30.12.10

2010 em revista, parte terceira: tudo o que cabe entre 'música' e 'badalhocas'

Porque cabe muita coisa entre música e badalhocas, deixo-vos com aquilo que estive mesmo mesmo mesmo quase a colocar no blog mas que não coloquei porque tinha que jogar computador/ver as Tardes da Júlia/não fazer nada... Aproveito para desejar um feliz 2011 a todos os meus clientes e amigos, não me olvidando de mencionar que o bacalhau hoje está com 15% de desconto e se encontra no corredor 9.



Seriado viral de 2010: Na casa D'Este Senhor



Veículo promocional para a cerveja Tagus, a série Na casa D'Este Senhor é um produto que poderia estar perfeitamente num canal por cabo. Valores de produção cuidados, um argumento surreal e um humor muito peculiar, capaz de arrancar gargalhadas de incredulidade a qualquer um. Seguimos ao longo dos episódios a vida na casa d'Este Senhor, anteriormente conhecido como Bondage nos tempos das Noites Marcianas. Coabitando consigo temos Adolfo o jardineiro, Sam The Kid o produtor musical, Maniche o gato e Tuxa a musa.

"Eu acho que a palavra musa vem do Latim. E a palavra foi constituída 'MUSA', pronto, porque, 'eles' exigem muito um M. Porque pronto, 'eles' têm... Usava-se muito há uns anos, 1920, 1925, musa. O M vem de Maria, o U vem de Umbelina, o S de Simone e o A vem por exemplo de Antónia, ou de António, e foi por isso que 'eles' definiram em latim, 'MUSA'."

Os episódios podem ser seguidos aqui. E, para os fãs mais acérrimos, aconselho vivamente o blog do Maniche, onde podemos ver também pérolas extra como o karaoke da Tuxa ou a história da Victoria Bacon, vocalista das Super Géreles. É bom demais.


Filme de 2010: How to Train Your Dragon



Este ano não vi muitos filmes de 2010, ainda ando a ver os bons de 2008 e a consumir todos os do Woody Allen, pelo que ainda não me actualizei devidamente com o que foi saindo. How To Train Your Dragon ganha por ter sido o único filme que vi no cinema este ano, e o meu primeiro em 3D. A história não é nova, um jovem tem problemas de aceitação na sociedade em que se insere, mas através da persistência consegue salvar o dia e provar aos outros que temos direito a sermos diferentes. Só que com Vikings e Dragões. No entanto, as cenas de voo, em 3D, estão fabulosas. É mesmo como se fossemos nós a conduzir o dragão pelos ares, tal a sensação de imersão que o efeito nos dá. Brilhante.

E sim, ainda não vi o Machette nem o Scott Pilgrim (a BD anda a sair traduzida em Português, já agora). Talvez lá para 2012.


Esquema para sacar dinheiro de 2010: Pulseiras Power Balance



De vez em quando lá surge um esquema para roubar dinheiro a quem se deixa iludir por marketings e modas. Lembro-me das pulseiras para o reumático que o meu tio usava era eu um catraio, lembro-me de ver toda a gente a andar com Crocs, a peça de calçado mais horrível alguma vez criada "porque assim o pé respira", e dentro de uns anos irei certamente recordar com carinho dos 30 euros que muitas pessoas que conheço deram para comprar uma pulseira, porque subitamente todos passámos a precisar de algo que nos equilibre, sem auxílio a um bocado de plástico com um adesivo colado estávamos o tempo a cair no chão, lembram-se?

O marketing é uma ferramenta do demónio, realmente. Criam-se necessidades virtuais nas cabeças das pessoas, e quando o embuste é descoberto já estão os responsáveis bem longe, a acender charutos com notas de 100€, banhando-se em banheiras de hidromassagem, na companhia de senhoras que não se fazem baratas. Os Espanhóis, sendo Espanhóis, ainda os multaram em 15 000€, mas o ser humano gosta mesmo de ser enganado, e daqui por uns tempos surgirá mais um artista a inventar uma nova necessidade nas mentes da carneirada. O Mundo é dos espertos.


Banda Desenhada de 2010: Axe Cop




Axe Cop é a colaboração de Ethan, um autor de banda desenhada de 29 anos, e Malachai, o seu irmão de 6 anos. Ethan desenha, Malachai escreve. Todos nós já tivemos 6 anos e certamente teremos uma vaga ideia de como a nossa imaginação corria livremente antes de nos serem impostos conceitos e preconceitos. É essa a essência de Axe Cop, a pureza da imaginação sem qualquer filtro. Obviamente, Axe Cop é só estupidez atrás de estupidez, e é isso que torna a série tão deliciosa. Estamos perante um polícia que enverga um machado mágico que utiliza para decapitar todos os maus, e uma paleta de personagens secundárias alucinante, incluíndo o seu parceiro Flute Cop que evolui naturalmente primeiro para dinossáurio, depois para abacate e finalmente para fantasma, Sockarang com as suas meias boomerang, Baby Man e a sua baby family, e o meu favorito, Vampire Man Baby Kid, que é meio vampiro adulto, meio vampiro bebé e meio vampiro criança no meio. Uma delícia!

A morada desta loucura é axecop.com. Se se vão meter nisto, recomendo que comecem pelo primeiro episódio (aqui), ou que adquiram sem leitura prévia o livro editado muito recentemente pela Dark Horse, contendo uma aventura de proporções tão gigantescas que nem sequer coube no site.


Vieira, o eterno candidato



Mais uma vez, a corrida de Vieira ao poder ficou adiada. Desta vez eram as presidenciais. Das 7500 assinaturas necessárias, foram entregues 7700, mas dessas somente 3300 estavam válidas. Ou seja, só 3300 assinaturas passaram pelas respectivas Juntas de Freguesia a fim de serem autenticadas. Muito pouco, para o apoio e carinho que os seus fãs dispensam ou dizem dispensar às aventuras políticas de Manuel João. A bem da verdade, não foi sentido desta vez um grande empenho da parte do Candidato em motivar os seus discípulos. Lembro-me da grande campanha de 2000, onde Vieira passeou pelo seu Portugal Alcatifado, fazendo comícios, participando em programas televisivos, mobilizando as massas. Desta vez também tivemos comícios, mas a uma escala mais pequena. Culpamos também os Portugueses de 2010 que são diferentes de 2000, quando agora basta fazer um "like" no Facebook para se "aderir" a uma causa. As pessoas desejam mudança mas nada fazem para a obter, não se mexem para nada, não querem saber. As coisas aparecem feitas, sempre foi assim, e agora que o comodismo está no auge, ainda mais será.

Culpo-me a mim também, por não ter não só enviado a minha assinatura, como também não ter recolhido as de algumas dezenas de preguiçosos que, tendo um proponente que fizesse o trabalho todo por elas (ir à Junta, enviar as assinaturas pelo correio), teriam também contribuído. Vontade não me faltou, aliás como não tem faltado em tudo o que é Vieirista, mas faço parte da Política local e fui desaconselhado a envolver-me... Não é uma desculpa muito válida, mas neste caso, nenhuma é.


Pelo menos, no meio de tudo isto, ainda rendeu um livrinho parecido ao do Camarada Mao!



O Livro Rosé de Sua Santidade o Camarada Presidente Vieira, compilando frases, textos e teorias do Candidato, e que será certamente o equivalente à Bíblia para o Partido Muita Fixe que eventualmente será criado em torno de Vieira! Eu já tenho o meu para levar para os comícios!


Prémio Especial Zé Cabra para juventude promissora:



VAMES AGOURAAAAAA! É AGOURAAAAAAA!


Bill Murray fez 60 anos


Cinco filmes preferidos de Bill Murray:

1-Lost in Translation
2- The Life Aquatic With Steve Zissou
3- The Royal Tenenbaums
4- Ghostbusters
5- Groundhog Day

Parabéns Bill Murray e um feliz 2011 para ti também!

29.12.10

2010 em revista, parte segunda: badalhocas

Continuando o meu resumo do ano em dois ou três posts, hoje falo simplesmente de badalhocas.


Rita Pereira nos Emmy



Os Emmy arruinaram de vez toda a sua credibilidade ao premiar uma novela da TVI, ainda por cima uma particularmente má, segundo os entendidos. Valeu para se ver a Alexandra Lencastre a tentar desviar a atenção para si mesma, aos pulinhos "ganhámos o emmy, ganhámos o emmy", enquanto a câmara alegremente a ignorava, magneticamente puxada para o meio da Rita Pereira. Que meio! Tivesse eu um decote como o dela e também ficava vesgo, sempre a olhar para aquilo!


Palavra favorita de 2010: Undousuru




É 'exercitar' em Japonês!


O fim da Playboy Portugal



E a Playboy Portugal terminou, envolvida em falsa polémica. "Não vimos nem aprovamos a capa e as fotografias do número de Julho da 'Playboy' Portugal. Trata-se de uma violação chocante das nossas normas e não teria sido permitida a publicação, se tivéssemos conhecimento antecipado", declarou Theresa Hennessy, vice-presidente da Playboy. Para mim, o real fim da revista deu-se porque a Playboy não tinha pingo de interesse, e isso revelava-se nas vendas. As famosas Portuguesas mostravam maminha mas meio envergonhadas, a prometida nudez total era escassa e a revista em si enfadonha. Numa era em que até a pornografia mais hardcore está ao alcance de um clic, esperava-se mais da marca.


A estreia da Penthouse




Finda a Playboy, eis-que entra rapidamente em cena a Penthouse. Queriam artigos interessantes? A Penthouse tem. Queriam nudez? A Penthouse esfrega-vos com ela na cara! Queriam famosas nuas? A Penthouse não tem, mas em compensação tem um mostruário de berbigão e demais bivalves como nunca se vira em terras Lusas! Querem filmes de roça-roça? A Penthouse oferece. Querem hardcore? Paga por SMS e o roça-roça transforma-se por artes mágicas em mete-e-tira! A Penthouse entrou violentamente no mercado. Talvez um nadinha demasiado. Afinal é possível estar-se demasiado nú!


Sexy, A História de Ana Malhoa


Ena pá, vocês viram isto? Foi tão espectacular! A biografia completa da Ana Malhoa! Tudo aquilo que sempre quis saber sobre a Vacareré e nunca se atreveu a perguntar, com receio de levar com um pau pelas costas! A infância! As calças rasgadas no rabo aos 14 anos! O Boireré! As peixeiradas! Os insultos! O silicone! As fotos em pelota! As fotos semi-vestida que são ainda mais desastrosas! O pai e o Museu das Caldas da Rainha! Holy cow!!! A sério: ponham os olhos nisto! Está tudo aqui!


Momento Lucy de 2010




Oh Lucy... Nunca mudes!

28.12.10

2010 em revista, parte primeira: música

Como besta preguiçosa que assumo ser, apresento nesta semana, e já com 2011 a avistar-se lá ao fundo, algumas das coisas que devia ter colocado oportunamente no Contraculturalmente mas que fui deixando para amanhã. Lamento por isso, mas, lá está, mais vale assim tudo à bruta do que nada no regaço. Hoje falo de música.


Disco Português de 2010: Nuno Prata - Deve Haver



Temi que um disco como Deve Haver nunca tivesse oportunidade de nascer. E é um alívio ver Nuno Prata de regresso, com vontade redobrada de fazer música. E novamente acompanhado pelo inventivo músico Nico Tricot. O seu segundo disco fica a ganhar em relação à não menos magnífica estreia por ser mais conciso, mais directo. São onze originais e ainda temos direito a uma versão em Português da Used To Be dos Violent Femmes. As letras, honestas como sempre, estão menos zangadas e mais ácidas, até mesmo divertidas. E o trovador goza agora de algum reconhecimento, o qual esperemos que aproveite bem, que sacuda a timidez que lhe ata os joelhos e, já agora, que dê alguns concertos abaixo do Mondego.

Destaque para Como Foi?, Refrão-Canção, Essa Dor Não Existe e sobretudo para Um Dia Não São Dias Não.

Menções honrosas: A Last Day on Earth - Between Mirrors and Portraits, B Fachada - Há Festa na Mouraria, PAUS - É uma Água, Deolinda - Dois Selos e Um Carimbo, Orelha Negra - Orelha Negra, Corações de Atum - Romance/Hardcore, Linda Martini - Casa Ocupada, Lula Pena - Troubadour


Disco Estrangeiro de 2010: Deerhunter - Halcyon Digest



2010 foi um ano muito forte em singles, em canções orelhudas que marcaram a época. Mas no que de albuns foi lançado, ficou um pouco aquém. Posto isto, destaco o disco de Deerhunter porque foi aquele em que encontrei mais coesão como album e não apenas como aglomerado de canções sem ligação. E porque já estava na hora de dar destaque ao menino Bradford J. Cox! O rapaz é genial, além de editar com os Deerhunter ainda lança regularmente discos sob a designação Atlas Sound, passando literalmente a vida a oferecer canções no seu blog e a fazer compilações para os amigos! É cá dos meus!

Quanto ao disco, não consigo bem encaixar isto em nenhuma convenção musical pré-estabelecida. Não é bem shoegaze, não é bem Pop, não é bem Rock, não é bem psicadélico. É tudo isto mas não é nada disto. É calmo, é estranho, é bonito, é muito bom. E será continuamente ignorado, tal como o disco anterior o fora. Gerações vindouras irão pegar em Deerhunter de dar-lhes o devido reconhecimento que agora lhes vai faltando. Enquanto isso não acontece, Bradford continuará seguramente a lançar grandes discos pela calada. Destaque para Helicopter, Revival e sobretudo Desire Lines.

Menções honrosas: Arcade Fire - The Suburbs, Beach House - Teen Dream, MGMT - Congratulations, Crystal Castles - Crystal Castles II, Best Coast - Crazy For You, Los Campesinos! - Romance is Boring, Sufjan Stevens - The Age of Adz, Jónsi - Go, Girl Talk - All Day, Belle and Sebastian - Write About Love, Teenage Fanclub - Shadows, She & Him - Volume Two


O fim dos Da Weasel



Os Da Weasel acabaram, e eu não me importei nada com isso. A bem da verdade, devo dizer que tenho o CD do Dou-lhe com a Alma e tive o 3º Capítulo mas emprestadei-o a alguém e esqueci-me a quem. Era fã e gostava da atitude e das letras. Curtia da frontalidade do Pacman, da cena de ser ex-carocho, com Hepatite C, a falar de todos os assuntos com frontalidade, na primeira pessoa. Depois Armando Teixeira saiu da banda (e lembro-me de ele dizer na altura que os Da Weasel não tinham futuro) e o grupo mudou radicalmente, as músicas já não eram muito inventivas, as letras eram mais Pop. Fui-me desinteressando mas sempre que podia via-os ao vivo, era aliás muito difícil não os ver, pois tocavam em todas as semanas académicas durante o meu período estudantil. Acho mesmo que é a banda que mais vezes vi. Depois o vocalista começou a aparecer em jingles para anúncios de coisas que condenava nas letras, e a fazer músicas como aquele lixo da nina e a porcaria do uhuh-da-da-faz-faz-bebé e os discos foram-se banalizando ao ponto de não terem qualquer motivo de interesse. Ou seja, os Da Weasel passaram a existir pura e simplesmente como veículo fazedor e receptor de dinheiro. Depois veio a fase dos anedóticos projectos paralelos (o do Virgul então, Jasus Sinhori, e ganha prémios MTV, aquilo) e agora chegou o fim, em boa hora. Não vale a pena continuar a chicotear um cavalo quando o mesmo já cheira a podre. Armando Teixeira tinha razão, a banda Da Weasel terminou com o 3º Capítulo, a partir daí nasceu a máquina corporativa Da Weasel. É tudo.


O Não-concerto de 2010: Arcade Fire



Antes de falar do não-concerto de Arcade Fire, gostaria de também de me pronunciar sobre outro não-concerto, o de Phoenix, sintomático do que ainda estava para vir. Os Franceses vinham ao Optimus Alive!, depois foram cancelados mas a banda foi a última a saber, depois o regresso ficou prometido ainda para 2010. O ano termina para a semana e não vejo nenhum concerto anunciado... Menos 10 pontos para a credibilidade de Álvaro Covões.

Quanto a Arcade Fire, foi aquilo a que a minha avó apelida de uma pouca-vergonha. O concerto foi marcado, e com conhecimento prévio por parte da organização, na mesma semana em que a NATO veio a Portugal inventar mais umas guerras. Depois, Covões bate o pé e sai-se com o argumento "eu vi primeiro, daqui não saio daqui ninguém me tira". Depois as autoridades garantem que o concerto não se realizará. Depois Covões reforça a venda dos bilhetes. Depois o governo cancela o concerto por escrito, mas pelos vistos isso não chega para o patrão da Everything is New. Depois a banda mostra-se disponível para mudar a data do concerto. Depois Covões diz que não, e que só cancela se for indemnizado, e continua a vender bilhetes, estando a lotação do Pavilhão Atlãntico próxima de esgotar. Depois teve de ser o próprio manager da banda a dar a notícia do cancelamento.

Era tão, tão, tão, tão, tão bem-feita se os Arcade Fire viessem ao Super Bock Super Rock em 2011...


Música de 2010



Mas afinal já apanharam o gajo ou ainda anda a monte?


Música (decente) de 2010



Os Crystal Castles baixaram a guarda na sua progressiva destruição musical e fizeram uma grande cover duns chatos do Hair-Metal dos anos 80, com o timoneiro dos The Cure. E a versão sem Robert Smith também não está nada má.


Maior injustiça de 2010 e de muitos anos vindouros



Lhasa de Sela, 1972-2010. O Mundo da música empobreceu tanto...

26.12.10

5 concertos em 2010

2010 foi um Super ano para concertos. Se pensarmos bem, desde 2007 a esta parte que Portugal tem recebido praticamente tudo o que de música se faz pelo Mundo, desde pré-hypes que ainda agora editaram meio EP no Kansas e já estão a tocar na Zé dos Bois a nomes firmados na Pop mainstream e independente, passando, claro está, pelas reuniões duvidosas para encher bolsos, as quais todos engolimos com gosto, inventando desculpas para justificar a devoção, "não não, eles reuniram-se porque estavam com saudades de tocar e porque gostam de mim". Veio cá tudo, e espera-se que continue tudo a cá vir.

A minha época concerteira foi particularmente farta este ano. Desde Tindersticks em Fevereiro a MGMT na semana passada, sem esquecer bilhetes encontrados no chão para o Alive!, vivi belíssimos momentos musicais, dos quais destaco, muito a custo, cinco. Todas as fotos foram roubadas da Internet. A primeira é do Manuel Lino, a segunda é da Rita Carmo, a terceira é do Nuno Fontinha, a quarta é do Geraldo Santos, a quinta é do Rui Leal.


18 de Março: Yo La Tengo @ Aula Magna



Yo La Tengo foram duas horas de amor. Em 21 canções, tivemos de tudo: Uma boa fatia do excelente disco Popular Songs, barulheira da boa com Bad Politics e Sugarcube, Ira a brincar com os amplificadores em The Story of Yo La Tango, Ira sentadinho no público tocando I'm On My Way, hipnotismo com More Stars That There Are In Heaven, momentos de beleza etérea com The Hour Grows Late e numa das minhas preferidas, Our Way to Fall, e a requisitada You Can Have It All, desta feita sem dança patetinha. Dois encores, e a banda só não tocou mais porque ainda tinha de ir apanhar o autocarro para o Porto. Barriguinha cheia de música!


22 de Abril: Sonic Youth @ Coliseu dos Recreios



Um concerto de Sonic Youth significa romaria de todo o tipo de pessoas: à minha volta pude ver góticos, pessoas que apanharam o Dirty em final de adolescência e pensam que a banda nunca mais fez mais nada, Jesuses em ácido, garotada com borbulhas na cara e ar arrogante de quem já ouviu tudo, e, felizmente, muita gente que ali se deslocou para ouvir Sonic Youth e que sairia satisfeita mesmo se a banda apenas produzissem feedback com serrotes durante 4 horas. Felizmente não foi isso que aconteceu. O concerto centrou-se principalmente no recente The Eternal, ficando de fora, se a memória não me atraiçoa, apenas uma canção desse disco. Sendo The Eternal um dos meus preferidos dos jovens cinquentões, delirei durante a duração do concerto. Os encores presentearam os saudosistas com Sprawl, Cross the Breeze, Shadow of a Doubt e Death Valley 69, mas pessoalmente, os momentos mais vibrantes foram Anti-Orgasm e What We Know. Saliente-se que, preservando a minha habitual sorte em concertos, comprei 2 bilhetes e deram-me um grátis sem querer. Viva eu.


1 de Julho: Regina Spektor @ Cascais Cooljazz Fest



Pois eu que sempre pensei que seria dos poucos a conhecer Regina Spektor em Portugal, discreta que a sua carreira passa no nosso País, e heis-que constato com agrado que o seu primeiro concerto cá esgota num ápice! E foi tão bom como antecipava. Regina é daquelas pessoas que cativa com o sorriso, mesmo depois de pronunciar o mais violento palavrão. Simpatiquíssima, falou de como é bom correr na marginal, derreteu toda a gente com o seu "desculpe" depois de se enganar em Dance Anthem of the 80s, conquistou com a sua voz poderosíssima em Après Moi e Silly Eye Colour Generalizations (esta última à capella), meteu tudo a bater palminhas em On The Radio, tocou guitarra em That Time e Bobbin For Apples ("someone next door is fucking to one of my songs", dizia ela), tocou algumas das minhas favoritas como Musicbox (a pedido do público), Folding Chair, Hotel Song e Sailor Song, e despediu-se com uma tresloucada música country Love, You're a Whore. Brilhante estreia da pianista mais boa onda de sempre!

Tive a oportunidade única de ver Regina Spektor no lindíssimo Parque Palmela, deitado na folhagem, entre as árvores, e fui para a cama com os músculos faciais doridos, após horas sem conseguir contrariar um sorriso teimoso que fez da minha cara seu lar.


10 de Julho: Pearl Jam @ Optimus Alive!



Nos meus tempos de petiz, gostava dos Pearl Jam. Muito. Ao ponto de ter os discos todos, de mandar vir pelo correio compilações de raridades e concertos pirata, de trocar VHS, de ter extensas cassetes audio com os finais da Daughter, sempre diferentes. Era fã da banda, dos hard-core. Depois fui-me desligando dos Pearl Jam e começando a investir o meu tempo noutras bandas e sonoridades e, por alturas do Riot Act, deixei de ouvir Pearl Jam completamente. Saturei. De modo que, quando por obra do acaso me veio parar um bilhete para dia 10 do Optimus Alive! às mãos, encarei a oportunidade de rever Pearl Jam com alguma indiferença.

Começa o concerto. Um hit. Dois hits. Três hits. Depois Eddie Vedder anuncia que este será o último concerto dos Pearl Jam no futuro próximo e de repente sou uno com a banda e o público, agarrando a oportunidade de os celebrar mais uma vez, entoando as canções, abanando os braços, pulando, sorrindo, lembrando as cassetes, os CDs piratas, associando as canções a momentos há muito apagados na memória, recordando amizades cujo único ponto em comum era o amor à banda, vivendo. E no final do concerto, ao último acorde de Yellow Ledbetter, duas lágrimas rolaram pela minha face. De felicidade.

Continuo a não os ouvir em casa, mas naquela noite fiz as pazes com os Pearl Jam. Obrigado por tudo!


5 de Agosto: The Flaming Lips @ Sudoeste



Do concerto dos Flaming Lips já escrevi muito aqui. Foi sem sombra de dúvida o meu concerto favorito de 2010, arrisco mesmo a dizer que terá sido aquele em que fui mais feliz de sempre, aquele em que mais me deixei deslumbrar. São poucos os concertos em que entro em histeria, mas em Flaming Lips foram gritos de alegria do início ao fim. Confettis, balões, serpentinas, lasers, mulheres nuas, fumo, cores, um urso, música de estrelar cérebros. Quatro meses depois e ainda me apetece voltar para este concerto e fazer dele minha casa. Se já gostava muito da banda, agora sou fã incondicional.

Pode-se utilizar o argumento de que a banda é só pirotecnia, que de música tem muito pouco, que os U2 são "a melhor banda do Mundo" pelo grande aparato cénico e porque Bono telefona para o Espaço a meio do concerto para perguntar ao pessoal da estação espacial MIR se estão com frio. E eu discordo. Porque sim, os Lips fazem música estranhíssima, sem qualquer comercialismo (o Embryonic custa a digerir, talvez por não se conseguir descortinar qual a ponta por onde pegar), e sim, têm um grande aparato cénico, uma preocupação por fazer com que toda a gente dê o seu dinheiro por bem empregue. Mas, perdoem-me os fãs de U2, quem gosta de música a sério também merece um espectáculo assim.






Menções honrosas: Tindersticks, The XX, La Roux, Florence + The Machine, Faith No More, Foge Foge Bandido, Mike Patton's Mondo Cane, Beirut, Lykke Li
, MGMT

8.12.10

The Walking Dead, Série 1, Episódio 6: TS-19

E pronto, seis episódios depois, e termina a primeira temporada de The Walking Dead, com a promessa de regresso em Outubro com uma segunda temporada mais recheada de episódios e, espera-se, de suminho, que esta soube a pouco. Cá em cima está o tiroliroliro, lá em baixo está o tirolilóSPOILERS!





Sinopse: Estávamos no episódio anterior à porta do Centro de Controle Epidémico, no exacto momento em que o Dr. Carne-Para-Canhão abria a porta ao grupo de sobreviventes. Depois de alguns momentos tensos, Rick e seus compinchas são recebidos com um duche quentinho e um jantar de família, vinho incluído. Todos ficam um pouco tocados e Shane, com a maior bebedeira do grupo, tenta aproveitar-se de Lori, mas a única coisa que consegue são uns arranhões na cara. No dia seguinte há muita ressaca e nada de Guronsan. O Dr. Carne-Para-Canhão elucida então o grupo sobre o que acontece ao cérebro das vítimas após serem infectados e como todo o Mundo está condenado porque dependemos de combustíveis fósseis qualquer coisa que não interessa absolutamente nada para a história. Dale, casualmente, pergunta ao Dr. Carne-Para-Canhão que relógio de parede estranho é aquele, cujos números estão em contagem regressiva.

"Aquele relógio? Ah, não se preocupem. É só uma medida de contingência aqui do centro caso isto fique sem combustível, que por acaso é o que está a acontecer; quando os números chegarem a zero, vamos todos pelos ares. E não vale a pena tentarem fugir porque isto ficou trancado quando entraram aqui."

Depois de alguma choradeira, ameaças de morte e tentativas de fuga, o Dr. Carne-Para-Canhão sai-se com um "Ah, estava a brincar, as portas afinal abrem, se conseguirem rebentar com os vidros quadruplos das janelas estão safos. Se tiverem uma granada é capaz de dar jeito. Vão andando que eu fico aqui". Andrea, ainda destroçada pela perda da sua irmã, resolve ficar para trás. Dale, num bonito gesto de amor, após tentar persuadi-la para fugir, decide ficar também, mas Andrea vê neste acto uma razão para viver e ambos escapam. Uma personagem genérica daquelas que foram criadas só para a série fica também no Centro, mas ninguém se mostra muito preocupado com isso.

À medida que o grupo foge para parte incerta, o Centro de Controle Epidémico implode. Fim da primeira temporada.

Diferenças em relação ao material-fonte: Nada disto acontece na Banda Desenhada.

Opiniões: Tal como o final do episódio anterior, TS-19 não serviu para nada. Um verdadeiro desperdício de recursos, tempo e espaço. Tudo bem, este episódio consegue ser melhor que o anterior, mas não deixa de ser inútil. Tivemos bons momentos com o Dale e a Andrea, e o conflito interno de Shane, dividido entre a lealdade para com o amigo e a paixão que nutre pela mulher dele, mas no fim de contas, o grupo segue o seu caminho de barriga cheia e banho tomado, e todos podemos ignorar alegremente o Centro de Controle Epidémico. Num temporada normal, com 12 ou 14 episódios, um desvio destes é aceitável, todos estamos habituados a manobras de enchimento de enchidos. Mas com apenas 6 episódios para gastar, atirar para a fogueira episódio e meio com "isto" foi mal jogado e pouco satisfatório.

Finalizada a série, analisemos as personagens. Primeiro, as notas positivas. Glenn e Dale foram muito bem escolhidos e adicionam muito à série. Jim foi a grande surpresa da temporada, uma personagem sem grande impacto na história original aqui ganha bastante relevância. Amy foi competente, quanto mais não fosse por ser agradável à vista. Shane também não vai mal. Dos novos, Daryl é espectacular e poderia bem ter feito parte da banda desenhada. Os restantes novos, excepto Merle que voltará certamente na segunda série, não serviram de muito. Não gosto muito da actriz que interpreta o papel de Lori, mas os piores são mesmo Rick e Andrea. O actor que interpreta Rick não tem carisma. Rick Grimes na banda desenhada é um personagem forte, aparentemente seguro de si, capaz de arrastar multidões consigo. Na série, Rick Grimes é um choninhas que passa a vida a meter a para na poça, com cara de cachorrinho abandonado. Andrea está sempre com expressão de empedernida anal, e revela-se bastante desiquilibrada, ao ponto de apontar armas aos colegas, algo que não liga bem com a sua congénere desenhada.

Olhando para trás, tivemos uma estreia espectacular, 3 episódios muito bons, um episódio razoável que a meio descamba para a patetiçe e um final amorfo. O saldo é positivo, mas as perspectivas para a segunda temporada não são as mais optimistas, ainda para mais quando chega a notícia de que toda a equipa de argumentistas foi despedida na semana passada. Vamos esperar para ver. Entretanto já saiu o 13º volume da banda desenhada, e essa sei que nunca me desilude!

3.12.10

The Walking Dead, Série 1, Episódio 5: Wildfire

O quinto episódio de Walking Dead já passou há alguns dias, mas tenho demorado algum tempo a digeri-lo... Aqui fica a minha resenha. Os SPOILERS de hoje estão irritadiços, cautela!




Sinopse: O episódio começa com o campo dos sobreviventes devastado. Os mortos são enterrados e os mortos-vivos incinerados. Andrea aguarda pacientemente que a sua falecida irmã se transforme em zombie para dela se despedir, chegando mesmo a apontar uma arma a Rick (!?!?!?!) quando o mesmo se aproxima. Entretanto, todos descobrem que Jim fora mordido. As cabeças pensantes do grupo decidem procurar ajuda num tal de Centro de Controle Epidémico (!?!?!?!?!?!?!?!?!), mas Jim não aguenta a viagem e decide deixar-se ficar para trás.

Depois de uma emocionada e bem-conseguida despedida, passamos para aquilo que parece uma cena dos filmes do Resident Evil, com um cientista num bunker futurista (!?!?!?!?!?!?!?!??!?!?!?!), tentando descobrir a cura (!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?!?O QUÊ, CARALHOOOOOOOO!?!?!?!?) para a zombificação da Humanidade. No exacto momento em que desiste de encontrar uma solução e contempla o suicídio, o grupo vem-lhe bater à porta e o Homem da Ciência, comovido pelo Overacting do actor que veste a pele de Rick, decide abrir-lhes a porta.

Diferenças em relação ao material-fonte: Vou-me concentrar nas mais gritantes. É a segunda vez que Andrea aponta uma arma a Rick! Na banda desenhada, Andrea é uma personagem forte, que passa por muito, mas que encontra sempre força para continuar, e nunca deixa de ser afável para com os seus companheiros. Na série, Andrea é uma pessoa desequilibrada que aponta armas a todos os que têm opinião contrária à sua.

Quando o grupo parte, leva claramente um elemento a mais. Shane já deu indícios de que odeia Rick e que planeia assassiná-lo, mas com tanta personagem secundária criada para a série, essa situação ainda não ficou resolvida e, com apenas um episódio para o final, duvido que fique. O que nos leva para o maior desvio da série até à data: O Centro de Controle Epidémico.

Primeiro ponto divergente: ficamos a saber há quantos dias surgiu a infecção, e que a mesma é global. Segundo ponto divergente: ficamos a saber que há quem procure uma cura para o problema. Terceiro ponto divergente: Rick e o restante grupo procura asilo neste local. Quarto ponto divergente: a porta é-lhes aberta. Quinto ponto divergente: o meu interesse pela série evaporou-se no primeiro ponto.

Opiniões
:Um dos factores que faz com que a banda desenhada seja tão popular e consistentemente boa é que nunca se procura saber ao certo o que causou a epidemia, nunca se sabe há quanto tempo a mesma dura, nunca se sabe que esforços foram feitos para contê-la e curá-la, nunca se chega sequer perto de um "Centro de Controle Epidémico". Porque, simplesmente, o enfoque da série não é esse. Essas questões são abordadas marginalmente, pois o que interessa aqui é que a Humanidade chegou a uma situação irremediável e os sobreviventes terão de lidar com isso e seguir as suas vidas. São as pessoas que interessam, as suas maneiras de lidar com a crise e conquistar os obstáculos diariamente. O Centro de Controle Epidémico, além de arruinar o Status Quo, vem deturpar o próximo episódio, o último da primeira série e que será desperdiçado em laboratórios e teorias da conspiração que não servem para nada e que não vão levar a história a lado nenhum. Uma oportunidade perdida.

A morte de Jim foi muito bem conseguida. Aliás, Jim foi a maior surpresa da série, uma personagem que na banda desenhada não tem grande interesse e que aqui ganhou uma profundidade extra. Mas em relação às personagens e aos actores que as interpretam, guardarei as minhas opiniões para o próximo post. Não posso deixar de referir que o actor escolhido para o papel de Rick tem o carisma de um sabão Clarim.

Deste episódio não gostei.

26.11.10

Tudo o que interessa saber sobre os Estados Unidos, capitulo XXVI: Montana

Montana, o Estado-Tesouro


Capital: Helena

Animal: Truta (Oncorhynchus mykiss)

Lei idiota: Um ajuntamento de sete ou mais índios é considerado um ataque ou acto de guerra e é considerado legal abatê-los

Artista: Er... Hannah Montana?



Miss Montana
: Misti Vogt

24.11.10

The Walking Dead, Série 1, Episódio 4: Vatos

Quarto episódio de The Walking Dead e as coisas aquecem ainda mais. Sai uma rodada de SPOILERS para a mesa 5!





Sinopse:Em Atlanta, Rick, Darryl, Glenn e T-Dog seguem o rasto de Merle, sem sucesso. Resolvem então recolher um saco de armas que Rick havia perdido na sua primeira visita à cidade. No entanto, o saco é também cobiçado por um gang de Hispânicos que não é bem aquilo que aparenta ser. Glenn acaba por ser raptado por este gang, e o grupo terá de se empenhar para reaver o seu amigo. Entretanto no acampamento de sobreviventes, Jim cava como se não houvesse amanhã, mostrando sinais de fragilidade emocional. A única solução que o grupo encontra para obrigá-lo parar é amarrá-lo a uma árvore. Mais tarde, uma horda de zombies invade o acampamento e faz um festim. Muitas pessoas são mordidas e assassinadas, incluindo algumas personagens-chave. Agora as campas feitas pelo Jim já dão jeito, não é, seus ingratos?

Diferenças em relação ao material-fonte: Os dois terços iniciais não têm absolutamente nada a ver com os livros. O grupo de Rick demora bastante mais tempo a encontrar mais sobreviventes, e um gang de Hispânicos nunca surgiu na história até à data. A sua inclusão foi muito bem conseguida, no entanto. O final do episódio, com algumas devidas diferenças, está fiel.

Na última vez que escrevi sobre TWD, referi que existiam personagens em falta, nomeadamente Carol e Sophia. Pelos vistos ando distraído, pois Sophia apareceu neste episódio e a sua mãe Carol já havia sido apresentada, apesar de visualmente diferente da sua congénere desenhada e com uma história ligeiramente diferente, pois o seu esposo encontra-se vivo na série. Em relação ao marido, Ed, calhou-lhe a honra dúbia de ser o primeiro do grupo de sobreviventes a ser devorado pelos zombies. Parabéns Ed!

Opiniões:Acho muito interessante que seja dado o devido protagonismo do episódio a Jim. Esta personagem não fez história na banda desenhada, e vê-la a florescer na televisão e a ganhar peso na trama é uma experiência interessante, mesmo que o seu destino breve seja a morte. De salientar que este foi o primeiro episódio escrito pelo autor da banda desenhada, Robert Kirkman, sendo esta uma excelente oportunidade para desenvolver melhor esta personagem que, segundo o próprio, tinha mais para dar antes de bater as botas.

O gang de Atlanta causa um desvio na missão de salvamento de Merle, que acaba por ser abandonada completamente. Sabemos que Merle amputou a sua mão e queimou a ferida, e que provavelmente até lhes roubou a carrinha, mas essa parte do enredo não é resolvida satisfatoriamente. No entanto, a inclusão do gang levou a uns desenvolvimentos engraçados na trama e adicionou profundidade ao cenário apocalíptico, pelo que não me posso queixar.

O final do episódio, previsível para leitores da banda desenhada, foi intenso e dramático como seria de esperar. Tal como nos livros, há sempre alguma calma antes da tempestade, e Vatos não foi excepção. Tivemos laços entre personagens a serem estreitados para logo de seguida serem arrancados à dentada por mortos-vivos. É um final forte, agressivo, visceral, que eleva a qualidade geral do episódio. Muito bom.

22.11.10

Videojogos: Mega Drive Portátil

Como sempre fui uma pessoa de parcas posses, nunca fui capaz de acompanhar devidamente o avanço tecnológico em relação aos videojogos, pelo que acabei por investir o meu tempo em jogos mais antigos. A minha velhinha Mega Drive durou bem para lá da sua expectativa de vida, e hoje em dia as guerras Wii/PS3/X-Box passam-me bem ao lado, pois invisto o tempo destinado ao entretenimento electrónico em jogos retro. Assim sendo, foi com agrado que vi há não muito tempo no folheto promocional da E.Leclerc uma pequena consola que me deixou com a pulga atrás da orelha. A Mega Drive Portátil!



A consola é totalmente pirata (lançada pela empresa FIRECORE), e traz-nos quase sem mácula alguns dos clássicos da Sega, incluindo a opção de os jogar na televisão e, mediante a utilização de um comando USB, modo para 2 jogadores. O ecrã LCD de 2,8 polegadas, apesar de pequeno, tem uma resolução bonita. O som não é grande coisa, mas essa sempre foi uma das grandes falhas da Mega Drive em relação à sua principal concorrente Super Nintendo.

Dentro da Mega Drive Portátil temos os seguintes jogos:

- Alex Kidd
- Alien Storm
- Altered Beast
- Arrow Flash
- Columns 3
- Crack Down
- Decap Attack
- Dr Robotnick's Mean Bean Machine
- Ecco the Dolphin
- Ecco Jr
- Eswat
- Flicky
- Gain Ground
- Golden Axe
- Jewel Master
- Kid Chameleon
- Shadow Dancer
- Shinobi 3
- Sonic and Knuckles
- Sonic Spinball

Alguns destes jogos são clássicos, outros são menos bons. Na verdade, cerca de metade destes jogos não fizeram história, o que faz com que uma pessoa pense duas vezes antes de largar 50 € por esta pequena consola. Mas a Mega Drive Portátil esconde um trunfo para quem aprecia verdadeiramente a 16-bit da Sega: um leitor de cartões SD. Cartões esses que podem ser carregados com ficheiros *.bin. Que são os ficheiros utilizados na emulação de jogos de Mega Drive. Traduzindo, através de alguma marosca, a Mega Drive Portátil lê uma boa parte dos jogos criados originalmente para a Sega! Uma boa parte do que foi convertido para PC e que se encontra com relativa facilidade na Internet corre na Mega Drive Portátil! Perfeito!

Para os interessados, passarei a explicar a técnica. Atenção que a utilização de ROMS é ilegal caso não possuam o jogo original, só para que conste.

1º passo: Criar uma pasta intitulada GAME num cartão SD;
2º passo: Colocar os ficheiros previamente descarregados da Internet na pasta. Atenção que só ficheiros com a extensão *.bin funcionam, e visto que a maior parte dos ROMS vêm com a extensão *.smd, precisam de ser convertidos para a terminação correcta. Recomendo este conversor para a tarefa;
3º passo: Escolher a opção SD CARD na consola;
4º passo: Jogar.

Simples! Para os interessados na consola, a promoção termina em breve e decerto que a MD Portátil desaparecerá rapidamente dada a sua legalidade dúbia, pelo que há-que dar corda aos sapatinhos e agarrar uma destas pequenas maravilhas enquanto é tempo.

19.11.10

Discos: Girl Talk - All Day

Fresquinho, fresquinho: All Day, do mestre do Mash-Up e paladino da música livre, Girl Talk.




Girl Talk é um DJ Norte-Americano especializado num estilo musical que se chamou em tempos Bastard Pop e que actualmente dá pelo nome de Mashup. Este estilo musical consiste em misturar duas (ou mais) músicas sobejamente populares com o intuito de criar uma totalmente nova. Na fase embrionária do mashup, normalmente juntava-se a faixa vocal de uma canção ao instrumental de outra, mas hoje em dia utilizam-se tantos samples em cada faixa que por vezes torna difícil identificar a base musical. Actualmente este é um estilo legítimo com imensos seguidores, mas na sua génese fora bastante perseguido, uma vez que os artistas samplados nunca viram qualquer compensação pela utilização da sua música, dando origem a uma guerra entre o capitalismo da indústria discográfica e os DJs, com Girl Talk na linha da frente.

O que distingue Girl Talk de seus pares é o vastíssimo conhecimento musical, que lhe permite criar canções radicalmente diferentes utilizando apenas retalhos, dos obscuros aos automaticamente reconhecíveis. Basta ver a listagem de samples utilizados apenas no disco novo para se ficar com uma ideia da misturada sonora. Há quilos de Hip-Hop, Black Sabbath, M.I.A., Janes Addiction, Ramones e The Doors, e isto é apenas a primeira faixa de All Day. Mais à frente temos Portishead, Beck, Gloria Estefan, Daft Punk, Radiohead, Iggy Pop, Jackson 5, etc, etc,etc, etc. Impressiona especialmente quando se sabe que o DJ mistura tudo isto ao vivo, sem recorrer a faixas pré-gravadas. E só com dois braços.

O disco pode ser descarregado aqui. Caso os servidores estejam cheios, o site apresenta dezenas de alternativas para que ninguém fique privado desta pérola. De salientar que a restante discografia do artista está também disponível para descarga na página da Illegal Art. Bem vindos à festa de final de ano!

17.11.10

The Walking Dead, Série 1, Episódio 3: Tell It To the Frogs

Terceiro episódio e estamos precisamente a meio da primeira série, com mais um episódio a quebrar a barreira dos cinco milhões de telespectadores nos Estados Unidos. Está tudo louco com The Walking Dead. Um resumo opinativo do episódio logo a seguir à imagem. Mais uma vez, acautelem-se, que os SPOILERS mordem!





Sinopse: Glenn, Rick e o resto do grupo chegam finalmente ao acampamento de sobreviventes. O reencontro do polícia com sua esposa e filho deixa toda a gente feliz excepto Shane, que de um dia para o outro fica sem ninguém com quem possa fazer amor por trás. Entretanto, Darryl regressa da caça, e ao descobrir que o novo elemento do grupo deixara o seu irmão algemado a uma conduta de gás no telhado de um prédio cheio de zombies, logicamente decide salvá-lo. No entanto, de Merle só encontram uma mão, terminando o episódio sem se saber se o racista toxicodependente fora devorado ou se conseguiu amputar-se.

Diferenças em relação ao material-fonte: Comecemos pelas semelhanças. Rick encontra a família e todos ficam felizes menos Shane. É só. De resto, tirando alguns aspectos visuais decalcados das vinhetas da banda desenhada, este episódio não tem nada a ver com a obra de Robert Kirkman. O enfoque é dado especialmente às personagens novas, especialmente a Darryl e Merle, mas também a Carol e seu marido abusivo Ed. Na série, antes da chegada de Rick, é Shane quem claramente lidera, enquanto que na banda desenhada não há um líder definido. Numa curiosidade, Jim, um senhor de bigode que anda por lá sem levantar muitas ondas, já falou mais num episódio do que na banda desenhada completa.

Opiniões: Começa a ficar definido que esta série caminhará por caminhos diferentes da banda desenhada, encontrando-se com a mesma a espaços. Gostava que personagens importantes como Dale tivessem mais importância na trama, mas sei de antemão que neste caso terei de ter paciência, pois o mais certo será que estas novas personagens apresentadas até à data sirvam de comida para zombies nos entretantos. Apenas acho que existem personagens tão ricas que ainda não apareceram e, a meio da primeira série, temo que tenham sido totalmente apagadas do enredo. Onde estão Carol e Sophia? Onde estão Allen, Donna e os gémeos? Ainda assim, com as gigantescas diferenças em relação ao material-fonte, este foi um episódio sólido. Poucos zombies mas muita emoção à flor da pele, começam a surgir fissuras nas personagens e nasce aos poucos um clima pouco saudável entre os sobreviventes. Parece que terei de apreciar The Walking Dead como uma série inspirada livremente no universo da banda desenhada de Robert Kirkman. Se a série continuar com este nível qualitativo, por mim tudo bem.

10.11.10

The Walking Dead, Série 1, Episódio 2: No Guts, No Glory

Fico muito feliz por ver o sucesso que The Walking Dead está a ter, tanto no país de origem com em Portugal, de acordo com o sururu que me tem chegado aos ouvidos e atendendo ao número de visualizações que teve a minha resenha do primeiro episódio. Muita gente que não esperava que uma série com zombies valesse alguma coisa está a tornar-se fervorosamente adepta, e já chegou a feliz notícia da continuidade da série. Essa confirmação é excelente, tendo em conta que o segundo episódio pouco adianta a história, adicionando mais pormenores a um Universo ficcional já de si riquíssimo. Mas já lá vamos. Para já, fica o aviso de SPOILERS, muitos, grandes e suculentos.





Sinopse: O episódio inicia com Rick apanhado numa situação desesperante, mas prontamente salvo por Glenn, um simpático sobrevivente que juntamente com um pequeno grupo deslocara-se à cidade grande para recolher mantimentos. No entanto, com os tiros e ruído provocados durante o salvamento, os zombies estão agora alerta para as movimentações humanas, e o pequeno grupo terá de recorrer à astúcia e liderança nata de Rick para finalmente conseguir escapar de Atlanta. Entretanto, no acampamento dos sobreviventes. Shane faz amor com Lori. Por trás.

Diferenças em relação ao material-fonte: O episódio inicia-se de forma fiel à BD mas a fidelidade não dura dez minutos. Enquanto que na obra de Robert Kirman, Glenn salva Rick e ambos regressam rapidamente ao acampamento, aqui a situação arrasta-se e complica-se, principalmente porque na série Glenn levou um grupo de 5 pessoas com ele, dos quais apenas uma personagem, Andrea, pertence aos livros. Todas as outras personagens são completamente novas, destacando-se Merle, um racista agressivo que para já se tornou no principal antagonista da série, a personagem mais odiável de todas as apresentadas até agora.

Opiniões: Com um ritmo mais rápido que o episódio de estreia e mesmo não estando totalmente ao nível deste, 'No Guts, No Glory' ganha em intensidade. A inclusão de novos sobreviventes, além de ter rendido um episódio ao desviar-se maioritariamente do material-fonte, faz com que a série ganhe interesse redobrado para quem já leu os livros várias vezes como eu: o destino das personagens é uma incógnita e The Walking Dead tem agora um ar de imprevisibilidade que me agrada. São os pormenores cinzelados nas pinceladas grossas que me fascinam. Nota positiva para o actor escolhido para interpretar Glenn. Steven Yeun adiciona profundidade à personagem, torna-a mais sarcástica e humorada, muito graças à sua expressão corporal. A parte em que Glenn e Rick fingem ser zombies (retratada em cima) deu para rir! O asiático é das personagens mais queridas pelos fãs da banda desenhada, e é um deleite vê-lo bem retratado. Em suma, mais um grande episódio.

8.11.10

Livros: Escritos Pornográficos

Foi editado em Portugal este ano um pequeno mas peculiar livro de Boris Vian, uma estreia em terras lusas e por isso mesmo motivo de atenção: Escritos Pornográficos.



Boris Vian viveu uma curta mas intensa carreira no Mundo literário até à hora do seu falecimento, há 50 Primaveras transactas. Quer pela sua maneira muito pessoal de ver as coisas na sua escrita em nome próprio, quer pela violência e sexualidade explícita na escrita de seu pseudónimo Vernon Sullivan, Vian esteve sempre dentro de uma nuvem de polémica que tanto lhe deu notoriedade como serviu para arrastar o seu nome na lama. Estranha-se saber porque um livro com este título vindo deste autor tenha demorado tanto tempo a chegar a Portugal.

Para quem já teve a oportunidade de conhecer as várias encarnações de Vian não vai encontrar em Escritos Pornográficos grande novidade. Temos cinco poemas espirituosos, um ensaio divertido a espaços mas de interesse reduzido e um conto verdadeiramente explícito. Entre notas sobre os textos, um prólogo, as ilustrações de Pedro Vieira e uma biografia exactamente igual à apresentada noutras obras do autor, o verdadeiro sumo é bom mas sabe a pouco. Quem conhece a obra de Vian sairá desiludido, quem não conhece também não é em Escritos Pornográficos que vai ficar a conhecer. Resumindo, este é um livro divertido e interessante para mentes badalhocas e apreciadores do autor, mas peca por ser curto e grosso mas não dar duas voltas ao pescoço.

3.11.10

The Walking Dead, Série 1, Episódio 1: Days Gone Bye

The Walking Dead estreou ontem na Fox Portugal. Aquando a sua estreia no Domingo passado no Estados Unidos, bateu todos os recordes de audiência, com mais de 8 milhões de pessoas sintonizadas! Impressionante, para uma série totalmente gore como esta, cheia de tripas, moscas, e sangue seco. Pessoalmente, tenho umas palvrinhas a dizer. Para quem ainda não viu o episódio em questão, este texto está forrado com SPOILERS. Cautela na leitura!





Sinopse: O primeiro episódio conta a história de Rick Grimmes, polícia de província, casado com Lori e com um filho, Carl. Rick, juntamente com o seu parceiro Shane, vê-se a braços com um tiroteio e é baleado. Enquanto recupera no Hospital do seu ferimento, entra em coma, acordando bastante tempo depois, sozinho. Nos corredores do Hospital existem cadáveres aparentemente devorados, e o pátio das instalações hospitalares está coberto de mortos, todos fuzilados. Vagueando pela cidade, Rick conhece Morgan e o seu filho Duane, que lhe contam o sucedido. Os falecidos já não ficam falecidos, e uma mordida de um morto-vivo é uma sentença de morte-vida (que palavra tão bonita). Ciente do perigo que corre, Rick decide ainda assim investigar a sua casa, chegando à conclusão de que a sua família deverá estar viva, pois tudo leva a crer que partiu levando pertences de valor sentimental como albuns de fotografias. Despedindo-se de Duane e Morgan, Rick parte para Atlanta à procura de Carl e Lori. Mas a cidade grande está morta e o episódio termina com um cliffhanger que, mesmo sabendo o que deverá acontecer a seguir, me deixou prontinho para ver logo o próximo episódio.

Diferenças em relação ao material-fonte: Muito ligeiras. Existe uma pequena cena que mostra o campo dos sobreviventes, chegando mesmo a mostrar o romance entre Lori e Shane. Essa cena serve para avançar mais rapidamente a narrativa. Pessoalmente, teria deixado esta surpresa para o episódio seguinte, mas compreendo que a história tenha de avançar de algum modo, uma vez que para já só temos mais 5 episódios pela frente. Surgiu também uma nova personagem, a mulher de Morgan, devidamente zombificada, que só vem dar carga emocional quando chega a altura de a abater, e que contribui para dar dimensão a uma personagem que, se a série for fiel aos livros, só voltará a surgir lá para a 5ªa ou 6ª série (esperando que dure até lá).

Opiniões: Gostei muito. Está totalmente fiel à Banda Desenhada, chegando ao pormenor ter ter zombies visualmente muito parecidos aos do livro. O desespero que se sente é palpável, e ainda a procissão vai no adro. Em termos de efeitos especiais, tudo está muito bem conseguido, e inclusivamente violentíssimo. Não é qualquer série que mostra uma criança de 10 anos a ser alvejada na testa, mas The Walking Dead claramente não é uma série qualquer. Interessante como as cenas de terror acontecem sempre em plena luz do dia. Tenho algumas dúvidas se o actor principal terá carisma suficiente para interpretar Rick Grimmes, mas vou-lhe dar o benefício da dúvida. Para já, irrita-me um pouco por ser muito parecido a um amigo meu que é cromo do futebol. Estou sempre à espera que algum zombie lhe passe a bola e o polícia comece a dar toques e a gabar-se de que é o melhor das Distritais.

Assim sendo, tal como aconteceu com a Banda Desenhada, estou agarrado. Todas as Terças-Feiras estreia um novo episódio na Fox (fortemente cortado para não ocupar muito espaço na programação, pelo que não será a melhor opção), e para os mais impacientes, a série sai aos Domingos nos Estados Unidos, com pessoas sem vida própria a legendarem os episódios 2 horas depois de surgirem nos torrents. Eu cá estarei para papar os episódios todos. We Are The Walking Dead.

30.10.10

The Walking Dead: Expectativas e Receios

Para quem anda distraído e não tem visto a publicidade na televisão nem os cartazes nas paragens de autocarro, está prestes a estrear uma nova série na Fox. Série essa, baseada num universo ficcional que me é muito querido, a banda desenhada The Walking Dead.



The Walking Dead, de Robert Kirkman, é um intenso conto de sobrevivência num Mundo virado do avesso. Neste caso, os antagonistas são Zombies, mas também podiam ser extraterrestres, lobisomens ou cães de loiça raivosos. Isso não é relevante. Interessa saber que as personagens convivem numa situação extrema e que os códigos morais e de conduta deixam de fazer sentido. Para mais informação sobre a banda desenhada, sigam o link (BANDA DESENHADA: THE WALKING DEAD). Poderão ver que a minha opinião sobre a série não mudou de 2007 a esta parte.

A banda desenhada venceu um prémio Eisner em 2010 (o equivalente aos Óscares para a Nona Arte) e a crítica especializada tem vindo a tecer os mais rasgados elogios à obra. A secção de banda desenhada do site IGN, que dedica parte do seu espaço a criticar livros, nunca deu uma nota mais baixa do que 8,5 em 10 a The Walking Dead. Em quase oitenta livros, isso quer dizer muito.

Em Novembro sai o 13º Trade Paperback, mas antes disso temos uma série televisiva de 6 episódios, e toda a gente ligada ao mundo dos livros aos quadradinhos deposita nela imensa fé. O próprio Kirkman realizou um episódio! Não há como falhar, dizem, mas eu não consigo deixar de ficar inquieto.

Os meus receios em relação a The Walking Dead são simples:

- Receio que a série não tenha sucesso e que isso dite o final da banda desenhada;

- Receio que a série tenha um sucesso de tal forma avassalador que a narrativa avance rapidamente até ficar a par com a banda desenhada, o que fará com que as histórias sejam escritas à pressa e a banda desenhada perca qualidade e definhe.

Atentos que acredito perfeitamente que a série será boa, com um material de base desta qualidade teria de tudo correr horrivelmente mal para que assim não fosse. Basicamente, gosto demasiado desta série e despendi tanto tempo com estas personagens que não gostava que tudo acabasse entretanto. Robert Kirkman, no primeiro volume da banda desenhada, referiu que o seu objectivo era criar uma história de zombies sem final à vista. Que as aventuras do grupo de Rick Grimes pudessem durar enquanto houvesse imaginação para as escrever. Criar uma série de televisão em torno de The Walking Dead poderá potenciar um final desse Universo. Ou não. Tudo depende de como as coisas forem feitas.

Para já, a série está criada e estreia amanhã nos Estados Unidos, e 2 de Novembro na Fox nacional. Eu tenciono vê-la e disfrutá-la ao máximo, porque, apesar dos meus receios, ver a Amy, o Rick, o Carl, a Michone, a Lori, o Glenn, o Dale, até o "maior filho da puta de todos os tempos" Governor, todos em carne (putrefacta) e osso (rachado), é a prova da inegável qualidade da obra de Robert Kirkman. The Walking Dead é a minha banda desenhada favorita, e como nerd que sou, fico feliz se lhe for feita justiça.

1.10.10

Provérbio do Borda D'Água para Outubro de 2010



Se o gajo do Borda D'Água manda é para ser feito!

29.9.10

Tudo o que interessa saber sobre os Estados Unidos, capitulo XXV: Missouri

Missouri, o Estado das Cavernas


Capital: Jefferson City

Animal: Mula (um animal tão miserável que nem merece nome científico)

Lei idiota: É legal ultrapassar o limite de velocidade nacional

Banda: Someone Still Loves You Boris Yeltsin



Miss Missouri: Candice Crawford



Facto Absolutamente Espectacular! Os Americanos pronunciam o nome deste Estado como Missoura. Os Americanos são parvos.

28.9.10

Pretty

23.9.10

5 canções de Daniel Johnston recicladas por outros artistas

Mais do que pelas suas interpretações, as canções de Daniel Johnston tem vindo a ganhar reconhecimento nas interpretações de outros artistas, sempre mais fáceis de digerir. No seguimento do meu post de ontem sobre o filme The Devil and Daniel Johnston, apresento cinco canções de Big Dan apresentadas por cinco artistas distintos.


De vários discos de tributo a Daniel Johnston, o mais conhecido é "The Late Great Daniel Johnston - Discovered Covered", um interessante documento contendo não só versões de gente bem conhecida como Eels, Violent Femmes, Beck, Death Cab For Cutie e TV on the Radio, bem como os originais de Johnston. É neste disco que encontramos a belíssima versão dos Sparklehouse com os Flaming Lips para Go.



Um dos momentos altos da banda sonora de "Where The Wild Things Are", a interpretação de Karen O para Worried Shoes atinge a leveza musical que a pureza da letra, uma das melhores de Daniel Johnston, pedia há muito. Sufjan Stevens tem também uma versão muito interessante, se bem que totalmente diferente, desta canção no disco de tributo "I Killed The Monster".




Também em Portugal e Brasil se venera o génio criativo de Daniel. No recente disco "Femina", no qual The Legendary Tigerman convida meia dúzia de vozes femininas para cantarem no seu disco, encontramos como bónus True Love Will Find You In The End, interpretada pela Brasileira Cibelle.




Os Yo La Tengo fizeram duas versões de Speeding Motorcycle: uma de estúdio, incluída no disco de covers "Fakebook", e outra a finalizar o EP "Here Comes My Baby", uma divertida sessão de rádio com Daniel Johnston a cantar pelo telefone (-"Daniel, let me introduce you to the band..." - "OK, Hi band!"). Esta é a versão de "Fakebook".




Daniel Johnston tem colaborado frequentemente com outro artista "especial", Jad Fair. Uma das suas canções conjuntas, Somethings Last a Long Time, aqui trazida pelos Built to Spill.








Bónus: Daniel Johnston interpreta Grievances num Taxi preto em Londres.

22.9.10

Filmes: The Devil and Daniel Johnston

Daniel Johnston. Quem não gosta, diz que é uma aberração. Quem gosta, diz que é um génio. Não há meio termo. Originalmente, pendi para a primeira hipótese, até entender que Daniel Johnston era muito mais do que músicas mal cantadas e mal tocadas. Pegando e adaptando a frase d'O Princepezinho, o essencial é inaudível para os ouvidos, e conseguindo-se escutar para lá das camadas de crueza doentia e genuíno lo-fi, encontram-se melodias deliciosas que nas mãos de gente mais capaz tornam-se grandes malhas, como se Daniel fosse o mineiro, bruto, feio e retardado que retira o carvão do buraco, para este se transformar em safiras quando chega às mãos dos ourives...

Um amigo meu que pende também para a primeira opção descobriu a existência do filme The Devil and Daniel Johnston, de 2005. Já tendo visto o filme e gostado bastante do mesmo, e com a esperança vã de também fazer com que a opinião deste meu amigo em particular se altere um bocadinho, apresento as minhas impressões sobre o documentário.



The Devil and Daniel Johnston é o apontamento biográfico de um artista Norte-Americano maníaco-depressivo com mania de grandeza, retratando o equilíbrio precário entre a loucura e a genialidade, com uma precisão mórbida alcançada por intermédio de cassetes de vídeo e áudio que o próprio Daniel gravou ao longo de toda a sua vida. Tudo servia para ser gravado: discussões com os pais, canções, orações, conversas de desconhecidos... Numa das partes mais perturbadoras do filme, Daniel desaparece a meio de uma sessão de gravação com os Sonic Youth, após ter sido preso por profanar a Estátua da Liberdade, e chegamos mesmo a ouvir os relatórios policiais, gravados pelo próprio no auge do seu delírio esquizofrénico.

O documentário conta-nos então a história de um artista com imenso talento aprisionado numa mente confusa, um garoto que cria melodias lindas com um orgão de plástico e um gravador estragado, um pianista muito capaz que abandona o piano e insiste na guitarra que simplesmente não sabe tocar, uma pessoa feliz, cheia de vida e com uma alegria contagiante, um fundamentalista católico que acha que todos os seus problemas são causados por Satanás, um artista plástico competente que expõe os seus quadros nas melhores galerias de arte, um ser frágil e doente que só quer ser deixado em paz, um génio que se coloca no mesmo patamar que os Beatles, um mau cantor com letras entre o pateta e o brilhante, uma pessoa com tanto para dar e transmitir que literalmente perde o juízo ao tentar partilhar tudo o que tem com o Mundo, um ser perturbado e violento, um louco preso a uma camisa de forças num asilo enquanto Kurt Cobain sai à rua com um T-Shirt com a capa de "Hi, How Are You?" e subitamente toda a gente pergunta "Quem é Daniel Johnston?"

A minha parte favorita do filme é quando a MTV vai à localidade de Daniel e este, agarrando a sua oportunidade, passa o dia inteiro a chatear os produtores da estação, mostrando a sua cassete e falando da mesma com entusiasmo a cada minuto, até que finalmente o deixam actuar em directo para toda a nação. Uma vitória, um momento de glória, felicidade genuína. Se o filme acabasse neste momento teria um final em cheio.

Mas, tal como a vida, The Devil and Daniel Johnston prossegue e acompanhamos o declínio mental de Daniel, perturbador e confuso, até ao actual estado sedado, mas feliz e funcional, rodeado por quem lhe quer bem. Há uma preocupação verdadeira que transparece para o público: o que será deste gentil gigante quando os seus pais, que sempre o acompanharam, falecerem? Este receio agudiza-se quando tomamos conhecimento do falecimento da sua mãe, no passado dia 16 deste mês.

The Devil and Daniel Johnston é um filme que nos faz rir, que nos comove, que nos leva a pensar sobre as nossas vidas, que nos assusta, que nos toca se o nosso coração estiver no sítio certo. Filme importante, melhor, essencial para qualquer fã de música dita independente. Artistas torturados do Mundo, vejam The Devil and Daniel Johnston e ganhem vergonha na cara!

Daniel Johnston = Génio.


Trailer:

21.9.10

5 canções para terminar o Verão em beleza

The Pains of Being Pure at Heart - Come Saturday




Belle and Sebastian - A Summer Wasting




Belle and Sebastian - Asleep on a Sunbeam




The Drums - Let's Go Surfing




Best Coast - When I'm With You





ADEUS VERÃO, ATÉ PARA O ANO!

13.8.10

SW 2010: Vens ver ou vens levar cum pau pas costas?

Este ano prometi a mim mesmo curtir um Festival de Verão à antiga. Já tinha ido 2 dias ao Optimus Alive, mas queria ir a um clássico, daqueles com campismo reles, concertos a rodos e boa onda generalizada. A escolha, por condicionantes profissionais, recaiu sobre o Sudoeste TMN 2010. Certo que, dos festivais grandes, era o que apresentava o cartaz mais fraquito, mas um ardente desejo de ver Flaming Lips no dia 5 por minha parte, muita vontade de ver Jamiroquai no dia 6 por parte dos meus companheiros de jornada e extrema necessidade de ver Beirut por parte de umas pessoas de quem gosto e com os quais já não estava há imenso tempo, e assim sendo, a Música no Coração ficou com os meus 80 € e eu fiquei com acesso aos dias todos do Festival, incluindo o infame dia de merda que afinal nem foi assim tão merdoso. Aqui fica um registo detalhado e palavroso do que vi e vivi por lá.

4 de Agosto - Recepção ao Campista

No dia da pré-época, saí de minha localidade juntamente com os meus dois comparsas já o Sol se punha, depois de uma jornada de trabalho. Longas horas por estradas mal iluminadas e sinuosas, e um condutor tresloucado rindo às gargalhadas enquanto fazia 3 quilómetros de curva apertada para a direita seguidos de 5 metros de curva para a esquerda e 10 metros de curva para a direita, até atravessar as duas casas e o poste de electricidade que constituem a localidade "Peúgas a Secar na Corda" (esta não existe mas pouco falta) e apanhar mais curvas imbecis. Um turbilhão de emoções fortes até finalmente se chegar ao SW, já a noite corria bem avançada. Aí, foi atirar a tenda para o primeiro buraquinho disponível e siga para o recinto que já lá estão os DJs.

Com o avançado da hora, só chegámos a tempo da actuação do Zé Pedro dos Xutos, mas uma viagem tão extenuante como a que havíamos tido requer uma rápida manobra de re-hidratação, pelo que na altura em que correm abruptamente com o Zé Pedro dos Xutos do palco já estávamos bem mais pobres, mas também mais alegres e dançarinos. Mesmo no ponto de rebuçado para os 2 Many Dj's. Os meninos Soulwax entraram em palco sintonizando um transístor em rádios locais, mas rapidamente passaram para a electrónica pura e dura, o que, apesar de bem conseguida, me fez passar vergonha entre os meus pares, depois de ter passado a duração de 2 cervejas a explicar-lhes o conceito de Mash-up. Os homens praticamente inventaram o género e agora já não o passam? Passam, passam, só que não se limitam a isso e ainda bem. Algumas misturas e remisturas muito bem conseguidas, com o ponto alto a chegar com "Roots Bloody Roots" dos Sepultura e testar a potência do sistema de som do Festival. Foi feliz.

Depois da actuação do Belgas não me lembro se houve mais alguma coisa, mas com o cansaço e a cerveja eu já só queria xixi-cama e foi assim que terminou o primeiro dia de Festival.

Uma foto do primeiro dia de SW:

Uma das muitas terras "miseráveis" por onde passámos


5 de Agosto - Flaming Lips e pouco mais

O SW10 é uma área ampla com uma zona de restauração decente, insuficientes casas de banho mas muito mato para ser regado, diversões que vão dos matraquilhos à montanha-russa, e 3 palcos, o principal onde actuam os cabeças de cartaz, o secundário onde actuam as bandas menos conhecidas mas quase sempre mais interessantes, transformando-se posteriormente em tenda de DJs, e o palco Reggae onde está sempre a dar a mesma música. É um festival conhecido por se situar numa área com imenso pó, e popularizou-se por trazer habitualmente cartazes bastante fortes e consistentes, mas de há uns anos para cá a qualidade dos mesmos tem vindo a decair e o público, que nunca foi especialmente bom, actualmente está reduzido a putos que acham que devem de ir a um Festival porque fica bem no curriculum e se não fossem os Espanhóis que na sua essência são os verdadeiros festivaleiros em espírito e boa onda isto era uma desgraça. Em termos de condições para se viver, o Festival possui uns chuveiros decentes e um canal de rega bastante aprazível para uns mergulhos, com a presença constante de um DJ. Antigamente perto do canal funcionava uma área de Workshops mas hoje em dia já toda a gente nasce ensinada.

O campismo do Sudoeste é uma merda. Eu já o conhecia e já o sabia, apenas não me recordava. Aliás, o campismo em qualquer festival é uma merda, mas o do SW tem a particularidade de ser simultaneamente o com menos sombra e temperaturas mais elevadas. Este ano ainda estreou a modalidade Car Camping, uma maneira de roubar mais uns euros aos tristes que caíram na esparrela, estacionando o carro ao Sol e montando a tenda ao lado da viatura, o mesmo que o visitante casual costuma fazer sem ter de pagar mais por isso. Quanto a nós, além de termos sido umas bestas por colocarmos a tenda em cima de pedras e paus, ainda fomos brindados a noite toda com um concerto de Djambés e batucada geral. Juntando a isso o facto de alguém ter tentado a sua sorte ao tentar desmontar-nos a tenda porque não nos queria ali perto do "seu" espaço e de ter sido mandado violentamente cordialmente para o caralho e pode-se dizer que não foi uma noite muito bem dormida.

Nada que um dia inteiro de papo para o ar na praia da Zambujeira do Mar não remedie, especialmente quando o areal está minado de miúdas giras, dizem os meus companheiros que eu nem reparei pois tenho uma namorada muito mais bonita e interessante e que lê o meu blog!!!

A noite foi iniciada no palco Reggae, onde depois de uns minutos sempre a ouvir a mesma música encontrei uns amigos e fomos todos contentes da vida para o palco principal, onde os Bomba Estéreo iniciavam a sua actuação. A banda colombiana possui uma vocalista que é um autêntico metro e meio de garra, tal foi a entrega com que brindou as escassas pessoas que se juntavam frente ao palco. Misturando a tradicional Cumbia Colombiana com Electrónica, a banda conseguiu fazer com que os corpos bandoleassem o suficiente para que a sua actuação tivesse saldo positivo. Colocássem-nos no FMM de Sines ou no MED de Loulé, com público sintonizado na World Music, e a sua actuação teria sido lendária.

Findada a actuação dos Bomba Estéreo, veio a melhor banda ao vivo que já tive oportunidade de presenciar: The Flaming Lips, E, 5 minutos depois do inicio, com a senhora do ecrã gigante a parir a banda, o vocalista Wayne Coyne a passear por cima da minha cabeça dentro de uma bola gigante e um arsenal de confettis e balões a serem arremessados continuamente para o público, já berrava e pulava em estado de delírio histérico, "ESTE É O MELHOR CONCERTO DA MINHA VIDA!", frase hiperbolizada pela emoção do momento mas com muita verdade nela contida, pois se não foi o melhor foi certamente aquele no qual mais berrei, pulei (descalço, pois os chinelos saltaram-me dos pés), cantei e delirei, e tudo isto sem recurso a estupefacientes! A projecção de imagens ao longo das músicas foi perfeita, a constante chuva de papelinhos multi-cores, as mãos gigantes, os lazers, os adolescentes palpitantes alaranjados, o urso em palco, as fortíssimas canções de Embryonic com destaque para a excelente "Worm Mountain" a abrir e a divertida "I Can Be a Frog" lá mais para o fim, a recordação do seu primeiro grande hit "She Don't Use Jelly" e o brilhante final com "Do You Realize??" a fechar com chave de ouro uma hora e quarenta e tal minutos de alegria pura. Consta nas publicações especializadas que o público se mostrou apático durante o concerto (retardados!) mas estava tão bem lá à frente a viver o momento que nem perdi tempo a olhar para trás, fosse eu correr o risco de perder o que quer que fosse daquele palco. Como uma criança de 6 anos que descobre que existem gelados de morango e que quer que aquele sabor dure para sempre, assim fiquei eu com o concerto dos Flaming Lips, se pudesse via-os todos os dias da minha vida que o sabor nunca se perderia!

Resumindo, gostei.

Mas a seguir veio M.I.A. e desse já não gostei. Os graves estavam tão exageradamente altos que tudo vibrava no recinto: vibravam os meus cabelos, dentes, roupa, neurónios enquanto estive na fila da frente, vibravam as tendas da comida, vibravam os palcos secundários, vibravam as tendas do campismo. Foi como se o homem do saco me tivesse roubado o gelado oferecido pelos Flaming Lips, me esbofeteasse e me urinasse para cima. Com tanto grave, as músicas que de si já não variam muito pareciam todas iguais, e como o palco estava muito escuro em contraste com o delírio visual anterior, não consegui apreciar em condições o concerto da MC.

No final, já com as pernas em papa (os chinelos eram muito maus) ainda me arrastei para o palco secundário para ver um pedaçito de Kruder & Dorfmeister, mas as condições escasseavam e fui para a caminha que já tinha dado o Vitinho.

Uma foto do segundo dia do SW:

Wayne Coyne segundos antes de me atropelar


6 de Agosto - Vamos ajudar o J.K. a comprar coca

Segunda noite horrível no campismo, com a electrónica do Palco Secundário a servir de banda sonora para a tortura dos paus e pedras que se iam alojando nas minhas costas, e o concerto de djambés e batucada da noite anterior a continuar no preciso momento em que conseguira adormecer. Cheios de mau feitio dirigimo-nos para a fantástica Vila Nova de Mil Fontes, uma simpática localidade que mete qualquer um bem-disposto, com uma praia que mesmo não sendo tão exageradamente bem frequentada como a da Zambujeira do Mar, chegou para que alguém se apaixonasse.

A noite festivaleira começou no Palco Secundário para se escutar o Hip-Hop de Ladi6, uma Neo-Zelandeza com uma excelente presença em palco, secundada por um DJ muito competente e interventivo. Ladi6 faz a já costumeira mistura de Soul e Hip-Hop, mas a sua simpatia e competência conseguiu quebrar o gelo inicial e no final do concerto o público já lhe comia nas palminhas das mãos. Uma agradável surpresa.

A seguir foi-se ao Palco Principal ver um pouco de James Morrison, o suficiente para nos dar vontade de ouvir música, e assim rumámos para o palco secundário mas lá música não encontrámos, pois estava em palco o Virgul dos Da Weasel com o seu projecto de banda-sonora-para-Feira-Popular Nu Soul Family. Ainda a procurámos no Palco Reggae, mas como lá estava a dar sempre a mesma música fomos jogar matrecos e beber coisas com álcool. Nota positiva para os seguranças que deixam entrar para o recinto qualquer tipo de bebida alcoólica, desde que a mesma esteja dentro de garrafas de plástico. Com imperiais a 2 €, foi boa onda!

De repente estou sozinho no Palco Secundário e inicia-se o concerto de Lykke Li. A Sueca deu um espectáculo poderosíssimo em intensidade e não desiludiu nem um bocadinho. Num concerto mais percussionado que electrónico, a temas mais conhecidos como "Dance Dance Dance" e "Little Bit" juntou dois temas novos e ainda brindou o público com uma cover da "Silent Shout", dos conterrâneos The Knife e um ensaio a "Ready Or Not" dos Fuggees. Vestida de negro tal como a banda e envergando um véu a espaços, a artista pouco falou mas o seu olhar e linguagem corporal ecoaram pelo espaço. Concerto curtinho, mas bom para cacete!

Seguiu-se Jamiroquai no palco principal. Este foi o meu terceiro concerto desta banda, e assim sendo tenho base de comparação. A primeira vez que os vi havia sido precisamente no Sudoeste, em 2003. Segundo as publicações da época, J.K. encontrara-se com o pai pela primeira vez nessa noite (o pai é Português) e estava particularmente excitado. Segundo as más línguas, J.K. tinha tido uma overdose de cocaína, esteve às portas da morte, mas recuperou a tempo do concerto. O que interessa é que foi um espectáculo do caraças, a banda estava afinada e o artista cantou, dançou, saltou e conversou com o público durante o tempo todo. Dois anos mais tarde, em Albufeira, surgiu o Festival Sunrise, basicamente mais uma desculpa para a banda regressar ao nosso país. O concerto foi novamente muito bom, a banda deu o litro e havia disco novo, Dynamite. Passados 5 anos e a banda já não é o que era. O concerto foi apenas um desfilar de êxitos uns atrás dos outros, o que teoricamente significa um espectáculo mais rico para ouvintes casuais, mas com a banda em piloto automático e J.K. envergando a maior cara de frete de todos os tempos, até parecia que lhes estávamos a fazer um favor por estar lá. Ao vocalista só faltava olhar para o relógio de vez em quando para ver se faltava muito para acabar. Interacção com o público nula, dança reduzida ao essencial, actuação pouco inspirada, vamos lá acabar isto que é para eu receber e estourar o guito em branca. Foi uma pena.

Seguidamente ainda espreitei o concerto dos Orelha Negra, o suficiente para concluir que a banda resulta melhor em disco que ao vivo. Creio que se tivessem sido colocados a horas mais decentes no Palco Secundário o concerto teria sido mais interessante. Assim, foi-se alternando entre o Palco Principal e o Palco Reggae onde estava sempre a dar a mesma música.

Uma foto do terceiro dia do SW:

Ladi6 com os olhos fechados.


7 de Agosto - O dia de merda que afinal até nem foi mau

Mais uma noite terrível de campismo, somando-se ao já habitual "Opus de Djambé para campista festivaleiro" e aos restos da tenda da brita um grupo de Espanhóis que esteve a tocar a mesma canção à guitarra durante bem mais de uma hora! Desta vez os paus e as pedras não chatearam porque fui esperto e adquiri um colchão de encher em Vila Nova de Mil Fontes. Isto é um Festival, não é a Via Sacra.

O mau humor matinal foi curado com uns mergulhos no canal de rega do campismo, com uma temperatura de água muito melhor do que qualquer praia da região e um DJ a passar música pouco abrasiva. Seguiu-se uma tarde em Odeceixe, e se mais nada se aproveitasse destas férias, as variadas e lindíssimas praias que tivemos oportunidade de visitar fariam com que toda a viagem tivesse valido a pena.

O dia 7 era considerado o dia mais fraco. Com um Palco Secundário constituído quase na totalidade de bandas portuguesas, um Palco Reggae sempre a dar a mesma música e bandas como Sugarbabes e Tim dos Xutos no Palco Principal, é natural que muita minhoca se encolhesse para dentro do prepúcio. Mas eu sou pessoa de coragem e enfrentei o dia com bravura, e, enquanto os meus dois cobardes companheiros optaram por rumar à localidade de acolhimento para verem o Benfica a perder, estacionei a garrafa de Vodka Limão no Palco Secundário e por lá fui ficando.

E ainda bem porque logo no inicio da tarde apanhei com o espectacular concerto dos Diabo Na Cruz, projecto que conta com gente dos Feromona, Jorge Cruz, B Fachada e aparentemente um clone do Manel Cruz vindo de uma máquina do tempo directamente de 1998 para tocar baixo, bigodinho incluído. Os Diabo Na Cruz fazem um bem conseguido cruzamento entre a verdadeira música tradicional Portuguesa e o Rock, conseguindo criar uma sonoridade interessante e acima de tudo empolgante. As letras são castiças e alojam-se bem no ouvido, e a banda tem uma atitude de curtição contagiante, estando visivelmente a divertir-se em palco e levando o público na sua onda. O album Virou! foi tocado quase na íntegra, e ainda tiveram tempo de nos brindar com uma muy bem conseguida versão da "Lenga-Lenga" dos Gaiteiros de Lisboa. Brilhante concerto, um das memórias a reter do Festival.

Seguiram-se os Anaquim, banda cuja denominação me irrita profundamente. E quando antipatizo com o nome de uma banda, fico sempre à espera que me compensem de alguma forma. Mas a banda lá se redimiu, tocando uma versão saltitante do genérico dos clássicos desenhos animados do Tom Sawyer. A música, acústica porém energética, soa bem ao ouvido, e as letras estão bem sacadas, especialmente as dos seus maiores sucessos, "As Vidas dos Outros" e "Na Minha Rua". O senhor vocalista lançou umas frases inspiradas sobre amores perdidos que só não atingem quem nunca os teve, e ainda conseguiu fazer um pseudo-dueto por telepatia com o espírito de Ana Bacalhau. Quase, quase, quase me convenciam!

No alinhamento seguiram-se os Britânicos Friendly Fires e no final do concerto, a tenda do Palco Secundário escorria suor, sendo que metade do mesmo pertencia ao vocalista da banda, que a páginas tantas suspirou um "não se admirem se eu desmaiar". O homem dançou que nem um perdido perante uma plateia muito bem composta e em estado de ebulição, numa das noites mais quentes do Festival. Praticantes de uma Electrónica com raízes no Pós-Punk, os Friendly Fires atiraram-se com unhas e dentes a temas como "Jump in the Pool", "White Diamonds" e "Ex-Lover", deixando-me de queixo caído, especialmente por conhecer deles apenas "In The Hospital", o tema dos separadores da Sic Radical, e pouco mais. O vocalista é um entertainer nato, cantou, dançou violentamente, pulou e só lhe faltou fazer crowd surfing para a entrega ser total. Grande estreia.

E com 3 concertos bem interessantes no bucho, o dia de merda estava a ser tudo menos isso, mas a maior surpresa da noite estava reservada para o fim. Num Palco Principal decorado com um estilo Disney/Tim Burton surge Mika. Isso mesmo, Mika. O maior Showman do Festival. E deu um concerto do caraças, cantando, dançando e comunicando constantemente com o público em Português e Inglês, num modo de tradução instantânea a cada palavra que pronunciava. Foi o concerto mais festivaleiro do certame, com o público a interagir entre si (finalmente) e o músico a deixar a pele em palco, certificando-se de que toda a gente dê o seu tempo por bem empregue. Surgiu uma perna gigante no meio do público durante "Big Girls", uma enorme bandeira em homenagem a um amigo desaparecido e um momento tocante em "We Are Golden", quando praticamente todo o público levantou uns corações dourados oferecidos pelo patrocínio. Uma agradável surpresa e um "toma lá para ver se é desta que aprendes a não julgar o livro pela capa".

Uma foto do quarto dia do SW:

O meu lado era o mais arrumadinho, do colchão. Experiência de outros Festivais: tenda desarrumada nunca é assaltada


8 de Agosto - Temos Festival!

Djambés, guitarradas e britalhada ainda se vai aguentando sofridamente, mas quando o vizinho do lado adquire um megafone e passa a noite a debitar catchprases de videos da net já a porca torce o rabo! Felizmente choveu perto da manhã, o que me proporcionou uma preciosa hora de sono que guardei com ternura para o resto do dia!

Com os meus colegas a destilar dentro da tenda, fui passear pelo recinto vazio, algo que gosto muito de fazer mas que ainda não tinha tido oportunidade. É um exercício interessante e recomendável, dá para se reavivarem memórias de Festivais passados e tomar o pulso ao espaço. Quando visualizo o Sudoeste, na minha mente os concertos são sempre ao final da tarde, o Sol já não castiga tanto e a cerveja escorrega como se fosse a primeira depois de um longo dia de trabalho. Nesta altura tive a oportunidade de ver o Soundcheck de Mike Patton e perceber logo ali que teria pela frente um concerto muito especial.

Depois de uma visita fugaz por uma praia cujo nome se perdeu, a última noite do Festival começou com peixe:avião no Palco Principal. O melhor deste concerto foi mesmo o mojito divinal que comprei na economia paralela, dentro do campismo. Os Bracarenses deram seca e partimos antes do encore.

No Palco Secundário actuava Carminho, uma menina muito linda e simpática que por acaso até tem um vozeirão capaz de deixar os estrangeiros de olhos esbugalhados e os Portugueses a exclamar AH FADISTA aquando cada nota mais emotiva. É com satisfação que se constata que o público fez as pazes com o Fado e já volta a rever-se nele, e prova disso é a oportunidade dada ao estilo musical num Festival supostamente Rock (já foi, em tempos...) não só a Carminho como a Camané e Mariza (e os Deolinda, que mesmo não o sendo tem muito de Fado na sua essência) em edições anteriores.

Palco Principal, e já com o nosso grupo reforçado com 3 entradas novas, seguiu-se o concerto de Mike Patton e do projecto Mondo Cane. Desta feita, o homem dos Mr Bungle e Fantômas juntou-se a um grupo de músicos Italianos e, nesta ocasião, à Orquestra do Algarve, para reciclar clássicos da canção Italiana dos anos 50 e 60. Algumas interpretações mais próximas do original ("Il Cielo in Una Stanza" é das belas canções alguma vez escritas), algumas mais Pattonianas, com recurso a urros, berros e o seu querido megafone (especialmente em "Urlo Negro"). As canções ganham potência não só com a voz do senhor Faith No More mas também graças ao brilhante maestro que dirigiu possivelmente os membros mais porreiros da Orquestra do Algarve (alguns também berravam para dentro dos instrumentos) e o grupo de músicos Transalpinos, dos quais destaco aquele que apelidei carinhosamente de Wolverine Velho e que me deleitou com a sua mestria no Theremin. No encore, a banda saíu de palco, mas a Orquestra manteve-se quieta pois o seu maestro "esquecera-se" de os mandar para casa. Assim sendo, um regresso a palco, um encore, uma vénia colectiva e um aplauso genuíno de quem se prontificou a vivenciar um concerto mágico . Este foi possivelmente o derradeiro espectáculo deste projecto, mas se Mike Patton não voltar ainda este ano voltará certamente para o próximo com outra das suas milhentas bandas. Se eu fosse a ele comprava cá um Time-Share.

De seguida, voámos para o Palco Secundário para tentar encontrar um buraquinho decente e ver Beirut, mas com a tenda cheia como um ovo inicialmente não tivemos sorte. Passados 15 minutos o cordão de segurança começou a afrouxar e lá conseguimos furar para um local mais confortável, com espaço até para se darem mini-passinhos de dança. A estreia em Portugal deve ter sido avassaladora para a banda de Zach Condon, tal a devoção mostrada pelo público que cantou em coro praticamente todas as letras, o ar dos pulmões insuflando a tenda especialmente em "A Sunday Smile", o seu tema de maior sucesso. Rubro em "The Penalty" e "Nantes", execução perfeita, trompetes a conquistar os mais reticentes e um encore que ficou a faltar porque o tempo no Palco Secundário é contado ao milímetro. Os fãs de música afinal estavam no Sudoeste e chegavam para encher uma tenda! Fiquei feliz.

E enquanto nos outros dias se lutava para arranjar que fazer durante vários concertos mais merdosos, neste dia, num erro crasso de organização, colocam-se duas das mais válidas bandas do Festival inteiro à mesma hora! Muito mal jogado. Mais um sprint até ao Palco Principal para tentar apanhar o máximo possível do concerto de Air. Desperdicei 2 oportunidades de os ver este ano, simplesmente porque o dinheiro não chega para tudo e tem vindo tanta coisa boa ao nosso País que algumas bandas têm de ficar para segundo plano. Só consegui apanhar a recta final do concerto, mas ainda vi "Alpha Beta Gaga", "Kelly Watch the Stars", "Sexy Boy" e mais duas. Deu para perceber que perdi um excelente concerto, mas eu não sou de ficar a chorar pelo leite derramado e curti como pude, abanando a anca e assobiando com ar gingão. Fiquei com vontade de os apanhar por aí um dia destes e ver o seu espectáculo do principio ao fim.

A seguir veio Massive Attack. E eu tenho feito ao longo dos anos esforços genuínos e sinceros para gostar desta banda, mas simplesmente não consigo. O concerto estava muito bem estruturado, com várias mensagens traduzidas para o idioma local a passar no ecrã gigante e a impelir à reflexão, mas a sonoridade não me entra bem no ouvido. Resisti como pude, mas às tantas desisti e fui ver um bocadinho da banda suporte do Bob Marley a tocar sempre a mesma música no Palco Reggae. Cinco minutos depois desisti também dessa banda de covers deles próprios e fui brincar aos matrecos e à palhaçada. Às tantas veio um Superstar DJ, David Ghetta, para transformar o recinto do Sudoeste na maior pista de carrinhos de choque de Portugal, mas eu estava muito cansadinho de 5 dias de Festival e, tentando não escorregar no azeite, fui dormir o sono dos justos para o banco de trás do carro. Acordei uma vez a meio da noite, para desfrutar do silêncio total, só cortado de vez em quando por um grilo distante.

Uma foto do quinto dia do SW:


Sentadinho bebendo um Mojito de contrabando e desfrutando de música ao vivo, perco o direito de me queixar da vida durante 6 meses

Rescaldo

Talvez o Sudoeste não tenha sido a escolha mais feliz para matar o bichinho de curtir um Festival de Verão do inicio ao fim. Musicalmente, sei que seria muito mais feliz num Super Bock Super Rock ou num Paredes de Coura. A minha decisão por este Festival em particular baseou-se na promessa que havia feito a mim mesmo, de ver Flaming Lips antes de morrer. Agora que os vi, faço a promessa de os voltar a ver a cada oportunidade que tiver.

Cinco dias parecem-me excessivos. Bem feitas as coisas, compunha-se o último dia um pouco melhor em termos de horários e dividiam-se as bandas dos outros 4 dias em 2, e ficávamos um Festival com mais suminho. Gastava-se menos dinheiro e ganhava-se em termos qualitativos. Quem gosta de música deixaria de olhar para o cartaz do Sudoeste com ar desiludido. Este já foi o melhor Festival de Portugal, mas a caminhada para o abismo ainda vai a tempo de ser invertida.

Participar num Festival em pleno deverá ser uma experiência a repetir, mas a fazê-lo será com outras condições de alojamento. O banco de trás do carro ganha a qualquer campismo de Festival, sem dúvida alguma, e hoje, mais de uma semana depois, ainda estou a recuperar os sonos atrasados.

Bem feitas as contas, gostei. Como poderia não gostar? Praia, calor, concertos, amigos, cerveja e sandes de hamburger de soja na mochila. Há lá vida melhor?