27.12.06

Discos: The Decemberists - The Crane Wife

The Decemberists são uma banda Norte-Americana que me chamou à atenção por terem feito uma belíssima cover da Clementine de Elliott Smith, incluída na compilação To: Elliott From: Portland, o que por si só é justificação de bom gosto.



O nome desta banda deriva da revolta militar falhada de 1825, que procurava depor o Csar Nicolau I do poder na Rússia. Inspirado nesta revolta e também no frio e intimismo geralmente associados ao mês de Dezembro, o som da banda alterna entre o épico e heróico (Rock Progressivo) e o calmo e reservado (Indie Pop). Os Decemberists possuem a honra de serem a primeira banda a distribuir oficialmente um dos seus videos (16 Military Wives) através dos BitTorrents.

O album em destaque dá pelo nome de The Crane Wife e foi editado em 2006.



The Crane Wife é baseado num antigo conto japonês. Nesse conto, um homem pobre encontra um grou magoado e cuida dele. Após soltá-lo, uma belíssima mulher surge na sua vida. Depois de casarem, a mulher propõe tecer roupa de seda para vender no mercado, ajudando assim o seu marido a fugir à pobreza, com a condição do seu esposo nunca a ver na sua tecelagem. À medida que as condições de vida vão melhorando e as roupas se vão vendendo, o marido obriga a esposa a tecer mais e mais seda, ignorando o estado de saúde cada vez mais deteriorado da senhora. Um dia, a curiosidade leva a melhor sobre o homem, que decide espreitar a sua esposa no seu ofício, apenas para descobrir um grou arrancando penas do seu próprio corpo para tecer as roupas. O grou abandona assim o homem, remetendo-o à pobreza pela sua ganância.

O som de The Crane Wife é rico e polido. Há muito orgão e acordeão, levando o ouvinte a sonhar em pegar numa lança e cavalgar pelas planícies alentejanas à procura de moinhos de vento para combater. Existem neste album verdadeiras óperas épicas, com duração superior a 10 minutos (The Island e The Crane Wife 1 & 2). Para os mais habituados a músicas mais curtas e regulares, neste disco também se encontram pérolas como Yankee Bayonet (dueto com Laura Veirs), O Valencia! e a luminosa Sons & Daughters.

Destaque maior para Shankill Butchers, o arrepiante conto de terror disfarçado de canção de embalar, baseado no gang de assassinos protestantes com o mesmo nome, que perseguiam, torturavam e matavam católicos na Irlanda nos anos 70 e 80 com recurso principalmente a cutelos e facas de talho.

A beleza principal de The Crane Wife assenta nas histórias que contém, com um fio condutor que insere um sentimento no peito, mesmo sem se prestar atenção às letras das canções. Cada música contém uma ou mais histórias, muito bem escritas e acompanhadas com música apropriada. Um disco forte e coeso, dos melhores que ouvi ultimamente.

4 comentários:

  1. Esse album está a breves minutos de chegar ao meu disco. A Rolling Stone considerou a "Summersong" a 35ª melhor canção do ano.

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  2. Decemberists! Adoro-os desde que decidi ouvir o Picaresque (o álbum anterior a este, onde se encontra a 16 military wives) quando me "cansei" de ler bons comentários sobre eles num fórum estrangeiro que lia. O ano passado gostei tanto do Picaresque que até considerei a Mariner's Revenge Song a minha 2ª canção preferida de 2005.

    Ainda não ouvi tanto o Crane Wife como o Picaresque (menos tempo disponivel e a cabeça dispersa por ainda mais música...) mas para mim são os dois excelentes. Aliás, qualquer um dos 4 álbuns deles é excelente. Há muitas pérolas musicais em todos. O som deles não varia muito de álbum para álbum (mas isso não é mau... conseguiram criar um estilo próprio e não há dúvida que o executam bem!) mas as sensações de "histórias com fio condutor", e "disco forte e coeso" são constantes ao longo dos lançamentos deles.


    E ainda me ensinam História... não conhecia isto dos Skankill Butchers antes desta canção...

    Em resumo: Os Decemberists são bons!

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  3. Conheço algumas músicas (do "Picaresque", acho) e gosto bastante.

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  4. Muito boa a resenha, não sabia dessa parada do conto japonês.

    Parabéns! The Crane Wife é uma "grande ópera do rock" para muitos, e um dos melhores (e mais belos e artísticos) trabalhos do Decemberists.

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