não se mexem para nada, não querem saber. As coisas aparecem feitas, sempre foi assim, e agora que o comodismo está no auge, ainda mais será.

Culpo-me a mim também, por não ter não só enviado a minha assinatura, como também não ter recolhido as de algumas dezenas de preguiçosos que, tendo um proponente que fizesse o trabalho todo por elas (ir à Junta, enviar as assinaturas pelo correio), teriam também contribuído. Vontade não me faltou, aliás como não tem faltado em tudo o que é Vieirista, mas faço parte da Política local e fui desaconselhado a envolver-me... Não é uma desculpa muito válida, mas neste caso, nenhuma é.


Pelo menos, no meio de tudo isto, ainda rendeu um livrinho parecido ao do Camarada Mao!



O Livro Rosé de Sua Santidade o Camarada Presidente Vieira, compilando frases, textos e teorias do Candidato, e que será certamente o equivalente à Bíblia para o Partido Muita Fixe que eventualmente será criado em torno de Vieira! Eu já tenho o meu para levar para os comícios!


Prémio Especial Zé Cabra para juventude promissora:



VAMES AGOURAAAAAA! É AGOURAAAAAAA!


Bill Murray fez 60 anos


Cinco filmes preferidos de Bill Murray:

1-Lost in Translation
2- The Life Aquatic With Steve Zissou
3- The Royal Tenenbaums
4- Ghostbusters
5- Groundhog Day

Parabéns Bill Murray e um feliz 2011 para ti também!

29.12.10

2010 em revista, parte segunda: badalhocas

Continuando o meu resumo do ano em dois ou três posts, hoje falo simplesmente de badalhocas.


Rita Pereira nos Emmy



Os Emmy arruinaram de vez toda a sua credibilidade ao premiar uma novela da TVI, ainda por cima uma particularmente má, segundo os entendidos. Valeu para se ver a Alexandra Lencastre a tentar desviar a atenção para si mesma, aos pulinhos "ganhámos o emmy, ganhámos o emmy", enquanto a câmara alegremente a ignorava, magneticamente puxada para o meio da Rita Pereira. Que meio! Tivesse eu um decote como o dela e também ficava vesgo, sempre a olhar para aquilo!


Palavra favorita de 2010: Undousuru




É 'exercitar' em Japonês!


O fim da Playboy Portugal



E a Playboy Portugal terminou, envolvida em falsa polémica. "Não vimos nem aprovamos a capa e as fotografias do número de Julho da 'Playboy' Portugal. Trata-se de uma violação chocante das nossas normas e não teria sido permitida a publicação, se tivéssemos conhecimento antecipado", declarou Theresa Hennessy, vice-presidente da Playboy. Para mim, o real fim da revista deu-se porque a Playboy não tinha pingo de interesse, e isso revelava-se nas vendas. As famosas Portuguesas mostravam maminha mas meio envergonhadas, a prometida nudez total era escassa e a revista em si enfadonha. Numa era em que até a pornografia mais hardcore está ao alcance de um clic, esperava-se mais da marca.


A estreia da Penthouse




Finda a Playboy, eis-que entra rapidamente em cena a Penthouse. Queriam artigos interessantes? A Penthouse tem. Queriam nudez? A Penthouse esfrega-vos com ela na cara! Queriam famosas nuas? A Penthouse não tem, mas em compensação tem um mostruário de berbigão e demais bivalves como nunca se vira em terras Lusas! Querem filmes de roça-roça? A Penthouse oferece. Querem hardcore? Paga por SMS e o roça-roça transforma-se por artes mágicas em mete-e-tira! A Penthouse entrou violentamente no mercado. Talvez um nadinha demasiado. Afinal é possível estar-se demasiado nú!


Sexy, A História de Ana Malhoa


Ena pá, vocês viram isto? Foi tão espectacular! A biografia completa da Ana Malhoa! Tudo aquilo que sempre quis saber sobre a Vacareré e nunca se atreveu a perguntar, com receio de levar com um pau pelas costas! A infância! As calças rasgadas no rabo aos 14 anos! O Boireré! As peixeiradas! Os insultos! O silicone! As fotos em pelota! As fotos semi-vestida que são ainda mais desastrosas! O pai e o Museu das Caldas da Rainha! Holy cow!!! A sério: ponham os olhos nisto! Está tudo aqui!


Momento Lucy de 2010




Oh Lucy... Nunca mudes!

28.12.10

2010 em revista, parte primeira: música

Como besta preguiçosa que assumo ser, apresento nesta semana, e já com 2011 a avistar-se lá ao fundo, algumas das coisas que devia ter colocado oportunamente no Contraculturalmente mas que fui deixando para amanhã. Lamento por isso, mas, lá está, mais vale assim tudo à bruta do que nada no regaço. Hoje falo de música.


Disco Português de 2010: Nuno Prata - Deve Haver



Temi que um disco como Deve Haver nunca tivesse oportunidade de nascer. E é um alívio ver Nuno Prata de regresso, com vontade redobrada de fazer música. E novamente acompanhado pelo inventivo músico Nico Tricot. O seu segundo disco fica a ganhar em relação à não menos magnífica estreia por ser mais conciso, mais directo. São onze originais e ainda temos direito a uma versão em Português da Used To Be dos Violent Femmes. As letras, honestas como sempre, estão menos zangadas e mais ácidas, até mesmo divertidas. E o trovador goza agora de algum reconhecimento, o qual esperemos que aproveite bem, que sacuda a timidez que lhe ata os joelhos e, já agora, que dê alguns concertos abaixo do Mondego.

Destaque para Como Foi?, Refrão-Canção, Essa Dor Não Existe e sobretudo para Um Dia Não São Dias Não.

Menções honrosas: A Last Day on Earth - Between Mirrors and Portraits, B Fachada - Há Festa na Mouraria, PAUS - É uma Água, Deolinda - Dois Selos e Um Carimbo, Orelha Negra - Orelha Negra, Corações de Atum - Romance/Hardcore, Linda Martini - Casa Ocupada, Lula Pena - Troubadour


Disco Estrangeiro de 2010: Deerhunter - Halcyon Digest



2010 foi um ano muito forte em singles, em canções orelhudas que marcaram a época. Mas no que de albuns foi lançado, ficou um pouco aquém. Posto isto, destaco o disco de Deerhunter porque foi aquele em que encontrei mais coesão como album e não apenas como aglomerado de canções sem ligação. E porque já estava na hora de dar destaque ao menino Bradford J. Cox! O rapaz é genial, além de editar com os Deerhunter ainda lança regularmente discos sob a designação Atlas Sound, passando literalmente a vida a oferecer canções no seu blog e a fazer compilações para os amigos! É cá dos meus!

Quanto ao disco, não consigo bem encaixar isto em nenhuma convenção musical pré-estabelecida. Não é bem shoegaze, não é bem Pop, não é bem Rock, não é bem psicadélico. É tudo isto mas não é nada disto. É calmo, é estranho, é bonito, é muito bom. E será continuamente ignorado, tal como o disco anterior o fora. Gerações vindouras irão pegar em Deerhunter de dar-lhes o devido reconhecimento que agora lhes vai faltando. Enquanto isso não acontece, Bradford continuará seguramente a lançar grandes discos pela calada. Destaque para Helicopter, Revival e sobretudo Desire Lines.

Menções honrosas: Arcade Fire - The Suburbs, Beach House - Teen Dream, MGMT - Congratulations, Crystal Castles - Crystal Castles II, Best Coast - Crazy For You, Los Campesinos! - Romance is Boring, Sufjan Stevens - The Age of Adz, Jónsi - Go, Girl Talk - All Day, Belle and Sebastian - Write About Love, Teenage Fanclub - Shadows, She & Him - Volume Two


O fim dos Da Weasel



Os Da Weasel acabaram, e eu não me importei nada com isso. A bem da verdade, devo dizer que tenho o CD do Dou-lhe com a Alma e tive o 3º Capítulo mas emprestadei-o a alguém e esqueci-me a quem. Era fã e gostava da atitude e das letras. Curtia da frontalidade do Pacman, da cena de ser ex-carocho, com Hepatite C, a falar de todos os assuntos com frontalidade, na primeira pessoa. Depois Armando Teixeira saiu da banda (e lembro-me de ele dizer na altura que os Da Weasel não tinham futuro) e o grupo mudou radicalmente, as músicas já não eram muito inventivas, as letras eram mais Pop. Fui-me desinteressando mas sempre que podia via-os ao vivo, era aliás muito difícil não os ver, pois tocavam em todas as semanas académicas durante o meu período estudantil. Acho mesmo que é a banda que mais vezes vi. Depois o vocalista começou a aparecer em jingles para anúncios de coisas que condenava nas letras, e a fazer músicas como aquele lixo da nina e a porcaria do uhuh-da-da-faz-faz-bebé e os discos foram-se banalizando ao ponto de não terem qualquer motivo de interesse. Ou seja, os Da Weasel passaram a existir pura e simplesmente como veículo fazedor e receptor de dinheiro. Depois veio a fase dos anedóticos projectos paralelos (o do Virgul então, Jasus Sinhori, e ganha prémios MTV, aquilo) e agora chegou o fim, em boa hora. Não vale a pena continuar a chicotear um cavalo quando o mesmo já cheira a podre. Armando Teixeira tinha razão, a banda Da Weasel terminou com o 3º Capítulo, a partir daí nasceu a máquina corporativa Da Weasel. É tudo.


O Não-concerto de 2010: Arcade Fire



Antes de falar do não-concerto de Arcade Fire, gostaria de também de me pronunciar sobre outro não-concerto, o de Phoenix, sintomático do que ainda estava para vir. Os Franceses vinham ao Optimus Alive!, depois foram cancelados mas a banda foi a última a saber, depois o regresso ficou prometido ainda para 2010. O ano termina para a semana e não vejo nenhum concerto anunciado... Menos 10 pontos para a credibilidade de Álvaro Covões.

Quanto a Arcade Fire, foi aquilo a que a minha avó apelida de uma pouca-vergonha. O concerto foi marcado, e com conhecimento prévio por parte da organização, na mesma semana em que a NATO veio a Portugal inventar mais umas guerras. Depois, Covões bate o pé e sai-se com o argumento "eu vi primeiro, daqui não saio daqui ninguém me tira". Depois as autoridades garantem que o concerto não se realizará. Depois Covões reforça a venda dos bilhetes. Depois o governo cancela o concerto por escrito, mas pelos vistos isso não chega para o patrão da Everything is New. Depois a banda mostra-se disponível para mudar a data do concerto. Depois Covões diz que não, e que só cancela se for indemnizado, e continua a vender bilhetes, estando a lotação do Pavilhão Atlãntico próxima de esgotar. Depois teve de ser o próprio manager da banda a dar a notícia do cancelamento.

Era tão, tão, tão, tão, tão bem-feita se os Arcade Fire viessem ao Super Bock Super Rock em 2011...


Música de 2010



Mas afinal já apanharam o gajo ou ainda anda a monte?


Música (decente) de 2010



Os Crystal Castles baixaram a guarda na sua progressiva destruição musical e fizeram uma grande cover duns chatos do Hair-Metal dos anos 80, com o timoneiro dos The Cure. E a versão sem Robert Smith também não está nada má.


Maior injustiça de 2010 e de muitos anos vindouros



Lhasa de Sela, 1972-2010. O Mundo da música empobreceu tanto...

26.12.10

5 concertos em 2010

2010 foi um Super ano para concertos. Se pensarmos bem, desde 2007 a esta parte que Portugal tem recebido praticamente tudo o que de música se faz pelo Mundo, desde pré-hypes que ainda agora editaram meio EP no Kansas e já estão a tocar na Zé dos Bois a nomes firmados na Pop mainstream e independente, passando, claro está, pelas reuniões duvidosas para encher bolsos, as quais todos engolimos com gosto, inventando desculpas para justificar a devoção, "não não, eles reuniram-se porque estavam com saudades de tocar e porque gostam de mim". Veio cá tudo, e espera-se que continue tudo a cá vir.

A minha época concerteira foi particularmente farta este ano. Desde Tindersticks em Fevereiro a MGMT na semana passada, sem esquecer bilhetes encontrados no chão para o Alive!, vivi belíssimos momentos musicais, dos quais destaco, muito a custo, cinco. Todas as fotos foram roubadas da Internet. A primeira é do Manuel Lino, a segunda é da Rita Carmo, a terceira é do Nuno Fontinha, a quarta é do Geraldo Santos, a quinta é do Rui Leal.


18 de Março: Yo La Tengo @ Aula Magna



Yo La Tengo foram duas horas de amor. Em 21 canções, tivemos de tudo: Uma boa fatia do excelente disco Popular Songs, barulheira da boa com Bad Politics e Sugarcube, Ira a brincar com os amplificadores em The Story of Yo La Tango, Ira sentadinho no público tocando I'm On My Way, hipnotismo com More Stars That There Are In Heaven, momentos de beleza etérea com The Hour Grows Late e numa das minhas preferidas, Our Way to Fall, e a requisitada You Can Have It All, desta feita sem dança patetinha. Dois encores, e a banda só não tocou mais porque ainda tinha de ir apanhar o autocarro para o Porto. Barriguinha cheia de música!


22 de Abril: Sonic Youth @ Coliseu dos Recreios



Um concerto de Sonic Youth significa romaria de todo o tipo de pessoas: à minha volta pude ver góticos, pessoas que apanharam o Dirty em final de adolescência e pensam que a banda nunca mais fez mais nada, Jesuses em ácido, garotada com borbulhas na cara e ar arrogante de quem já ouviu tudo, e, felizmente, muita gente que ali se deslocou para ouvir Sonic Youth e que sairia satisfeita mesmo se a banda apenas produzissem feedback com serrotes durante 4 horas. Felizmente não foi isso que aconteceu. O concerto centrou-se principalmente no recente The Eternal, ficando de fora, se a memória não me atraiçoa, apenas uma canção desse disco. Sendo The Eternal um dos meus preferidos dos jovens cinquentões, delirei durante a duração do concerto. Os encores presentearam os saudosistas com Sprawl, Cross the Breeze, Shadow of a Doubt e Death Valley 69, mas pessoalmente, os momentos mais vibrantes foram Anti-Orgasm e What We Know. Saliente-se que, preservando a minha habitual sorte em concertos, comprei 2 bilhetes e deram-me um grátis sem querer. Viva eu.


1 de Julho: Regina Spektor @ Cascais Cooljazz Fest



Pois eu que sempre pensei que seria dos poucos a conhecer Regina Spektor em Portugal, discreta que a sua carreira passa no nosso País, e heis-que constato com agrado que o seu primeiro concerto cá esgota num ápice! E foi tão bom como antecipava. Regina é daquelas pessoas que cativa com o sorriso, mesmo depois de pronunciar o mais violento palavrão. Simpatiquíssima, falou de como é bom correr na marginal, derreteu toda a gente com o seu "desculpe" depois de se enganar em Dance Anthem of the 80s, conquistou com a sua voz poderosíssima em Après Moi e Silly Eye Colour Generalizations (esta última à capella), meteu tudo a bater palminhas em On The Radio, tocou guitarra em That Time e Bobbin For Apples ("someone next door is fucking to one of my songs", dizia ela), tocou algumas das minhas favoritas como Musicbox (a pedido do público), Folding Chair, Hotel Song e Sailor Song, e despediu-se com uma tresloucada música country Love, You're a Whore. Brilhante estreia da pianista mais boa onda de sempre!

Tive a oportunidade única de ver Regina Spektor no lindíssimo Parque Palmela, deitado na folhagem, entre as árvores, e fui para a cama com os músculos faciais doridos, após horas sem conseguir contrariar um sorriso teimoso que fez da minha cara seu lar.


10 de Julho: Pearl Jam @ Optimus Alive!



Nos meus tempos de petiz, gostava dos Pearl Jam. Muito. Ao ponto de ter os discos todos, de mandar vir pelo correio compilações de raridades e concertos pirata, de trocar VHS, de ter extensas cassetes audio com os finais da Daughter, sempre diferentes. Era fã da banda, dos hard-core. Depois fui-me desligando dos Pearl Jam e começando a investir o meu tempo noutras bandas e sonoridades e, por alturas do Riot Act, deixei de ouvir Pearl Jam completamente. Saturei. De modo que, quando por obra do acaso me veio parar um bilhete para dia 10 do Optimus Alive! às mãos, encarei a oportunidade de rever Pearl Jam com alguma indiferença.

Começa o concerto. Um hit. Dois hits. Três hits. Depois Eddie Vedder anuncia que este será o último concerto dos Pearl Jam no futuro próximo e de repente sou uno com a banda e o público, agarrando a oportunidade de os celebrar mais uma vez, entoando as canções, abanando os braços, pulando, sorrindo, lembrando as cassetes, os CDs piratas, associando as canções a momentos há muito apagados na memória, recordando amizades cujo único ponto em comum era o amor à banda, vivendo. E no final do concerto, ao último acorde de Yellow Ledbetter, duas lágrimas rolaram pela minha face. De felicidade.

Continuo a não os ouvir em casa, mas naquela noite fiz as pazes com os Pearl Jam. Obrigado por tudo!


5 de Agosto: The Flaming Lips @ Sudoeste



Do concerto dos Flaming Lips já escrevi muito aqui. Foi sem sombra de dúvida o meu concerto favorito de 2010, arrisco mesmo a dizer que terá sido aquele em que fui mais feliz de sempre, aquele em que mais me deixei deslumbrar. São poucos os concertos em que entro em histeria, mas em Flaming Lips foram gritos de alegria do início ao fim. Confettis, balões, serpentinas, lasers, mulheres nuas, fumo, cores, um urso, música de estrelar cérebros. Quatro meses depois e ainda me apetece voltar para este concerto e fazer dele minha casa. Se já gostava muito da banda, agora sou fã incondicional.

Pode-se utilizar o argumento de que a banda é só pirotecnia, que de música tem muito pouco, que os U2 são "a melhor banda do Mundo" pelo grande aparato cénico e porque Bono telefona para o Espaço a meio do concerto para perguntar ao pessoal da estação espacial MIR se estão com frio. E eu discordo. Porque sim, os Lips fazem música estranhíssima, sem qualquer comercialismo (o Embryonic custa a digerir, talvez por não se conseguir descortinar qual a ponta por onde pegar), e sim, têm um grande aparato cénico, uma preocupação por fazer com que toda a gente dê o seu dinheiro por bem empregue. Mas, perdoem-me os fãs de U2, quem gosta de música a sério também merece um espectáculo assim.






Menções honrosas: Tindersticks, The XX, La Roux, Florence + The Machine, Faith No More, Foge Foge Bandido, Mike Patton's Mondo Cane, Beirut, Lykke Li
, MGMT

8.12.10

The Walking Dead, Série 1, Episódio 6: TS-19

E pronto, seis episódios depois, e termina a primeira temporada de The Walking Dead, com a promessa de regresso em Outubro com uma segunda temporada mais recheada de episódios e, espera-se, de suminho, que esta soube a pouco. Cá em cima está o tiroliroliro, lá em baixo está o tirolilóSPOILERS!





Sinopse: Estávamos no episódio anterior à porta do Centro de Controle Epidémico, no exacto momento em que o Dr. Carne-Para-Canhão abria a porta ao grupo de sobreviventes. Depois de alguns momentos tensos, Rick e seus compinchas são recebidos com um duche quentinho e um jantar de família, vinho incluído. Todos ficam um pouco tocados e Shane, com a maior bebedeira do grupo, tenta aproveitar-se de Lori, mas a única coisa que consegue são uns arranhões na cara. No dia seguinte há muita ressaca e nada de Guronsan. O Dr. Carne-Para-Canhão elucida então o grupo sobre o que acontece ao cérebro das vítimas após serem infectados e como todo o Mundo está condenado porque dependemos de combustíveis fósseis qualquer coisa que não interessa absolutamente nada para a história. Dale, casualmente, pergunta ao Dr. Carne-Para-Canhão que relógio de parede estranho é aquele, cujos números estão em contagem regressiva.

"Aquele relógio? Ah, não se preocupem. É só uma medida de contingência aqui do centro caso isto fique sem combustível, que por acaso é o que está a acontecer; quando os números chegarem a zero, vamos todos pelos ares. E não vale a pena tentarem fugir porque isto ficou trancado quando entraram aqui."

Depois de alguma choradeira, ameaças de morte e tentativas de fuga, o Dr. Carne-Para-Canhão sai-se com um "Ah, estava a brincar, as portas afinal abrem, se conseguirem rebentar com os vidros quadruplos das janelas estão safos. Se tiverem uma granada é capaz de dar jeito. Vão andando que eu fico aqui". Andrea, ainda destroçada pela perda da sua irmã, resolve ficar para trás. Dale, num bonito gesto de amor, após tentar persuadi-la para fugir, decide ficar também, mas Andrea vê neste acto uma razão para viver e ambos escapam. Uma personagem genérica daquelas que foram criadas só para a série fica também no Centro, mas ninguém se mostra muito preocupado com isso.

À medida que o grupo foge para parte incerta, o Centro de Controle Epidémico implode. Fim da primeira temporada.

Diferenças em relação ao material-fonte: Nada disto acontece na Banda Desenhada.

Opiniões: Tal como o final do episódio anterior, TS-19 não serviu para nada. Um verdadeiro desperdício de recursos, tempo e espaço. Tudo bem, este episódio consegue ser melhor que o anterior, mas não deixa de ser inútil. Tivemos bons momentos com o Dale e a Andrea, e o conflito interno de Shane, dividido entre a lealdade para com o amigo e a paixão que nutre pela mulher dele, mas no fim de contas, o grupo segue o seu caminho de barriga cheia e banho tomado, e todos podemos ignorar alegremente o Centro de Controle Epidémico. Num temporada normal, com 12 ou 14 episódios, um desvio destes é aceitável, todos estamos habituados a manobras de enchimento de enchidos. Mas com apenas 6 episódios para gastar, atirar para a fogueira episódio e meio com "isto" foi mal jogado e pouco satisfatório.

Finalizada a série, analisemos as personagens. Primeiro, as notas positivas. Glenn e Dale foram muito bem escolhidos e adicionam muito à série. Jim foi a grande surpresa da temporada, uma personagem sem grande impacto na história original aqui ganha bastante relevância. Amy foi competente, quanto mais não fosse por ser agradável à vista. Shane também não vai mal. Dos novos, Daryl é espectacular e poderia bem ter feito parte da banda desenhada. Os restantes novos, excepto Merle que voltará certamente na segunda série, não serviram de muito. Não gosto muito da actriz que interpreta o papel de Lori, mas os piores são mesmo Rick e Andrea. O actor que interpreta Rick não tem carisma. Rick Grimes na banda desenhada é um personagem forte, aparentemente seguro de si, capaz de arrastar multidões consigo. Na série, Rick Grimes é um choninhas que passa a vida a meter a para na poça, com cara de cachorrinho abandonado. Andrea está sempre com expressão de empedernida anal, e revela-se bastante desiquilibrada, ao ponto de apontar armas aos colegas, algo que não liga bem com a sua congénere desenhada.

Olhando para trás, tivemos uma estreia espectacular, 3 episódios muito bons, um episódio razoável que a meio descamba para a patetiçe e um final amorfo. O saldo é positivo, mas as perspectivas para a segunda temporada não são as mais optimistas, ainda para mais quando chega a notícia de que toda a equipa de argumentistas foi despedida na semana passada. Vamos esperar para ver. Entretanto já saiu o 13º volume da banda desenhada, e essa sei que nunca me desilude!

3.12.10

The Walking Dead, Série 1, Episódio 5: Wildfire

O quinto episódio de Walking Dead já passou há alguns dias, mas tenho demorado algum tempo a digeri-lo... Aqui fica a minha resenha. Os SPOILERS de hoje estão irritadiços, cautela!




Sinopse: O episódio começa com o campo dos sobreviventes devastado. Os mortos são enterrados e os mortos-vivos incinerados. Andrea aguarda pacientemente que a sua falecida irmã se transforme em zombie para dela se despedir, chegando mesmo a apontar uma arma a Rick (!?!?!?!) quando o mesmo se aproxima. Entretanto, todos descobrem que Jim fora mordido. As cabeças pensantes do grupo decidem procurar ajuda num tal de Centro de Controle Epidémico (!?!?!?!?!?!?!?!?!), mas Jim não aguenta a viagem e decide deixar-se ficar para trás.

Depois de uma emocionada e bem-conseguida despedida, passamos para aquilo que parece uma cena dos filmes do Resident Evil, com um cientista num bunker futurista (!?!?!?!?!?!?!?!??!?!?!?!), tentando descobrir a cura (!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?O QUÊ, CARALHOOOOOOOO!?!?!?!?) para a zombificação da Humanidade. No exacto momento em que desiste de encontrar uma solução e contempla o suicídio, o grupo vem-lhe bater à porta e o Homem da Ciência, comovido pelo Overacting do actor que veste a pele de Rick, decide abrir-lhes a porta.

Diferenças em relação ao material-fonte: Vou-me concentrar nas mais gritantes. É a segunda vez que Andrea aponta uma arma a Rick! Na banda desenhada, Andrea é uma personagem forte, que passa por muito, mas que encontra sempre força para continuar, e nunca deixa de ser afável para com os seus companheiros. Na série, Andrea é uma pessoa desequilibrada que aponta armas a todos os que têm opinião contrária à sua.

Quando o grupo parte, leva claramente um elemento a mais. Shane já deu indícios de que odeia Rick e que planeia assassiná-lo, mas com tanta personagem secundária criada para a série, essa situação ainda não ficou resolvida e, com apenas um episódio para o final, duvido que fique. O que nos leva para o maior desvio da série até à data: O Centro de Controle Epidémico.

Primeiro ponto divergente: ficamos a saber há quantos dias surgiu a infecção, e que a mesma é global. Segundo ponto divergente: ficamos a saber que há quem procure uma cura para o problema. Terceiro ponto divergente: Rick e o restante grupo procura asilo neste local. Quarto ponto divergente: a porta é-lhes aberta. Quinto ponto divergente: o meu interesse pela série evaporou-se no primeiro ponto.

Opiniões
:Um dos factores que faz com que a banda desenhada seja tão popular e consistentemente boa é que nunca se procura saber ao certo o que causou a epidemia, nunca se sabe há quanto tempo a mesma dura, nunca se sabe que esforços foram feitos para contê-la e curá-la, nunca se chega sequer perto de um "Centro de Controle Epidémico". Porque, simplesmente, o enfoque da série não é esse. Essas questões são abordadas marginalmente, pois o que interessa aqui é que a Humanidade chegou a uma situação irremediável e os sobreviventes terão de lidar com isso e seguir as suas vidas. São as pessoas que interessam, as suas maneiras de lidar com a crise e conquistar os obstáculos diariamente. O Centro de Controle Epidémico, além de arruinar o Status Quo, vem deturpar o próximo episódio, o último da primeira série e que será desperdiçado em laboratórios e teorias da conspiração que não servem para nada e que não vão levar a história a lado nenhum. Uma oportunidade perdida.

A morte de Jim foi muito bem conseguida. Aliás, Jim foi a maior surpresa da série, uma personagem que na banda desenhada não tem grande interesse e que aqui ganhou uma profundidade extra. Mas em relação às personagens e aos actores que as interpretam, guardarei as minhas opiniões para o próximo post. Não posso deixar de referir que o actor escolhido para o papel de Rick tem o carisma de um sabão Clarim.

Deste episódio não gostei.