20.2.06

Filmes: The Army of Darkness

Um clássico de culto. Uma ode à pancadaria com estilo. Um filme de Sam Raimi. Um ícone da série B em Bruce Campbell. Tudo isto é o Exército das Trevas.



O Exército das Trevas (Army of Darkness, no original) é a terceira e última parte da série Evil Dead, e pega na história precisamente onde tínhamos ficado no filme anterior. Ash, o herói principal, havia sido sugado para a Idade Média através dum portal criado pelo livro dos mortos, Necronomicon Ex Mortis.

Chegado à Idade Média, e apenas munido com a sua caçadeira, braço-motoserra e um carro que se revela pouco mais que inútil, Ash começa por ser escravizado pelos habitantes locais, que o olham primeiro com desconfiança, para depois o elevarem à categoria de salvador, acreditando na profecia de que um herói caído dos céus os salvaria dos mortos-vivos que assolam a região. Porém, depois de todos os seus amigos se terem tornado eles próprios mortos-vivos e da sua mão direita se ter virado contra si nos filmes anteriores, Ash já não é o típico herói pleno de virtudes, tornando-se arrogante, preconceituoso e acima de tudo, bronco que nem uma porta. E é aqui que reside a magia do Exército das Trevas.



No primeiro filme estamos perante o terror puro e duro. No segundo, o terror é intercalado por humor. Aqui, terror nem vê-lo. O Exército das Trevas é apenas um filme de acção carregado com humor físico e algumas das melhores frases-chave alguma vez encontradas numa película cinematográfica. Exemplos:

Quando a sua namorada medieval é possuída pelo demónio e o tenta atacar, depois de Ash se ter enganado nas palavras-chave que destruiriam para sempre o livro dos mortos e em vez disso ter libertado uma horda de mortos vivos:

Yo, She-Bitch! Let's go!

Na altura em que um morto vivo lhe grita "I'll swallow your soul!"

Come get some...

Quando dispara o seu primeiro tiro de caçadeira em frente aos cavaleiros medievais:

This is my BOOM stick!



São estas pequenas frases, envolvidas no contexto do filme, que tornam esta pérola num dos mais divertidos filmes de zombies de sempre, e que tornaram Bruce Campbell no meu herói de acção dos tempos de adolescente, bem à frente de Van Dammes, Seagals e afins. O Exército das Trevas, disponível nos melhores videoclubes e também naqueles videoclubes não tão bons que ainda têm Dvds mais velhinhos. Imagens, sons e um pequeno excerto vídeo podem ser encontrados aqui.

Hail to the king, baby!

Trailer:

15.2.06

Discos: The Presidentes of the United States of America - Love Everybody

Ah, e que bem que sabe reencontrar uma das minha bandas preferidas da minha adolescência, quando os julgava mortos e enterrados... Os Presidents of The United States of America estão de volta!



Nascidos na fria e cinzenta Seattle mais ou menos a meio da década de 90, os PUSA conquistaram um público fiel à volta do planeta, derivado ao seu punk-pop-rock extremamente bem humorado. Músicas como Lump e Peaches continuam no ouvido de muito boa gente, apesar destas cantigas contarem já com 10 anos em cima... Os PUSA estavam em todas, tocaram em tudo o que era sítio, lançaram um segundo disco, continuaram em todas, continuaram a tocar em tudo o que era sítio, e depois... Acabaram. 1997 viu chegar às prateleiras das lojas Pure Frosting, uma compilação de raridades e músicas ao vivo, onde se encontrava a afamada versão de Video Killed The Radio Star, sendo este o seu canto do cisne...

Até agora! Andava eu a passear por uma pequena loja de discos em Faro quando dou de caras com Love Everybody, o mais recente disco dos Presidents of The United States of America! Editado em 2004, Love Everybody trás de volta a guitarra de 3 cordas, o baixo de 2 cordas e a bateria de brincar que os caracterizava. Ao todo são 14 faixas curtinhas, surpreendentemente refrescantes e divertidíssimas. Destaque para o instrumental Surf's Down, para a estupidez de Jennifer's Jacket e para a ultra-viciante Some Postman, uma cantiga das melhores que ouvi nos últimos tempos. Sorriso estampado na cara garantido! Perante o panorama sisudo das bandas Indie dos últimos tempos, talvez esteja na hora de voltar a descobrir The Presidents of The United States of America!

8.2.06

Banda Desenhada: Lenore The Cute Little Dead Girl

Como havia sido prometido há muitos meses atrás, hoje a secção BD de Culto debruça-se sobre as aventuras de Lenore, The Cute Little Dead Girl.



Lenore é uma personagem do grande Roman Dirge, inspirada no poema com o mesmo nome de Edgar Allan Poe. A estória principal centra-se numa menina que aparenta não ter mais de 8 anos, loura, pequenina e simpática. O seu único problema reside na condição clínica de que padece (está morta). Fascinada por gatos, Lenore passa a vida (morte) a matar e mutilar todos os que se atravessam no seu caminho, ainda que inocentemente, pois uma menina morta não consegue distinguir muito bem a fronteira entre o bem e o mal...

Num estilo muito próprio, Roman Dirge destrói o imaginário infantil de forma imaginativa e persistente. O coelho da Páscoa, os gnomos da floresta, as lengalengas infantis, tudo é deliciosamente pervertido em Lenore, the Cute Little Dead Girl. Humor negro do melhor que se pode encontrar em BD, ilustrado a preto e branco como não poderia deixar de ser.

De momento existem duas compilações de histórias de Lenore (Trade-Paper Backs, em "Americano"). O primeiro TPB intitula-se Noogies e compila os números 1 até ao 4. O segundo chama-se Wedgies e vai do número 5 até ao 8. Entretanto está para sair um 3º TPB. Para obter algum destes livros, recomendo como já vai sendo habitual a Shop Suey Comics (e eles não me pagam nada por isso...). Se ainda assim a minha prosa não vos deixou convencidos, deixo-vos com este site, onde poderão assistir a episódios animados em Flash, directamente inspirados nas primeiras aventuras de Lenore.

1.2.06

Livros: Casei com a Minha Irmã

Eurico A. Cebolo é um homem que dedicou toda a sua vida à música. Segundo a sua biografia oficial, iniciou-se musicalmente em Moçambique aos 16 anos tendo ganho variados prémios durante o período em que residia por África (Ganhou o prémio de melhor canção portuguesa no Festival Hispano-Português de Aranda del Duero de 1962, vejam lá). Porém, em 1975, Cebolo teve um azar. O carro em que seguia embateu de frente contra um camião, morrendo-lhe o primo e reduzindo a capacidade da sua mão direita em 50%. Perdeu-se um músico-concertista, ganhou-se um chato do caraças!



Após o acidente, Cebolo virou-se para o ensino musical, para mal dos nossos pecados. São de sua autoria livros como o Solfejo Mágico, Música Mágica, Piano Mágico, Arpejo Mágico, etc, etc, etc, etc... E toda a santa criancinha nos anos 80 sofria a aprender música com os livrinhos do Cebolo... E é engraçado como hoje em dia ninguém sabe o que fez aos malditos livros, autênticas peças kitsch! Ora vejam bem as capas de dois exemplares bem afamados...





Não contente com o facto de nos torturar com a porcaria do Solfejo Mágico e afins, Eurico A. Cebolo virou-se para uma carreira como romancista, carreira essa em que teve muito menos sucesso... Romances com nomes como O Falo Perdido ou O Violador das Mortas deviam fazer parte das estantes de toda a gente... O livro analisado hoje intitula-se Casei Com a Minha Irmã!



Bem, sinceramente, por muito que poderia escrever aqui, nunca seria capaz de fazer justiça à magnitude desta obra de Cebolo. Assim sendo, nada como o próprio Cebolo para descrever esta obra. Aqui vai o texto incluído no prefácio:

"CASEI COM A MINHA IRMÃ" é um romance onde o espírito criador, a capacidade de imaginação e a grande versatilidade cativam o leitor que, entrando nesta teia tão bem urdida, estará sempre ansioso pela página seguinte. Num estilo muito próprio, sóbrio e sem quaisquer rebuscamentos, deliciamo-nos com a pureza de linguagem de um Eça, a fecundidade de ideias de um Camilo e o encanto e simplicidade de um Torga. Em "CASEI COM A MINHA IRMÃ" é burilada uma estória que poderia ser verídica e ter acontecido em qualquer tempo e lugar. Maria Alice perdeu a mãe, tragicamente, e apaixona-se pelo filho da patroa, que a expulsa. Mais tarde é dada como morta no desastre ferroviário de Alcafache e o rapaz que a desonrou casa com a própria irmã."

Não estão ainda convencidos da qualidade de Casei Com a Minha Irmã? Convido-vos então a ler este pequeno excerto:

"[Maria Alice] embrenhada nestes tristes pensamentos, e sem saber que rumo dar à vida, nem se apercebeu que um indivíduo com todo o aspecto de marginal se sentara no mesmo banco que ela ocupava e a mirava, descaradamente. Receosa, olhou de soslaio tentando descortinar as intenções do homem; este, como se lesse o seu pensamento, logo lhe tirou qualquer dúvida com as palavras que lhe dirigiu:

- Olá, pombinha! Esperavas alguém que te fizesse companhia? Tens sorte, já que eu ando à procura duma chavala que queira curtir comigo. Manjei logo que és boazona e se quiseres alinhar numas curvas não te arrependerás porque eu sou capaz de dar a volta ao capacete à mais pintada - falando assim o tunante foi-se aproximando até se encostar a ela.

A rapariga, cheia de medo por aquilo que escutara e pelo mau aspecto do rapaz, fez menção de levantar-se suplicando:

- Por favor, deixe-me em paz. Engana-se no que pensa de mim. Sou uma moça séria a quem a desgraça bateu à porta.

- Ora, minha linda, sem tangas; dizeis sempre isso, mas andais sempre todas ao mesmo; eu já topo o vosso paleio - e o vadiola pôs-lhe um braço pelos ombros.

Revoltada, ela pregou-lhe um safanão e aproveitando o seu desequilíbrio correu para fora do jardim. Olhou para trás, e vendo que ele não desistia de a perseguir, na ânsia de lhe escapar, imprudentemente, tentou atravessar a rua. Em tão má hora que foi colhida por um automóvel que circulava a grande velocidade. Ouviu-se uma travagem brusca acompanhada de estridente chiadeira de pneus. Tudo em vão e num ápice, já que o condutor não conseguiu evitar o acidente. O choque deu-se com muita violência. O corpo da desditosa criatura, projectado alguns metros pelo ar, estatelou-se no outro lado da larga via..."


Qual Eça, qual Torga, qual Camilo! Eurico A. Cebolo ao Panteão Nacional!


Encontra-se à venda aqui