14.3.06

A corrente (partida) da BD!

O El Gordo teve a gentileza de se lembrar de mim ao pedir-me que exponha 5 traços da minha personalidade enquanto leitor de BD. Creio que o meu percurso enquanto leitor de BD ajuda a traçar o meu perfil.

Iniciei-me na Banda Desenhada desde tenra idade, tendo herdado a gigantesca colecção de BD do meu irmão, nomeadamente clássicos da Disney e da Turma da Mônica (que adorava mas que agora abomino), com um ou outro Capitão América pelo meio (nunca gostei deste em particular). Como desde sempre possuí o vício de leitura a partir do momento em que aprendi que letras juntas formam palavras, devorei a mesma colecção vezes sem conta. Os meus pais apoiavam-me, julgando ser uma fase passageira própria da infância e que um dia quando fosse mais velhinho deixasse de ler BD, como havia acontecido anteriormente com o meu irmão.

Quando tinha 10, 11 anos, visitei a casa de uns primos meus de Lisboa, na altura recém-casados. Enquanto passeava pela casa, deparei-me com aquilo me transformaria no leitor assíduo de banda desenhada que sou hoje, para grande desgosto dos meus pais: Uma divisão da casa bastante espaçosa transformada em BDteca! Fiquei maravilhado com os milhares de títulos disponíveis, todos ordenados cronologicamente, por autor e título. Sentei-me no sofá e lá fiquei horas a fio, enquanto descobria pela primeira vez o Asterix, o Tintin, o Garfield, o Gaston Lagaffe e tantos, tantos, tantos outros... Lembro-me que nem sequer jantei nesse dia, e a minha mãe conta-me que deu por mim a dormir no meio de um monte de livros com um sorriso estampado nos lábios... A partir daí esse meu primo (que nunca mais voltei a ver) passou a enviar-me regularmente livros de banda desenhada durante uma série de anos.

Era já adolescente quando comprei o primeiro livro de banda desenhada com o meu próprio dinheiro. Foi este:



Na altura acontecia uma verdadeira revolução de Comics Americanos em Portugal. De um momento para o outro, passaram a surgir regularmente nas bancas títulos dos X-Men, Homem-Aranha, Spawn, Batman, Gen13 e o universo 2099. A semanada esgotava-se perante a variedade e qualidade de títulos disponíveis. As histórias cruzavam-se umas com as outras, as personagens evoluíam nos livros, apaixonavam-se, lutavam entre si, adoeciam e morriam, o que constituía uma novidade absoluta para mim. Um puto cheio de testosterona e com a mania da perseguição identificava-se e sofria com os personagens. O ideal dos X-Men, um grupo de mutantes super-poderosos distintos do humano comum, lutando pelo seu direito de igualdade agarrou-me de tal maneira que ainda hoje vou seguindo com alguma regularidade as suas aventuras.

A minha primeira experiência profissional "a sério" foi há alguns anos no Parque Nacional da Peneda-Gerês. Durante a minha temporada minhota partilhava um chalet com muita gente, boas almas na sua maioria. Foi aqui que me veio parar às mãos o meu primeiro comic independente. Tratava-se de Lenore, The Cute Little Dead Girl. Fiquei apaixonado! Um universo muito próprio, boa arte, bom humor negro, perfeição! Aquele livro era eu! Iniciei então a minha demanda para encontrar os livros de Lenore, o que me levou a procurar lojas especializadas em Bd de importação. A primeira que encontrei não tinha nada de Lenore, mas possuía outro dentro da mesma estética, Johnny The Homicidal Maniac! A partir daí, enquanto procurava pela Lenore, fui construindo a minha colecção de comics Indie quase sem dar por ela. Hoje em dia não tenho ainda uma divisão da casa cheia de BD até ao tecto, mas possuo uma colecção de grandes comics Indie misturados com clássicos Mainstream em constante mutação e crescimento, pelos quais tenho um imenso carinho e orgulho.

Assim, 5 traços:

1- Prefiro o formato Trade Paper Back, pois os livros ficam mais bonitos na estante e duram mais do que o formato single. Além disso, se os perder perco logo tudo de uma vez, não fico com colecções incompletas.

2- Prefiro livros de humor negro e nonsense a histórias pesadas.

3- Odeio crossovers. Deixei de comprar livros que me passam ao lado só porque se ligam directamente com aqueles que compro regularmente. Além disso, a qualidade dos crossovers tende a decair cada vez mais (House of M, o maior barrete da história da Marvel)!

4- A primeira coisa que faço quando entro numa loja de Comics é cumprimentar os donos. A segunda é correr para a secção Indie. A terceira é queixar-me do preço dos Comics. A quarta é ficar indeciso entre 3 ou 4 comics diferentes. A quinta é sair da loja com os esses mesmos 3 ou 4 comics.

5- Compro Comics por autor. Se o livro diz Roman Dirge ou Jhonen Vasquez na capa, nem penso duas vezes.

Agora seria a altura em que passaria esta corrente a outras pessoas que partilhem a minha paixão por BD, mas acontece que nenhum dos meus amigos Bdéfilos é detentor de um blog, e, sinceramente, não estou mesmo a ver a quem possa passar isto. Paciência...

4 comentários:

  1. deixo aqui um link dum blog sobre quadradinhos, que provavelmente já conheces

    http://quadradinhos.blogspot.com/

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  2. olá! Gostei muito deste post, sobretudo porque partilho a veneração pelo Roman Dirge e pela Lenore. Recentemente comprei o "Something at the window is scratching" que é bem giro mas, em termos de qualidade de desenho, não se compara à Lenore... e a parte escrita está engraçada mas lembra um "the melancholy death of oyster boy & other stories" mais fraquinho.

    De entre os ultimos comics que comprei, os melhores foram, sem dúvida, o "Blankets" de Craig Thompson, a minha bíblia de comics; o "The clouds above" de Jordan crane; o "Sweaterweather" da Sara Varon que é maravilhoso ; " Goodbye Chunky-Rice" também do Craig Thompson que é delicioso; e a minha manga de eleição: YOTSUBA de Kiyohiko Azuma.

    Aqui ficam estas sugestões :)

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  3. Olá Diana, e obrigado pelas tuas palavras tão gentis...

    De facto não conheço nenhuma das tuas sugestões (sem ser o rapaz-ostra, claro), mas vou já tratar de alterar essa situação. Obrigado! :)

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