28.12.10

2010 em revista, parte primeira: música

Como besta preguiçosa que assumo ser, apresento nesta semana, e já com 2011 a avistar-se lá ao fundo, algumas das coisas que devia ter colocado oportunamente no Contraculturalmente mas que fui deixando para amanhã. Lamento por isso, mas, lá está, mais vale assim tudo à bruta do que nada no regaço. Hoje falo de música.


Disco Português de 2010: Nuno Prata - Deve Haver



Temi que um disco como Deve Haver nunca tivesse oportunidade de nascer. E é um alívio ver Nuno Prata de regresso, com vontade redobrada de fazer música. E novamente acompanhado pelo inventivo músico Nico Tricot. O seu segundo disco fica a ganhar em relação à não menos magnífica estreia por ser mais conciso, mais directo. São onze originais e ainda temos direito a uma versão em Português da Used To Be dos Violent Femmes. As letras, honestas como sempre, estão menos zangadas e mais ácidas, até mesmo divertidas. E o trovador goza agora de algum reconhecimento, o qual esperemos que aproveite bem, que sacuda a timidez que lhe ata os joelhos e, já agora, que dê alguns concertos abaixo do Mondego.

Destaque para Como Foi?, Refrão-Canção, Essa Dor Não Existe e sobretudo para Um Dia Não São Dias Não.

Menções honrosas: A Last Day on Earth - Between Mirrors and Portraits, B Fachada - Há Festa na Mouraria, PAUS - É uma Água, Deolinda - Dois Selos e Um Carimbo, Orelha Negra - Orelha Negra, Corações de Atum - Romance/Hardcore, Linda Martini - Casa Ocupada, Lula Pena - Troubadour


Disco Estrangeiro de 2010: Deerhunter - Halcyon Digest



2010 foi um ano muito forte em singles, em canções orelhudas que marcaram a época. Mas no que de albuns foi lançado, ficou um pouco aquém. Posto isto, destaco o disco de Deerhunter porque foi aquele em que encontrei mais coesão como album e não apenas como aglomerado de canções sem ligação. E porque já estava na hora de dar destaque ao menino Bradford J. Cox! O rapaz é genial, além de editar com os Deerhunter ainda lança regularmente discos sob a designação Atlas Sound, passando literalmente a vida a oferecer canções no seu blog e a fazer compilações para os amigos! É cá dos meus!

Quanto ao disco, não consigo bem encaixar isto em nenhuma convenção musical pré-estabelecida. Não é bem shoegaze, não é bem Pop, não é bem Rock, não é bem psicadélico. É tudo isto mas não é nada disto. É calmo, é estranho, é bonito, é muito bom. E será continuamente ignorado, tal como o disco anterior o fora. Gerações vindouras irão pegar em Deerhunter de dar-lhes o devido reconhecimento que agora lhes vai faltando. Enquanto isso não acontece, Bradford continuará seguramente a lançar grandes discos pela calada. Destaque para Helicopter, Revival e sobretudo Desire Lines.

Menções honrosas: Arcade Fire - The Suburbs, Beach House - Teen Dream, MGMT - Congratulations, Crystal Castles - Crystal Castles II, Best Coast - Crazy For You, Los Campesinos! - Romance is Boring, Sufjan Stevens - The Age of Adz, Jónsi - Go, Girl Talk - All Day, Belle and Sebastian - Write About Love, Teenage Fanclub - Shadows, She & Him - Volume Two


O fim dos Da Weasel



Os Da Weasel acabaram, e eu não me importei nada com isso. A bem da verdade, devo dizer que tenho o CD do Dou-lhe com a Alma e tive o 3º Capítulo mas emprestadei-o a alguém e esqueci-me a quem. Era fã e gostava da atitude e das letras. Curtia da frontalidade do Pacman, da cena de ser ex-carocho, com Hepatite C, a falar de todos os assuntos com frontalidade, na primeira pessoa. Depois Armando Teixeira saiu da banda (e lembro-me de ele dizer na altura que os Da Weasel não tinham futuro) e o grupo mudou radicalmente, as músicas já não eram muito inventivas, as letras eram mais Pop. Fui-me desinteressando mas sempre que podia via-os ao vivo, era aliás muito difícil não os ver, pois tocavam em todas as semanas académicas durante o meu período estudantil. Acho mesmo que é a banda que mais vezes vi. Depois o vocalista começou a aparecer em jingles para anúncios de coisas que condenava nas letras, e a fazer músicas como aquele lixo da nina e a porcaria do uhuh-da-da-faz-faz-bebé e os discos foram-se banalizando ao ponto de não terem qualquer motivo de interesse. Ou seja, os Da Weasel passaram a existir pura e simplesmente como veículo fazedor e receptor de dinheiro. Depois veio a fase dos anedóticos projectos paralelos (o do Virgul então, Jasus Sinhori, e ganha prémios MTV, aquilo) e agora chegou o fim, em boa hora. Não vale a pena continuar a chicotear um cavalo quando o mesmo já cheira a podre. Armando Teixeira tinha razão, a banda Da Weasel terminou com o 3º Capítulo, a partir daí nasceu a máquina corporativa Da Weasel. É tudo.


O Não-concerto de 2010: Arcade Fire



Antes de falar do não-concerto de Arcade Fire, gostaria de também de me pronunciar sobre outro não-concerto, o de Phoenix, sintomático do que ainda estava para vir. Os Franceses vinham ao Optimus Alive!, depois foram cancelados mas a banda foi a última a saber, depois o regresso ficou prometido ainda para 2010. O ano termina para a semana e não vejo nenhum concerto anunciado... Menos 10 pontos para a credibilidade de Álvaro Covões.

Quanto a Arcade Fire, foi aquilo a que a minha avó apelida de uma pouca-vergonha. O concerto foi marcado, e com conhecimento prévio por parte da organização, na mesma semana em que a NATO veio a Portugal inventar mais umas guerras. Depois, Covões bate o pé e sai-se com o argumento "eu vi primeiro, daqui não saio daqui ninguém me tira". Depois as autoridades garantem que o concerto não se realizará. Depois Covões reforça a venda dos bilhetes. Depois o governo cancela o concerto por escrito, mas pelos vistos isso não chega para o patrão da Everything is New. Depois a banda mostra-se disponível para mudar a data do concerto. Depois Covões diz que não, e que só cancela se for indemnizado, e continua a vender bilhetes, estando a lotação do Pavilhão Atlãntico próxima de esgotar. Depois teve de ser o próprio manager da banda a dar a notícia do cancelamento.

Era tão, tão, tão, tão, tão bem-feita se os Arcade Fire viessem ao Super Bock Super Rock em 2011...


Música de 2010



Mas afinal já apanharam o gajo ou ainda anda a monte?


Música (decente) de 2010



Os Crystal Castles baixaram a guarda na sua progressiva destruição musical e fizeram uma grande cover duns chatos do Hair-Metal dos anos 80, com o timoneiro dos The Cure. E a versão sem Robert Smith também não está nada má.


Maior injustiça de 2010 e de muitos anos vindouros



Lhasa de Sela, 1972-2010. O Mundo da música empobreceu tanto...

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