8.6.11

Primavera Sound 2011, Parte 3 de 4

(A primeira foto que aparece neste post é de Flavia_FF, a segunda provém do site Polaco Popupmusic.pl.)

(Para melhor usufruto desta Post, deixo-vos uma compilação com as bandas que vi neste dia.)



27/5 - Parc Del Fòrum

Voltemos a falar do sistema do Portal. Esta inovadora forma de lixar a vida aos festivaleiros não serviu apenas para arrastar a compra de bebidas até ao limite da paciência. Não senhores. O sistema do Portal, pessoalmente, fez amor comigo de forma mais grave. Sufjan Stevens deu dois concertos no Auditório. Para poder ver os concertos de Sufjan, o festivaleiro tinha de se registar no Portal, depois carregar dinheiro no cartão, depois concorrer a 2 bilhetes para cada actuação. E depois, confiar na sorte, e ser um dos contemplados com um bilhete num sorteio. Perdi um dos concertos que mais antecipava na lotaria. Portal imbecil, estúpido, retrógrado, injusto. Os génios que inventaram o sistema do Portal bem que o podem enfiar no seu cagueiro colectivo. Bestas.

Mas não vale a pena chorar pelo leite derramado, sobretudo quando a restante oferta é tão sumarenta. Enquanto podia estar a ver Sufjan Stevens, tive de me contentar com Avi Buffalo, banda que vai buscar a inspiração de sua nomenclatura ao vocalista, Avigdor Zahner-Isenberg. Os Avi Buffalo andam pelo Indie Pop e pelos terrenos da Sunshine Pop, ou Twee. O búfalo principal, Avi, é bem novinho, mas a sua voz está bem definida, e a distorção entusiasma de bem executada, fazendo a banda balançar entre as guitarras mais rasgadas de Built to Spill e os momentos mais luminosos de The Shins. A ter em conta no futuro.

Seguiram-se The Fiery Furnaces, uma banda insana que toca uma música estranha, cheia de variações de ritmo, entre o Pop Psicadélico e a música experimental. As cantigas eram bastante dançantes mas as alterações chegavam de forma tão abrupta e inesperada que se tornou divertido ver a populaça a tentar curtir este concerto. Vi muito rim a ficar em pudim.

Next, M. Ward, respeitável singer-songwritter com uma extensa carteira de colaborações, sendo a mais celebrada o duo She & Him, com a actriz Zooey Deschannel, a Katy Perry do Indie. O singer-songwritter trouxe o seu mais recente Hold Time, meio Folk meio Alt-Country, e ainda tocou uma canção do seu Super-Grupo Monsters of Folk. Foi um concerto engraçado mas não muito empolgante, e como entretanto actuaria um dos chamarizes do Festival, partimos para outras paragens.

Estava um mar de gente no palco Llevant para ver a actuação dos The National, que brindaram o público com um bonito espectáculo, carregado de temas dos dois excelentes discos mais recentes, High Violet e The Boxer. Tivemos direito a tudo, desde Bloodbuzz Ohio a Fake Empire, de Squalor Victoria a Start a War, de Sorrow a Mistaken For Strangers. E, se a montanha não vai a Sufjan, Sufjan vem à montanha. O próprio Sufjan Stevens, o desejado, faz uma perninha em Afraid of Everyone e Terrible Love. All delighted people, raise their hands! Para a história deste concerto fica também o convite para dançar mais insólito que tive até à data, o de uma rapariga que me mandou duas marradas por trás e, ao ver que não demonstrara interesse, me cravou os dentes nas costas! Resultou, guardei as danças de Appartment Story e England para ela! Quem diz que o melhor do Mundo são as crianças claramente nunca foi a um festival.

Um dos meus grupos favoritos, os Belle & Sebastian, foram os senhores que se seguiram, com a sua Twee Pop carregada de muito Soul. Com disco novo no bolso, o concerto ainda assim passou em revista praticamente toda a carreira dos Escoceses. A novos clássicos instantâneos como I Didn't See It Coming e I Want the World To Stop juntaram-se favoritos pessoais tais como Le Pastie de la Bourgeoisie, Step Into My Office Baby, If You're Feeling Sinister, Sleep The Clock Around e Legal Man, com direito a um excerto de Common People dos Pulp, que actuariam naquele palco a seguir. Stuart Murdoch estava muito simpático e até deixou que uma garota da fila da frente lhe colocasse rimel nos olhos. Fiz mais amizades nesta actuação, um grupo de raparigas de Manchester, impressionadas com a minha Mastro Dance. Esta dança foi criada pelo meu amigo Mastro, e consiste em mover os braços sensualmente na latitude ao mesmo tempo que se imprime uma sensual dança longitudinal de pernas, e destina-se a atrair as fêmeas em redor do bailarino, sempre com taxas de sucesso avultadas, diga-se de passagem. Em abono da verdade, a Mastro Dance que fiz servia para mostrar aos meus amigos que onde eu estava havia espaço para ver o concerto, mas o efeito nas Inglesas foi devastador. Subitamente, ganhei companhia com quem dançar e cantar as letras todas durante o concerto, e nunca mais escutarei Judy and the Dream of Horses da mesma maneira. Melhorámos a nossa experiência B&S a 200%! Obrigado garotas de Manchester, cujos nomes nem me dei ao trabalho de ouvir!

A seguir, uma decisão horrível: Deerhunter ou Explosions in the Sky? Os Deerhunter vão a Paredes de Coura em Agosto, além do concerto deles ser no longínquo Palco Llevant, e os Explosions in the Sky eram já ali ao lado e o novo disco deles, Take Care, Take Care, Take Care, tem-me acompanhado no leitor de MP3, pelo que a decisão foi tomada facilmente, mas não de ânimo leve. É criminoso não se poder ver as duas bandas, mas com tanta coisa boa, sorte tive eu de não apanhar mais sobreposições de concertos. Os Explosions trouxeram o seu Post-Rock instrumental, num concerto intenso, hipnotizador e emocionante, daqueles em que as pessoas olham umas para as outras com sorrisos na cara como quem diz "estás a ver o mesmo que eu, não estás? Isto está mesmo a ser espectacular, não está?". Tocaram 6 canções, todas enormes, todas completas, todas arrebatadoras, num dos melhores concertos do Primavera Sound. Para os interessados, 1-The Only Moment We Were Alone, 2-Last Known Surroundings, 3-Catastrophe and the Cure, 4-Postcard From 1952, 5-The Birth and Death of the Day, 6-Let me Back In. Basta-me ouvir dois acordes de Explosions in The Sky para ser levado de volta para o palco Ray Ban. Mágico.

Sabendo que, não sendo especialmente fã dos Pulp, nunca faria justiça ao primeiro concerto da sua segunda vida, passo a palavra ao Cristiano, que esteve coladinho na fila da frente:



"O regresso dos Pulp era aguardado com grande expectativa pelo imenso público presente. Através de uma espécie de cortina transparente, frases e palavras de "provocação" eram projectadas e faziam crescer a ansiedade em todos. As letras garrafais em néon colorido com o nome da banda deram o mote para uma actuação praticamente perfeita. E os motivos eram muitos. Foram tocados os temas que todos queriam ouvir, uma playlist recheada de temas cantados por um público evidentemente rendido ao colectivo. Um Jarvis Cocker sempre com a sua habitual dose de charme, observações mundanas ou perguntas frequentes entre músicas, nas quais faz uma dedicatória especial, cantando "Common People" para os tantos "indignados" com a situação de violência vivida dias atrás na Plaza de Catalunya. A banda perfeita em palco (a genuína). Um público que vibrava em cada instante e todos obrigatoriamente padrinhos por uns minutos, de um pedido de casamento entre um casal na assistência. Momento ideal para se ouvir “Underwear” também esta de “Different Class” o álbum mais famoso destes senhores. Os Pulp estão de regresso e recomendam-se, porque a pop inteligente faz-se assim, cheia de pequenos ingredientes que misturados em dose certa com o público ideal, resulta num cozinhado extremamente saboroso, que apetece repetir vezes sem conta."

Perto do final da actuação de Pulp, resolvi investigar aleatoriamente um dos outros palcos. Estava a gostar, mas quando temos aquela sensação de que se calhar está a tocar uma banda se calhar mais adequada aos nossos gostos, mais vale partir. Acabei por ir parar à actuação dos Del Rey. E o que tenho a dizer é UAU! Conhecia zero sobre esta banda, nunca pensei que fossem Americanos, nem tampouco Post-Rock, nem que tivessem duas baterias siamesas no meio do palco, viradas uma para a outra! Nem que fosse tão bom! Do caralho, mesmo! Fãs de Mogwai e Explosions in the Sky, investigai!

Mas o melhor da noite foi o concerto de Battles. O conhecimento marginal que tinha sobre esta banda, agora reduzida a trio, nunca me prepararia para isto. Sabia que o baterista era dos Helmet, e só. Começamos o concerto sentados, e, aos poucos, um por um, demos por nós a dançar cada vez mais embrenhados com o resto do público. Ritmo muito estranho, Math-Rock com Post-Rock, experimental até ao ponto da dor, vocalizações pré-gravadas em vídeos surreais, desafio dos sentidos, guitarras em loop, ambiente desconfortável quando parados, ambiente libertador quando dançando sem restrições. Não existem palavras capazes de fazer justiça ao momento vivido pelos presentes. Quem não dançou neste concerto ainda hoje se deve estar a arrepender. Se não está, devia estar.


A encerrar a noite, tivemos os Carte Blanche. Já só apanhámos a cauda da actuação, ainda boquiabertos com os Battles, pelo que tratámos de aproveitar a dupla de DJs ao máximo e continuar a mover o esqueleto vigorosamente ao som de brita da boa! Momento final de paz e união com Ebony & Ivory de mestres Wonder e McCartney, e ala para casa que o dia já nasce e daqui a pouco há mais!

2 comentários:

  1. mais um post fantástico meu caro!!! gosto muito da tua escrita, faz-me regressar quase em carne e osso a esses dias tão intensos. muito bom man!!!! ;)

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