26.12.10

5 concertos em 2010

2010 foi um Super ano para concertos. Se pensarmos bem, desde 2007 a esta parte que Portugal tem recebido praticamente tudo o que de música se faz pelo Mundo, desde pré-hypes que ainda agora editaram meio EP no Kansas e já estão a tocar na Zé dos Bois a nomes firmados na Pop mainstream e independente, passando, claro está, pelas reuniões duvidosas para encher bolsos, as quais todos engolimos com gosto, inventando desculpas para justificar a devoção, "não não, eles reuniram-se porque estavam com saudades de tocar e porque gostam de mim". Veio cá tudo, e espera-se que continue tudo a cá vir.

A minha época concerteira foi particularmente farta este ano. Desde Tindersticks em Fevereiro a MGMT na semana passada, sem esquecer bilhetes encontrados no chão para o Alive!, vivi belíssimos momentos musicais, dos quais destaco, muito a custo, cinco. Todas as fotos foram roubadas da Internet. A primeira é do Manuel Lino, a segunda é da Rita Carmo, a terceira é do Nuno Fontinha, a quarta é do Geraldo Santos, a quinta é do Rui Leal.


18 de Março: Yo La Tengo @ Aula Magna



Yo La Tengo foram duas horas de amor. Em 21 canções, tivemos de tudo: Uma boa fatia do excelente disco Popular Songs, barulheira da boa com Bad Politics e Sugarcube, Ira a brincar com os amplificadores em The Story of Yo La Tango, Ira sentadinho no público tocando I'm On My Way, hipnotismo com More Stars That There Are In Heaven, momentos de beleza etérea com The Hour Grows Late e numa das minhas preferidas, Our Way to Fall, e a requisitada You Can Have It All, desta feita sem dança patetinha. Dois encores, e a banda só não tocou mais porque ainda tinha de ir apanhar o autocarro para o Porto. Barriguinha cheia de música!


22 de Abril: Sonic Youth @ Coliseu dos Recreios



Um concerto de Sonic Youth significa romaria de todo o tipo de pessoas: à minha volta pude ver góticos, pessoas que apanharam o Dirty em final de adolescência e pensam que a banda nunca mais fez mais nada, Jesuses em ácido, garotada com borbulhas na cara e ar arrogante de quem já ouviu tudo, e, felizmente, muita gente que ali se deslocou para ouvir Sonic Youth e que sairia satisfeita mesmo se a banda apenas produzissem feedback com serrotes durante 4 horas. Felizmente não foi isso que aconteceu. O concerto centrou-se principalmente no recente The Eternal, ficando de fora, se a memória não me atraiçoa, apenas uma canção desse disco. Sendo The Eternal um dos meus preferidos dos jovens cinquentões, delirei durante a duração do concerto. Os encores presentearam os saudosistas com Sprawl, Cross the Breeze, Shadow of a Doubt e Death Valley 69, mas pessoalmente, os momentos mais vibrantes foram Anti-Orgasm e What We Know. Saliente-se que, preservando a minha habitual sorte em concertos, comprei 2 bilhetes e deram-me um grátis sem querer. Viva eu.


1 de Julho: Regina Spektor @ Cascais Cooljazz Fest



Pois eu que sempre pensei que seria dos poucos a conhecer Regina Spektor em Portugal, discreta que a sua carreira passa no nosso País, e heis-que constato com agrado que o seu primeiro concerto cá esgota num ápice! E foi tão bom como antecipava. Regina é daquelas pessoas que cativa com o sorriso, mesmo depois de pronunciar o mais violento palavrão. Simpatiquíssima, falou de como é bom correr na marginal, derreteu toda a gente com o seu "desculpe" depois de se enganar em Dance Anthem of the 80s, conquistou com a sua voz poderosíssima em Après Moi e Silly Eye Colour Generalizations (esta última à capella), meteu tudo a bater palminhas em On The Radio, tocou guitarra em That Time e Bobbin For Apples ("someone next door is fucking to one of my songs", dizia ela), tocou algumas das minhas favoritas como Musicbox (a pedido do público), Folding Chair, Hotel Song e Sailor Song, e despediu-se com uma tresloucada música country Love, You're a Whore. Brilhante estreia da pianista mais boa onda de sempre!

Tive a oportunidade única de ver Regina Spektor no lindíssimo Parque Palmela, deitado na folhagem, entre as árvores, e fui para a cama com os músculos faciais doridos, após horas sem conseguir contrariar um sorriso teimoso que fez da minha cara seu lar.


10 de Julho: Pearl Jam @ Optimus Alive!



Nos meus tempos de petiz, gostava dos Pearl Jam. Muito. Ao ponto de ter os discos todos, de mandar vir pelo correio compilações de raridades e concertos pirata, de trocar VHS, de ter extensas cassetes audio com os finais da Daughter, sempre diferentes. Era fã da banda, dos hard-core. Depois fui-me desligando dos Pearl Jam e começando a investir o meu tempo noutras bandas e sonoridades e, por alturas do Riot Act, deixei de ouvir Pearl Jam completamente. Saturei. De modo que, quando por obra do acaso me veio parar um bilhete para dia 10 do Optimus Alive! às mãos, encarei a oportunidade de rever Pearl Jam com alguma indiferença.

Começa o concerto. Um hit. Dois hits. Três hits. Depois Eddie Vedder anuncia que este será o último concerto dos Pearl Jam no futuro próximo e de repente sou uno com a banda e o público, agarrando a oportunidade de os celebrar mais uma vez, entoando as canções, abanando os braços, pulando, sorrindo, lembrando as cassetes, os CDs piratas, associando as canções a momentos há muito apagados na memória, recordando amizades cujo único ponto em comum era o amor à banda, vivendo. E no final do concerto, ao último acorde de Yellow Ledbetter, duas lágrimas rolaram pela minha face. De felicidade.

Continuo a não os ouvir em casa, mas naquela noite fiz as pazes com os Pearl Jam. Obrigado por tudo!


5 de Agosto: The Flaming Lips @ Sudoeste



Do concerto dos Flaming Lips já escrevi muito aqui. Foi sem sombra de dúvida o meu concerto favorito de 2010, arrisco mesmo a dizer que terá sido aquele em que fui mais feliz de sempre, aquele em que mais me deixei deslumbrar. São poucos os concertos em que entro em histeria, mas em Flaming Lips foram gritos de alegria do início ao fim. Confettis, balões, serpentinas, lasers, mulheres nuas, fumo, cores, um urso, música de estrelar cérebros. Quatro meses depois e ainda me apetece voltar para este concerto e fazer dele minha casa. Se já gostava muito da banda, agora sou fã incondicional.

Pode-se utilizar o argumento de que a banda é só pirotecnia, que de música tem muito pouco, que os U2 são "a melhor banda do Mundo" pelo grande aparato cénico e porque Bono telefona para o Espaço a meio do concerto para perguntar ao pessoal da estação espacial MIR se estão com frio. E eu discordo. Porque sim, os Lips fazem música estranhíssima, sem qualquer comercialismo (o Embryonic custa a digerir, talvez por não se conseguir descortinar qual a ponta por onde pegar), e sim, têm um grande aparato cénico, uma preocupação por fazer com que toda a gente dê o seu dinheiro por bem empregue. Mas, perdoem-me os fãs de U2, quem gosta de música a sério também merece um espectáculo assim.






Menções honrosas: Tindersticks, The XX, La Roux, Florence + The Machine, Faith No More, Foge Foge Bandido, Mike Patton's Mondo Cane, Beirut, Lykke Li
, MGMT

2 comentários:

  1. Boa Carlitos. Belas crónicas. Tens jeito para a coisa pá! Foi um prazer ter estado em Sonic Youth contigo e ser uma dos testemunhas do grande concerto que foi. Abraço

    João Leitão

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  2. Carlos,os meus sinceros parabéns! Fantástico report! Tens mesmo vocação, aposta nesta área!!!

    bisous
    Rita D.

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