A estupidez sempre foi um tema que me atraiu bastante. A raça humana sempre se destacou das demais pelo engenho, pela necessidade de criar para sobreviver. Inventou-se a roda, criou-se o vestuário, domou-se o fogo e o lobo, destilou-se o álcool, nasceu o queijo, o alcatrão, as pilhas alcalinas e os chapéus, entre mais uma ou outra coisa sem importância. Tudo pensado da cabeça do Homem. E para quê? Para que o Homem não tivesse mais de se dar ao trabalho de usar a sua própria cabeça para pensar. O ser humano é tão inteligente que se quer tornar estúpido à força, confiando nas suas invenções para sobreviver, ignorando o instinto que tão bem tem servido a todos os outros animais. Carneiros seguindo outros carneiros. Apaixona-me o facto de existirem pessoas que não conseguem sobreviver sem a sua telenovela, farto-me de rir quando reparo que TODA cantarola alegremente pela rua o último Euro-Dance-Lixo do momento, espanto-me com a quantidade de gente que leva as mãos à cabeça de cada vez que aparece uma gaivota morta num jornal, tremendo como varas verdes só de ouvir a frase "gripe das aves". E, ao mesmo tempo, todo este cenário me deprime, e dou por mim a pensar que para isto mais valia termos continuado a ser macaquinhos como no início.
O livro que vos trago este mês chama-se Como Me Tornei Estúpido.
Como Me Tornei Estúpido foi escrito por um promissor jovem Francês de seu nome Martin Page. Aqui conta-se a história de Antoine, um estudante de Aramaico demasiado inteligente para ser compreendido pelos outros e, consequentemente, ser feliz. Na sua infelicidade, decide tornar-se estúpido para conseguir a aceitação do mundo. Assim sendo, decide tornar-se alcoólico, mas entra em coma ao fim do primeiro copo. Tenta o suicídio, mas falha redondamente. Ainda procura submeter-se a uma cirurgia para remover parte do cérebro, mas enfim consegue atingir a tão desejada estupidez através de uma maneira surpreendente que não contarei aqui para não estragar a surpresa a quem possa vir a ler esta obra.
Surreal, bem humorado e inteligente, Como Me Tornei Estúpido é um triste retrato da sociedade moderna que exige a estupidez e massificação como modo de vida, votando ao ostracismo quem dá uso à sua massa encefálica. Em Portugal, foi editado pela ASA.
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