Um regresso a Alan Moore, desta feita com um bonito relato sobre amor real e pornografia ilustrada.
Em 1991, Alan Moore iniciou mais um projecto rodeado de controvérsia. Inicialmente aliciado pela revista Taboo, o escritor aliou-se à pintora Melinda Gebbie, com o intuito de criar uma banda desenhada pornográfica. Moore, com era seu hábito, escreveu prontamente o argumento completo. Gebbie não se adaptou a desenhar sobre uma história já completamente definida, preferindo criar à medida que as personagens se desenvolviam, e não pintar sobre o trabalho dos outros. O génio criador de Moore encontrara finalmente quem lhe fizesse frente. Subjugado, não teve outro remédio senão jogar pelas regras de Gebbie. O projecto arrasta-se então por longos e penosos anos de pesquisa sobre histórias infantis e posições sexuais, com aulas práticas à mistura.
15 anos depois, Alan Moore e Melinda Gebbie estavam casados.
16 anos depois, é finalmente editado Lost Girls.
No início da primeira guerra mundial, três mulheres encontram-se por acaso num hotel Austríaco. Dorothy Gale, uma jovem adulta, a trintona Wendy Darling e a idosa Alice Fairchild. Face a monotonia do lugar, as três senhoras iniciam uma troca de relatos aventurosos sobre as suas experiências sexuais prévias. Dorothy conta da sua desvirginação às mãos de três fazendeiros, aquando da passagem de um furacão pelo seu Kansas natal. Wendy relembra as suas aventuras com um pequeno sem-abrigo de seu nome Peter Pan, líder de um gang de inadaptados chamados Lost Boys. Alice, a mais experiente do grupo, seduz as suas companheiras com as suas façanhas bisexuais aos 14 anos, num longínquo país de maravilhas.
Bem para além da perversão (cuidada e completa com referências às obras originais) submetida a estas personagens do imaginário popular, está o trabalho artístico de Lost Girls. Cada relato é ilustrado com um conjunto de paletes de cores e estilo de vinheta diferentes. Os paineis de Alice, bem coloridos, são em forma de espelho oval. Os de Wendy são escuros, altos, reprimidos e vitorianos. Os de Dorothy são amplos e em tons de pastel. A atenção ao detalhe peca apenas por ser algumas vezes demasiado gráfica.
Censurado em diversos países pelo seu conteúdo chocante e provocador, Lost Girls foi no entanto justamente louvado pela crítica especializada. Este esforço conjunto do casal Moore/Gebbie poderá ser mais facilmente encontrado em Portugal do que no próprio Reino Unido, onde a obra foi vetada pelas autoridades responsáveis pela moral e bons costumes. Recorram às encomendas em lojas de banda desenhada de importação, sem problemas de consciência.
Amigo Carca,
ResponderEliminarJá algum tempo que ando para te perguntar conde compraste esta maravilha. O meu fornecedor de comics nos EUA deu uma de pudico e falhou na minha encomenda...