25.9.06

Filmes: Delicatessen

E porque nem só de escolhas duvidosas vive o espaço dedicado ao cinema deste blog, hoje trago-vos um dos meus filmes preferidos, Delicatessen, de 1991.



O cenário é uma qualquer França pós-apocalíptica. O dinheiro deixara de ter valor num mundo sem comida, e a troca directa ganha uma importância medieval. Um senhorio vive à sombra desta desgraça, fornecendo aos seus inquilinos carne humana da melhor qualidade trocando-a no seu talho por produtos hortícolas e favores sexuais. Através de um anúncio num jornal, este talhante obtém as suas vítimas aliciando-as com trabalhos leves de manutenção. Maravilhados com a hipótese de uma vida melhor, as pobres almas que respondem ao anúncio acabarão invariavelmente no prato. A sua mais recente aquisição é um artista circense vegetariano chamado Louison, interpretado por Dominique Pinon, um dos melhores actores cómicos franceses da actualidade.



O grande valor de Delicatessen passa pela riqueza e detalhe nos pormenores e personagens. Desde o senhor que vive numa cave alagada alimentando-se de caracóis e sapos, à eterna suicida falhada que procura a morte através de complicados esquemas que fazem lembrar os desenhos animados do antigamente, à filha do talhante extremamente míope apaixonada pelo palhaço que lhe servirá de sustento, ao próprio palhaço, tudo está extremamente detalhado e pensado ao ínfimo pormenor. A trama muitas vezes prescinde de diálogo para manter o seu ritmo, e as sequências coreografadas tornam-se nos momentos mais memoráveis de Delicatessen. Destaque para a cena de sexo entre o talhante e uma inquilina que acaba por envolver involuntariamente todo o prédio e para o dueto entre um violoncelo e um serrote.



Delicatessen é a primeira longa-metragem de Jean-Pierre Jeunet, o homem responsável pelos aclamados A Cidade das Crianças Perdidas e O Fabuloso Destino de Amelie. Razão mais que suficiente para ver/rever (riscar o que não interessa) esta pequena pérola de genialidade que transforma um acto tão repudiante como o canibalismo num momento de humor roçando a perfeição.

E com isto tudo acabei por não ter espaço para falar da fotografia deste filme. É boa. Muito boa. É linda! Pronto, já falei.

Trailer:

2 comentários:

  1. Uma das minhas (re)visões deste filme foi feita ao ar livre num ecrã gigante numa noite de luar num destes passados Verões, num ciclo de cinema do INATEL.

    Mais alguns nuns

    Num ganhou na fotografia (a iluminação do luar não melhora nunca a qualidade da projecção)

    Num ganhou no som (o local é próximo do Aeroporto da Portela)

    Num ganhou na assistência (ao ar livre levam-se os putos, os ranhoso e os velhos – uns chocam-se outros enfastiam-se)

    Mas foi uma experiência que valeu pelo facto do tamanho do ecrã não ter nada a ver com o de uma sala de cinema das agora normais salas, associado ao poder ir fumando uns cigarritos....

    Mas para quem tem o dvd em casa e recorrentemente o vai revendo, não foi uma noite perdida

    Escusado será dizer que este filme, também, é um dos meus filmes de culto

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  2. Por acaso é o filme que menos gosto do Jeunet (que o Alien Resurrection não conta), mas a culpa é dos outros, dos quais gosto de mais!
    Delicatessen é maravilhoso, sim, e como todos os outros do Jeunet (este também do Caro, bem sei) é daqueles que dá para ver 1000 vezes e continuar a apreciar-se os pequenos pormenores.

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