
Regina Spektor nasceu em Moscovo, em 1980, onde viveu até 1989, altura em que se deu a Perestroika. A partir desse momento, o clã Spektor deixou a pátria-mãe e viajou pela Austria e Itália até assentar no típico bairro Nova-Iorquino do Bronx. Aqui, Regina começou a desenvolver a sua técnica de piano, ao mesmo tempo que criava músicas e letras que raramente eram transpostas para papel e pauta.
A sua estreia discográfica dá-se em 2001 com 11:11, um disco autoproduzido distribuído praticamente apenas nos seus espectáculos. Seguiu-se Songs, em 2002, que conheceu o mesmo destino. Em 2004, o album Soviet Kitsch foi promovido numa tour conjunta com The Strokes, o que garantiu o aumento da base de seguidores desta menina, até que em 2006 o seu album Begin to Hope invadiu finalmente o mainstream, valendo-lhe o reconhecimento como artista e song-writter que tardava em chegar. Hoje em dia, Regina Spektor é um nome a ter em conta na chamada corrente musical anti-folk, com todo o mérito.
Destaco da sua discografia o album Soviet Kitsch, de 2004, unicamente por ser o meu preferido e aquele que me agarrou primeiro (não tirando com isto valor aos outros discos de Regina).

Soviet Kitsch, o terceiro registo discográfico de Regina Spektor, é um album honesto e simples. Tirando um ocasional arranjo de cordas numa ou noutra música, uma guitarra e bateria completamente fora de tempo na canção Your Honor e uma baqueta batendo violentamente numa cadeira em Poor Little Rich Boy, o que aqui encontramos é uma menina reguila com a sua voz, o seu piano e as suas histórias para contar.
As músicas deste album encerram pequenos contos, com muito non-sense, brincadeiras com sinónimos e referências literárias e bíblicas. Um exemplo dessa capacidade teatral encontra-se na faixa The Ghost of Corporate Future, que conta a história de um homem desprovido de valores que de repente ganha uma alma e se descalça em plena rua a cada oportunidade. Já em Chemo Limo, ouvimos o relato de alguém com um cancro terminal que gasta o dinheiro dos seus tratamentos num último passeio de limosina. As influências judia e Russa encontram-se meio camufladas nas suas composições, assumindo-se no entanto na soberba The Flowers, que evolui de uma peça de música quase considerada erudita para a festa de uma "Hava Naguila".
Soviet Kitsch é um album que, pese a sua simplicidade, poderá soar estranho e pouco apelativo ao ouvinte ocasional. A amplitude vocal de Regina, que pode ir do som mais agudo ao mais grave em milésimas de segundo, bem como os grunhidos, zumbidos e murmúrios tornam cada música deste disco única e imprevisível. Mas, uma vez que a sua música ganha um lugar dentro de nós, torna-se muito difícil abandoná-la. Fica, cresce, evolui e eleva-nos. Agora que finalmente foi editado na Europa, Soviet Kitsch é um album a descobrir com urgência.