6.6.11

Primavera Sound 2011, Parte 2 de 4

(Todas as fotos que aparecem nos meus posts relacionados com o Primavera Sound provém do site Polaco Popupmusic.pl.)

(Para melhor usufruto desta Post, deixo-vos uma compilação com as bandas que vi neste dia.)






26/5 - Parc Del Fòrum



Finalmente, o dia do evento principal, o arranque oficial do Primavera Sound 2011! Situado perto do mar, o recinto está muito bem pensado, pois a brisa marinha contraria a força dos 30 graus que se faziam sentir em Barcelona. A área do festival é enorme, com zonas de descanso, interessantes lojas de música e merchandising e nada mais nada menos que 11 (onze) palcos, dois de dimensão grande (o principal San Miguel e o secundário Llevant, o mais bonito mas muito longe de tudo o resto), um de dimensão média (Ray-Ban, pertinho do San Miguel e nunca concorrendo directamente com ele), quatro pequenos (Pitchfork, Jagermeister Vice, Adidas Originals e ATP, com propostas alternativas e bandas tão desconhecidas que nem os próprios integrantes sabem que tocam nelas) e três micro-palcos, nem por isso menos interessantes (Ray-Ban Unplugged, onde não cabem mais de 30 pessoas apertadinhas mas ainda assim já recebeu gente como Stephen Malkus numa edição anterior, Myspace Smint onde tocam os novos valores vencedores de concursos, e Minimúsica, o palco para os bebés e os papás dos bebés, educando novas gerações para a música desde o berço), e um Auditório de grandes dimensões mas lotação muito limitada. A oferta de alimentação é variada, com a melhor opção vegetariana de todos os festivais (sandes de seitan deliciosa). O Primavera não é de todo um festival amigo das pernas, entre os dois palcos mais afastados distam cerca de 2 quilómetros, e com tanta coisa boa a acontecer ao mesmo tempo, essa distância é feita imensas vezes (para o ano levo um pedómetro). Também não é um festival muito amigo das meninas xixizeiras, mas esse é um problema recorrente em todos. E a cerveja é San Miguel e custa 4 euros, o equivalente a sermos violados à bruta e depois termos de fazer conchinha e dizer coisas fofinhas ao violador. Não fossem as técnicas de contrabandear álcool lá para dentro e teria passado um festival muito menos regado.

Com tanto palco e banda, muitas pessoas tiveram experiências festivaleiras radicalmente distintas, e tenho apanhado pessoas na Internet que não viram nada do que eu vi. O meu Primavera Sound arrancou ao som dos Madrilenhos Toundra, praticantes de Post-Rock instrumental que proporcionou a quem se predispôs a vê-los uma bonita sessão de head-banging. Com uma formação clássica guitarra-baixo-bateria, a banda acolheu no palco 2 músicos convidados num par de temas mais complexos, uma violoncelista e um senhor de barba que tocou guitarra acústica. A banda é muito competente, com um dos guitarristas muito simpático e claramente muito feliz por ali estar, gritando palavras para o público, mesmo sem microfone. Destaque para a fabulosa Bizâncio, a encerrar uma actuação plenamente satisfatória.

Seguiram-se os Emeralds com a sua música ambiente minimalista, antítese do que acabara de presenciar. Às tantas, cansado que estava dos dias anteriores e face ao meu desinteresse pela sonoridade desta banda, senti literalmente a minha energia a ser sugada do meu corpo, e não tive outra opção senão procurar ser feliz no palco Ray-Ban Unplugged, onde escutei alguns temas acústicos dos Mexicanos El Mató a un Polícia Motorizado. Foram simpáticos, mas optei por me reservar para a actuação eléctrica deles, que ocorreria noutro palco, algumas horas mais tarde, e fui ver os Moon Duo. Muito bons, mas algo repetitivos, a fazerem lembrar os Joy Division tanto nas vocalizações como no ambiente criado pelas suas músicas.

Seguiram-se os Cults no cardápio, hype criado à sua volta com apenas um single na sua discografia à data do concerto (album de estreia entretanto saiu). O concerto do duo, com formação ampliada, foi divertido com músicas Indie Pop a fazer lembrar o cancioneiro Norte-Americano dos 50's e 60's. Foi um concerto alegre e muito lalala, e a audiência estava compostinha, com alguma gente que ali estava para, se e quando os Cults ficarem conhecidos, poderem gabar-se de os ter visto antes de lançarem o primeiro disco.

Os of Montreal iniciaram uma série de concertos imbatíveis até ao final do dia. Kevin Barnes, com a sua magnífica voz e folclórica troupe, tomou de assalto o palco principal para um show de luz, cor e magia. A temas mais antigos como Groenlandic Edit, Cato as a Pun e Suffer for Fashion juntaram-se novidades bem conseguidas como Coquet Coquette e Sex Karma. E além do delírio visual provocado pela Pop Psicadélica feita de raios de luz e pelas berrantes vestes envergadas pela banda, tivemos direito à primeira chuva de confettis do dia (e nem uma nuvem no céu), truques com balões, e roadies vestidos de luchadores Mexicanos, sempre com roupas cada vez mais espampanantes (até Wolverines com mamas apareceram), encenando divertidos combates de luta livre entre si durante as partes instrumentais.



Um grande espectáculo dos derradeiros sobreviventes do colectivo Elephant 6. Teria certamente sido ampliado se houvesse cerveja para beber. Ou mesmo água... Ou qualquer líquido! A principal falha do Primavera Sound deu pelo nome de PORTAL. Este sistema foi-nos vendido como uma tentativa de inovar e facilitar a compra de bebidas no festival, quando na verdade não passava de uma medida para evitar que os bartenders metessem dinheiro ao bolso. O utilizador do festival teria de registar-se online, carregar o seu Portal com dinheiro, e depois utilizar um cartão para comprar bebidas com o seu saldo. Parece bem mas é mal. Chegando ao dia do festival, muita gente não sabia da existência deste sistema, pelo que foi ver gente nas filas para criar uma conta e carregar o dinheiro no cartão, passando depois para a fila das bebidas, que obviamente se tornaram enormes. Nos bares, havia uma pessoa a receber os pedidos do cartão, e 3 pessoas de braços cruzados sem fazer nada, à espera de pedidos que não podiam atender porque o sistema demorava eternidades a processar qualquer bebida. Para ajudar à festa, o sistema implodiu em cerca de 90% dos bares, pelo que só se podia pedir bebidas em 2 ou 3, o resto do staff estava de braços cruzados a olhar para o ar. Resultado óbvio: o sistema do Portal foi dissolvido, o dinheiro reembolsado, e os bares funcionaram como sempre o fizeram, com dinheiro vivo, caótico mas muito mais prático. Os bartenders sem escrúpulos continuaram a meter ao bolso, e gastaram-se milhares em tecnologia, iPads e formacão para nada. Bem jogado, Primavera Sound!

Seguimos com uma Fanta de limão adquirida a custo (misturável com a sagrada e preciosa Vodka) para a actuação de Cameron Mesirow, a menina Californiana conhecida como Glasser. Praticante de uma sonoridade que se encaixa num estilo musical emergente chamado Witch House (ou brita do demónio, como eu gosto de lhe chamar), uma espécie de Electrónica Experimental com um ambiente carregado, este concerto foi uma surpresa a todos os níveis. Pela hipnotizante presença em palco, pela qualidade da voz, comparada à de Bjork e Fever Ray mas com muito de seu, pelo enorme potencial que carrega. Glasser tem uma carreira muito recente, apenas um EP, mas também tem uma margem de crescimento abismal e um potencial para se tornar no mínimo artista de culto e devoção. Assistimos ao nascimento de uma estrela.

A seguir a Glasser veio Nick Cave e a sua aventura Rockeira, os Grinderman, banda totalmente constituída por elementos dos Bad Seeds mas criada para fugir ao peso desse nome, como uma oportunidade de tocar unicamente temas frescos. Nunca tinha visto Nick Cave ao vivo, pelo que devo dizer que me surpreendeu. O Australiano já não é um senhor na flor da idade, ninguém na banda o é, mas a sua postura em palco envergonha qualquer Rockeiro experiente. Cada milímetro debaixo dos seus pés pertence-lhe. Dança, canta, interage com o público, sobe para os ombros dos fãs, olha-os nos olhos enquanto lhes grita palavras de ordem, celebra as suas canções junto dos que delas fazem bandeira. Este homem é a definição de espectáculo, e os músicos que o secundam transpiram carisma, especialmente o barbudo guitarrista com ar de assassino dos bosques. Foi um concerto que passou em revista os dois discos da banda, intenso e electrizante. Mais!

A caminho do concerto de Interpol, parámos um pouco na actuação eléctrica de El Mató a un Polícia Motorizado. Muito melhor do que em acústico, a banda pratica um Rock que nada fica a dever a gente como os Sonic Youth. Os músicos, talentosos, possuem garra e entrega, e o público presente estava muito empenhado em desfrutar o concerto, cantando as letras (em Castelhano) e aplaudindo fervorosamente. Gostei muito do que vi, e fiquei com pena por ter de abandonar este palco para outro concerto, sentimento que nos acompanha várias vezes ao longo dos dias, com tantos concertos interessantes ao mesmo tempo.

Após este concerto, separei-me do Cristiano, que viu os seguintes grupos sozinho, até nos reencontramos em Girl Talk.

"Foi no palco Ray-Ban que tive a oportunidade de assistir aos Suicide a apresentarem na íntegra o seu primeiro LP. Soaram corrosivos como há muitos anos atrás. Em contraste com a apresentação física do duo (já lá vão 34 anos da primeira edição), a vitalidade sonora desta obra ainda soa completamente actual. Os momentos electrizantes, acompanhados pela voz maquinal e madura do vocalista dos Suicide transportava-nos facilmente para um qualquer club Nova Iorquino fumarento e escuro, lutado por um público bastante agitado e já bem aditivado. Uma surpresa para os curiosos e a satisfação de milhares de fãs presentes, incluindo Nick Cave que se encontrava no meio do público acompanhado de um dos membros da locomotiva infernal Grinderman.



Sigo em direcção ao ATP para assistir aos Salem. A curiosidade era muita após um álbum deliciosamente assombroso. Quando cheguei, ainda me deparei com uma multidão no mesmo espaço que dançava e repetia a palavra "Sun" vezes sem conta, como já tinha acontecido na noite anterior no Poble Espanyol. Era o fim da actuação dos Caribou.

Os Salem acabariam por ser uma decepção. Apesar do instrumental bastante fiel ao disco de estreia, a voz delicada e ao mesmo tempo sombria da senhora era abafada pela electrónica do grupo, tornando o concerto demasiado frio e aborrecido. Pior ainda quando um dos membros dos Salem debitava um rap enfadonho e algo deslocado, afectando aquilo que poderia ter sido uma boa revelação no Primavera Sound.

Foi a desculpa perfeita para assistir ao início do concerto dos Suuns. A banda vagueia por uma electrónica repetitiva, simples e eficaz, à mistura com o que poderiam ser os Clinic se continuassem a fazer álbuns da qualidade do "Internal Wrangler". A voz um pouco arrastada e o rock "indie" e sintetizado dos Suuns vão conquistando faixa após faixa e deixando a sensação que são um colectivo para seguir com bastante atenção. Infelizmente o final da prestação teve de ser antecipado, Girl Talk estava prestes a começar."

Voltando atrás no tempo, até ao momento em que o Cristiano tomou um rumo diferente do meu. Interpol, portanto. Perdi-os o ano passado, por causa de um emprego que acabei também por perder mais tarde. Aproveitei a oportunidade como chance de me redimir. O concerto teve momentos muito bem conseguidos no regresso a temas do passado (incontornáveis como Evil, Not Even Jail, The Heinrich Maneuver, Slow Hands, Obstacle 1), mas no geral, tirando a Summer Well, os temas do disco mais recente não me entusiasmam profundamente, pelo que vi este concerto com curiosidade, mas sem me entregar. Bons tempos estes, em que posso afirmar que um concerto de Interpol foi mais ou menos, quando tenho base de comparação tão forte e variada! A vida é boa!


Seguiu-se a principal razão da minha viagem a Barcelona, a melhor banda ao vivo de todos os tempos, os fabulosos The Flaming Lips! Fabulosos! Fabulosos fabulosos fabulosos fabulosos! Imbatíveis! Depois do concerto do ano passado no Sudoeste, as expectativas estavam altas e não foram goradas. Menos aparato visual do que em 2010 (compreensível, visto que a banda voou de propósito dos Estados Unidos para este concerto), ainda assim deu para comer confettis durante um bom bocado, e delirar com os novos efeitos visuais, e com o público presente no palco, vestidos como personagens do Feiticeiro de Oz. Musicalmente, o alinhamento foi irrepreensível. De Embryonic só se ouviu Worm Mountain e See The Leaves, De Yoshimi escutámos Yoshimi Battles the Pink Robots pt 1, levámos com She Don't Use Jelly e The Yeah Yeah Yeah Song logo de início e ainda tivemos direito a uma nova canção, Is David Bowie Dying??. No final, o público ficou prestes a entrar em ebulição com What is the Light?, e, já no encore, foi impressionante ver as milhares de almas a saltar e a entoar a guitarra da explosiva Race For the Prize, obrigando a banda a regressar para mais um encore e tocar a música oficial da cidade de Oklahoma, Do you Realize??, para gáudio dos presentes, muitos deles em estado de choque. Dei por mim em histeria completa, rodeado de papelinhos, mais uma vez a mostrar todos os dentes da minha boca, saltando, fila da frente, perto do Kevin Barnes dos of Montreal, fora de mim, completo. Flaming Lips, já lá vão 2 concertos. Próximo passo, ir vê-los de propósito aos Estados Unidos.


Finalizando a noite, a romaria seguiu entoando continuamente Race For The Prize até chegar ao palco Llevant, onde Girl Talk já estava preparado para arrancar. O engenheiro biomédico Gregg Gillis está na fila da frente no que diz respeito ao mash-up, arte de cortar e colar músicas de outras pessoas para fazer uma totalmente nova. Girl Talk é tão bom no que faz que cada uma das suas músicas chega a ter samples de 40 outras tantas! A actuação meteu todos os corpos no recinto a dançar e a saltar, com o público a levar com Hip-Hop e depois Radiohead e depois Nirvana e depois Beck e depois Daft Punk e depois Devo e depois Prince e depois Kelly Clarkson e SINCE YOU'VE BEEN GOOOOONE I CAN BREATHE FOR THE FIIIRST TIME! 5 e meia da manhã, recinto cheio, Rei da festa, primeiro dia, festival ganho. All hail Girl Talk!






E a caminho do hostel, metro adentro, ainda se cantava a Race For The Prize...

2 comentários:

  1. excelente! e prometo não trocar mais os Flaming Lips por bandas emergentes... baaahhh... :(

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  2. Hahahah FLAMING LIPS! Pró ano vamos aos staters :)

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