5.7.05

Livros: Morte em Pleno Verão

Yukio Mishima foi um brilhante escritor Japonês do século XX, nomeado por três vezes para o prémio Nobel da Literatura, apesar de ser mais conhecido pelo facto de se ter masturbado à conta de uma fotografia do Papa. Um perfeito caso de actos menores que ofuscam as obras maiores.



Mishima nasceu numa família descendente de Samurais, e foi educado na primeira infância pela sua avó, que o forçava a massajá-la todos os dias e o obrigava a brincar às bonecas com as primas. Com 12 anos, voltou a viver com os pais. O seu progenitor era um homem austero, simpatizante dos ideiais nazis, e sempre procurou incutir um sentido militar no seu filho. Esta educação desiquilibrada fez de Yukio Mishima um homem à procura do seu lugar no mundo, um eterno caso de homosexualidade fechada no armário.

A sua primeira grande obra foi mesmo a sua autobiografia, que o tornou uma celebridade no seu País com apenas 24 anos.

O seu espólio literário conta com 40 romances, 18 peças de teatro tradicional Japonês (Kabuki), 20 livros de Histórias curtas e mais de 20 ensaios.

Revelando uma doentia obsessão pela morte, Yukio praticava culturismo e era mestre na arte espadachim dos Samurai, como maneira de adiar a velhiçe. Gostava também de se auto-fotografar, simulando suicídio.



Estas fotografias eram encaradas como treino para a sua morte, que viria a acontecer à boa maneira Samurai, abrindo o seu estômago ao mesmo tempo que era decapitado por um colaborador.

Os seus livros abordam quase sistemáticamente os temas do amor e da morte. Gostaria de sugerir o Morte em Pleno Verão, por ser um dos seus livros que mais facilmente se encontra nas livrarias nacionais.

Morte em Pleno Verão consiste em três histórias curtas, todas relacionadas com a morte, acidental, auto-inflingida e espiritual. A primeira história centra-se na dor de uma mulher que acabara de perder os seus filhos, afogados numa estância balnear. A sua cunhada, ao ver os cadáveres dos sobrinhos, sucumbe a um ataque cardíaco. Toda esta história acompanha o processo de cura da mulher, e como os sentimentos se desvanecem. A segunda história fala de um antigo Samurai desonrado, que vê o seppuku como única opção. A terceira história está relacionada com um homem que encontra uma antiga geisha de quem tinha sido intimo.

Todos estes contos são escritos em tom sereno, sem uma ponta de ironia, abordando os problemas existênciais das personagens de uma forma belíssima. Destaco a segunda história, uma verdadeira obra prima. Mishima consegue transformar a brutalidade de um suicídio assistido em algo muito belo e extremamente erótico. Sente-se ternura nos gestos da esposa do Samurai, enquanto o auxilia a abrir o estômago com um punhal.

Morte em Pleno Verão é das poucas obras de Mishima traduzidas para Português, portanto, qualquer boa livraria possui este livro. É barato, lê-se muito bem e é lindíssimo.

2 comentários:

  1. epá, e eu que achava que mais ninguém tinha lido isto.
    eu tenho uma edição de contos do mishima mas contém mais que esses três contos. chama-se 'morte no verão' e é da editorial Estampa.
    bem, cá para mim, acho que as coisas mais belas que já li estão espalhadas por esse livro. dos três contos que referes também me agrada particularmente o segundo. é impressionantemente doloroso, erótico e libertador ao mesmo tempo.

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  2. Comprei num sebo hoje, comecei a ler. Estou gostando.

    FadaSafada.blogspot.com

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