4.2.10

Filmes: Thriller - A Cruel Picture

Um bom cinéfilo que aprecie remexer nos caixotes do lixo da 7ª Arte deverá possuir sempre na sua posse uma lista com todos os géneros de Série-B que terá sem falta de ver na vida para poder atingir o estado de Nirvana espiritual que lhe permita repousar enfim a sua alma atormentada, o cinturão negro em Filmes Xunga. E nessa lista, além dos clichés como filmes de zombies e de monstros gigantes e filmografias de Ed Wood e Russ Meyer, é absolutamente obrigatório visionar um filme onde entre Christina Lindberg, uma das actrizes mais bonitas da sua geração e Diva do cinema de Série B.

(Christina Lindberg. Onze Suecos barbudos não podem estar errados!)


Lindberg, uma interessante modelo de nús Sueca, protagonizou algumas películas que se encaixam no género erótico, em especial na década de 1970, quando os seus dotes "artísticos" estavam no pico. Entre o seu historial cinematográfico, um filme ganha destaque dos demais, por ter servido como fonte de inspiração para a saga Kill Bill de Quentin Tarantino. Falo do épico-chave do sub-género Violação-e-Vingança Thriller - A Cruel Picture, AKA They Call Her One Eye, AKA Hooker's Revenge, AKA Thriller - en grym film, de 1974.



Thriller - A Cruel Picture, falsamente publicitado como o primeiro filme a ser banido na Suécia, é uma obra de culto envolta em controvérsia, de tal forma que existem pelo menos 3 versões distintas: uma censurada de 104 minutos para a Europa, uma fortemente censurada para o mercado Americano de 82 minutos, e a versão sem cortes de 107 minutos. Eu, como não alinho em censuras, propus-me a ver a versão Uncut, tal e qual como o realizador a idealizou. 107 minutos. Versão Original, em Sueco... Que o meu acto de coragem fique para sempre registado!

Thriller narra a história da pequena Madeleine, uma jovem simpática, porém traumatizada por uma violação em terna idade que a deixa muda (decisão inteligente do realizador, escutei a voz de Lindberg em trailers de outros filmes e tenho a dizer que a mesma é H-O-R-R-I-V-E-L), que trabalha na leitaria do pai. Num dos seus parcos dias de folga, é abordada por um estranho anónimo (chamemos-lhe Bill) que a impressiona com o seu carro e a leva primeiro a jantar fora, depois a tomar um copo em sua casa. Claro está, Bill revela-se um monstro raptor que vicia a pobre Madeleine em heroína e a obriga a prostituir-se contra a sua vontade. Quando a jovem naturalmente se revolta contra o seu captor, Bill retira-lhe cruelmente um dos olhos.

(Fait-diver: Para a cena da profanação do globo ocular, foi utilizado um cadáver verdadeiro. Go Sweden!)


Madeleine, viciada em heroína e cega de um olho, não tem outro remédio senão aceitar o seu destino e prostituir-se. Porém, o ódio por Bill nunca para de crescer, explodindo quando a pequena descobre do que seus pais se suicidaram com o desgosto e que a sua colega de profissão fora brutalmente assassinada por um cliente. Nesta altura, Madeleine decide finalmente vingar-se e utiliza o dinheiro que colocara de parte para pagar treinos de defesa militar e artes marciais, aulas de tiro e lições de condução, de carros de Rally por alguma razão.

(Karate a muerte en Göteborg. ¡JÖCANTARØØØØØ!)


E daqui para a frente, temos o deleite de acompanhar a vingança de Madeleine, inicialmente contra os seus clientes, com o auxílio da sua caçadeira de canos serrados, depois com meios bem mais imaginativos contra o malvado Bill. Para que nada escape ao espectador (e para queimar fita), as execuções são todas feitas eeeeeeeeeeem suuuuuuuuuuuppppppppeeeeeeeeeeerrrrrrrr câmaaaaaaaaaaraaaaaaaaa leeeeeeeeeeennnnntaaaaaaaaaaaaaaaaaaa...

(Execução em tempo real)


Thriller - A Cruel Picture, é um filme muito bem conseguido. Obviamente, está pejado de falhas. Passava-se bem sem os grandes planos nas cenas de penetração (passava-se sem as cenas de penetração, ponto final), as explosões automobilísticas são tão mal feitas como dispensáveis e as câmaras lentas nas execuções são de uma lentidão tal que dá para ir à casa de banho fazer um xixi e voltar (literalmente). Porém, são os pormenores que enriquecem o filme. A pala utilizada por Christina Lindberg passa de cor de rosa nas cenas de prostituição a vermelha na cena de fúria a negra nas cenas de vingança, um toque muito imaginativo. As maldades que Bill e seus clientes fazem não só à actriz principal como à sua colega de profissão e aos pais da pobre coitada são tão graves que é impossível deixar de sentir satisfação quando Madeleine se vinga e a actriz fala pelos cotovelos sem precisar de abrir a boca, só com a sua expressão facial. Thriller - A Cruel Picture, não acusa nem os anos que traz nem a sua duração, e constitui um dos melhores filmes de culto que analisei ao longo destes quase 5 anos de Contraculturalmente.

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